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Coisas do Cotidiano: Leia “Decifra-me ou te Devoro”, por Antoniomar Lima

Em “Coisas do Cotidiano”, o escritor, poeta e graduado em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Antoniomar Lima, visa percorrer “esse espaço fronteiriço, entre a grandeza da história e a leveza atribuída à vida cotidiana.”

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Por Antoniomar Lima Publicado em 13/02/2025, 16:35 - Atualizado em 13/02/2025, 16:35
Antoniomar Lima é graduado em Letras (licenciatura em Língua Portuguesa) pela UFOP e já publicou dois livros de poesias. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Quero compartilhar com os leitores uma curiosidade quando me disponho a escrever as crônicas para o presente periódico ouro-pretano.

Tenho seis dias – assim me comprometi comigo mesmo – para escrever uma crônica.

Durante os seis dias, acreditem, não consigo traçar uma linha, mesmo com miríades de assuntos que se apresentam ininterruptamente para nossa avaliação.

Na verdade, a crônica só sai no dia que resolvo enviar para a redação, antes por mais esforços que eu imprima, ela não vem à tona. 

Desconfio que ela fique aguardando o momento certo, como nesse instante que paulatinamente faço uso do notebook e que praticamente faço uma metalinguagem. Isto é, o escrito falando do próprio escrito.

Em outros tempos os cronistas escreviam a mão, pacientemente, enchiam cadernos e cadernos e, de certo modo, tal subterfúgio não deixava de ser um exercício para o aperfeiçoamento não só da escrita em si, mas também da própria grafia. 

Em 2018, tive a oportunidade de conhecer ao vivo e a cores, os manuscritos originais de Machado de Assis (o contrato de seu primeiro livro "Ressurreição"), Carlos Drummond de Andrade (Carta falando do livro de "Eu e Outras Poesias" de Augusto dos Anjos),  e Carolina Maria de Jesus, autora de "Quarto de Despejos", durante a visita técnica como aluno de letras da UFOP que fizemos a FBN-Fundação da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, no bairro Castelo.

Os autores modernos, talvez, não terão o privilégio de deixar para a posteridade seus trabalhos manuscritos, pois a ferramenta que usa é totalmente diferente dos de outrora. Basta, simplesmente, teclar o computador. 

Na verdade, só seu pensamento, nada mais que isso, ficará para avaliação. Os amantes de literatura não terão o prazer de ver a sua letra em punho registrada em algum caderno. 

Talvez, encontrem um autógrafo. Coisa ínfima de sua intimidade com as coisas do espírito. 

Enfim, precisamos entender que nenhum tempo é igual ao outro. A vida é feita de gerações e transições. Tudo muda no mundo como sabemos. 

Apesar de fazer uso do notebook, não simpatizo com os PDF 'S. Não digo que não leio algum, mas tem que ser curto. 

Prefiro manusear o papel, sentir o contato com a obra. Ademais, dessa forma não preciso me preocupar com a falta de energia para continuar a leitura que funciona até com luz de vela.  

Os manuscritos têm um ar solene, um mistério que envolve autor e obra; algo talvez indecifrável que desperta nas pessoas algum encantamento ou coisa do gênero; algo que verdadeiramente jamais iremos saber; algo como que um enigma de uma esfinge que olha e nos diz: "decifra-me ou te devoro!"

Laudate Dominum

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