A BR-040, artéria rodoviária inaugurada em 1861 por Dom Pedro II como Estrada União e Indústria, palco do trânsito dos barões do café e mercadores entre o Rio de Janeiro e a então refúgio imperial de Petrópolis, terá um novo capítulo em sua história. Nesta quarta-feira (30/4), o Ministério dos Transportes leiloa o trecho da BR-040/495/MG/RJ que liga o Rio de Janeiro a Juiz de Fora (MG), marcando um investimento de R$ 8,84 bilhões para modernizar a mais antiga rodovia pavimentada do país.
Inicialmente pavimentado em 1928 no trecho Rio-Petrópolis por ordem do presidente Washington Luís, o corredor viário se expandiu até Juiz de Fora e, durante o governo de Juscelino Kubitschek, consolidou sua importância como elo crucial com a recém-inaugurada Brasília.
Para a professora de literatura Ellen Drumond, residente em Petrópolis, a BR-040 transcende a mera infraestrutura. “Falar da BR-040 é falar de história, é uma estrada imperial. Mas é também falar de turismo, de trabalho, de educação, da ligação com o Rio de Janeiro, com Minas Gerais. Ela atravessa nossas vidas”, afirma, ecoando o sentimento de muitos que dependem da rodovia. “Conheço bem essa estrada, sempre foi meu caminho. A BR-040 precisa ser mais segura e eficiente”, completa.
A necessidade de modernização é latente, conforme aponta Luiz Césio Caetano, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). “É uma estrada histórica e estratégica, mas que não acompanhou a evolução da sociedade e da indústria. Há 100 anos, os caminhões transportavam até seis toneladas. Hoje, circulam veículos com até 70 toneladas, mas a estrada é praticamente a mesma”, explica, ilustrando o gargalo logístico imposto pela defasagem da via.
O traçado original, uma inovação para o século XIX com sua técnica de macadamização, permitia modestos 20 km/h, um feito para a época. Contudo, essa velocidade se tornou um desafio no presente, especialmente na íngreme subida da Serra de Petrópolis, um dos principais pontos de lentidão da BR-040/495/MG/RJ, impactando moradores, turistas e a dinâmica de setores produtivos como a indústria e a agricultura.
A proprietária do tradicional hotel Solar do Império, Jane Assis, detalha como as condições da estrada afetam o turismo. “Recebemos ligações assim com frequência. Já temos contatos de bombeiros e canais de informação para orientar os hóspedes. O turismo depende diretamente da BR-040”, ressalta, evidenciando a vulnerabilidade do setor à ineficiência da rodovia.
O projeto de concessão, com destaque para a construção de três túneis, visa solucionar esses gargalos. O Ministério dos Transportes propõe um modelo que busca equilibrar os investimentos com mecanismos de controle rigorosos, estabelecendo metas e gatilhos contratuais precisos.
A BR-040 pulsa no coração da indústria nacional, conectando Minas Gerais e Rio de Janeiro, dois dos maiores polos econômicos do país, responsáveis por cerca de 20% do PIB nacional. A rodovia interliga importantes centros industriais como Juiz de Fora, Três Rios, Duque de Caxias, Campo Grande e Santa Cruz.
Em Petrópolis, a unidade da GE Aerospace, maior oficina de motores de aviação do mundo, ilustra a dependência da rodovia. “Cerca de 95% do nosso volume vem do exterior. Recebemos os motores por caminhão, até Petrópolis. A previsão para este ano é de 600 revisões. Todos os dias, duas turbinas sobem e duas descem a serra em direção ao Rio de Janeiro”, detalha o diretor-presidente da empresa, Julio Talon.
A modernização da BR-040 é vista por Luiz Césio Caetano, da Firjan, como um catalisador para o desenvolvimento regional. “A rodovia suporta mais de 20 mil veículos por dia. É o principal corredor de importação e exportação entre o Sudeste e o Centro-Oeste. São bilhões de reais em mercadorias que hoje enfrentam gargalos logísticos. A concessão representa uma chance de mudar esse cenário e impulsionar o desenvolvimento”, celebra, depositando esperança no leilão que busca revitalizar essa histórica e crucial via de ligação.
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