Conheça Celestino, o artista ouro-pretano que tem a música dentro de si

Texto – João Paulo Silva/Jornal Voz Ativa

Como é que se aprende a gostar de música, a arte das musas, de acordo com a origem grega da palavra? Para muitos o gostar se confunde rapidamente com obrigação. Geralmente é estimulada pelos pais na primeira infância que veem nas crianças o próprio sonho transferido. E assim nascem muitos artistas, dotados de técnicas e ritmos, mas sem coração. Assim como um diamante, que é exaustivamente lapidado, chegam a ser uma joia reluzente. Mas com o tempo perdem a força bruta, o entusiasmo e até a ‘vocação’.

Para outros o gostar começa pelo ouvir. E eles ouvem o chamado que vibra dentro deles mesmos. Dotados de “ouvidos absolutos”, fenômeno auditivo raro que consiste na habilidade de uma pessoa identificar ou recriar uma nota musical, mesmo sem ter um tom de referência, esses artistas recriam em fúria e amor o encanto dos sons e dos ritmos.

Há dois tipos de músicos: alguns raríssimos, como o músico ouro-pretano Celestino, já nascem com a música dentro deles. Ele e o violão são uma coisa só. O violão é uma extensão de seu corpo, como disse o escritor mineiro “Ruben Alves”. E os dedos passeiam furiosos pelas cordas. Sangram, suam, quase perdem as digitais. São dos calos que brotam as notas. Aliás, Celestino quando toca, não pensa nas notas. A partitura já mora dentro dele. As cordas vibram e plangem num suspiro de paixão, como poetas que escrevem seus versos de improviso, em guardanapos de papel.

Há em Celestino uma ancestralidade primitiva e gutural, provavelmente herdada de seus antepassados ouro-pretanos que viam na música o refúgio para uma outra realidade, bem mais poética e suave.

Celestino tem muitos anos de estrada, mas há 14 anos vive exclusivamente da música. Autodidata, nunca estudou teoria musical ou fez aula de canto. Foi na adolescência que assumiu de vez o amor pelo violão.  Mas o sonho de viver da arte remonta a infância.

A primeira banda, chamada ‘Inconfidência’, surgiu nos anos 2000, mas durou pouco, apenas 6 meses. Assim, Celestino continuou seu caminho de ‘trovador solitário’ pelas ladeiras da antiga Vila Rica. Aliás, não há um só bar, boteco ou república em que o artista ainda não tenha se apresentado.

Talvez a sensibilidade de celestino com as notas se confunda com outro dom, exercido até 2006, na Chapada de Ouro Preto. Engana-se completamente quem pensa que a jardinagem consista apenas no cultivo e cuidado com as plantas.

A prática (será arte?) da jardinagem, é antes de tudo o cuidado com o nosso mundo interior. Nessa orgia de cores, sons, fluidos e aromas, os sentidos se aguçam e a percepção capta sutilezas. Celestino soube trazer para a música a orquestra sinestésica dos jardins. Tal qual um mutante, criou o seu próprio ‘Jardim Elétrico’.

Celestino não gosta de rótulos e muito menos de preconceito musical. Mas tem sua própria identidade. É no pop rock e na MPB que sua voz grave se encontra e se expressa com maior emoção. “Eu sou mineiro “ e “Subindo e descendo a ladeira”, de sua autoria, refletem o amor por Ouro Preto e Minas Gerais.

Se alguém perguntar por Celestino, ‘diga que ele foi por aí, levando o violão debaixo do braço’. Em tempos de hiperconexão, de músicas lançadas em serviços de streaming quase que instantaneamente, o músico tenta brotar neste chão duro feito pedra que é a indústria fonográfica. Junto a outros artistas abundantes em Ouro Preto, segue em frente, nos bailes da vida, levando muito à sério a lição de Bituca: “todo artista tem de ir aonde o povo está”.

Celestino está disponível para apresentações em Ouro Preto e região, com repertório formado principalmente por canções da MPB e pop rock nacional com o formato voz e violão. O seu show tem a duração média de três horas e equipamento próprio para um público de até 80 pessoas em ambientes fechados. O músico se apresenta sozinho, mas caso haja interesse, pode se apresentar também com banda, desde que a casa disponibilize equipamento de som.

Para mais informações ligue (31) 98712-9867