Ave rara volta a habitar Mata Atlântica após 50 anos de extinção em parque mineiro

Espécie essencial para a dispersão de sementes, o mutum-do-bico-vermelho tem papel vital na regeneração da floresta.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 20/05/2025, 14:51 - Atualizado em 20/05/2025, 14:51
Foto — O mutum-do-bico-vermelho. Crédito — Gabriel Ávila. Siga no Google News

Após 50 anos ausente da região, o mutum-do-bico-vermelho (Crax blumenbachii) voltou a habitar a maior área contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais. A reintrodução da espécie no Parque Estadual do Rio Doce é fruto do projeto “De Volta ao Lar”, desenvolvido pela Associação de Amigos do Parque (DuPERD) em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF). A iniciativa alia pesquisa científica, educação ambiental e engajamento comunitário para restaurar essa ave emblemática da fauna brasileira.

“O objetivo principal é reintegrar o mutum ao ecossistema e à cultura das comunidades locais”, explica Gabriel Ávila, analista ambiental do IEF e coordenador do projeto. Para isso, a ação envolve monitoramento de campo e atividades educativas em escolas e áreas rurais, incentivando a conexão entre sociedade e biodiversidade.

A história da reintrodução do mutum remonta aos anos 1990, quando a Fundação Crax iniciou a reprodução em cativeiro e a soltura de aves ameaçadas. Com apoio da empresa Cenibra, mais de 200 indivíduos foram liberados na natureza a partir da Reserva Particular Fazenda Macedônia, em Ipaba (MG).

Em 2023, o projeto ganhou novo fôlego ao focar na reintrodução do mutum no Parque Estadual do Rio Doce. Cerca de 30 aves foram soltas na região da Ponte Perdida, escolhida por suas condições ambientais favoráveis. “O mutum é um plantador de florestas. Ao trazê-lo de volta, fortalecemos todo o ecossistema”, destaca o biólogo e consultor do projeto, Luiz Eduardo Reis.

Foto — O mutum-do-bico-vermelho. Crédito — Gabriel Ávila.

Espécie essencial para a dispersão de sementes, o mutum-do-bico-vermelho tem papel vital na regeneração da floresta. Os primeiros resultados do monitoramento indicam adaptação bem-sucedida: aves nascidas na natureza já foram observadas a mais de 20 quilômetros do local de soltura. Além disso, um casal com filhote foi avistado, sinalizando que a espécie está se reproduzindo no ambiente natural.

Outro avanço significativo é o crescente engajamento da população local, que tem relatado avistamentos da ave em áreas verdes próximas ao parque. “Isso mostra que o impacto do projeto vai além do meio ambiente, alcançando também a dimensão social”, ressalta Reis.

A iniciativa conta com financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) até 2025 e reúne uma rede de parceiros, incluindo a Cenibra, a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) e instituições de ensino da região. Além da soltura e do monitoramento das aves, o projeto investe em educação ambiental por meio de oficinas para jovens e produtores rurais, além da criação de materiais didáticos, como gibis sobre a fauna local.

Com 36 mil hectares de floresta preservada, o Parque Estadual do Rio Doce — criado em 1944 — é um dos últimos refúgios da biodiversidade da Mata Atlântica em Minas Gerais. O retorno do mutum-do-bico-vermelho representa não só a recuperação de uma espécie ameaçada, mas também a importância da colaboração entre ciência, políticas públicas e comunidades na restauração do equilíbrio ecológico.

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