Artista mineira nascida na cidade de Betim, na região metropolitana de BH, e residente no município de Cláudio, no Centro-Oeste de Minas Gerais, Dri Sant’ana pintou dois murais em Luanda, capital da Angola, na costa ocidental da África. Os trabalhos foram feitos em parceria com os artistas locais Oksana Dias e Zbi e são frutos da residência artística “Angola Air: Encontros e Consonâncias com a Herança Afro Mineira”, aprovado no Edital Residência Artística da Lei Estadual Paulo Gustavo Edital 07/2023 - 256372.
“Durante a residência, eu realizei esses dois murais em parceria com artistas de Luanda, fiz duas pinturas em tela e uma performance, que foi exibida durante duas rodas de conversa sobre o projeto. Outros trabalhos inspirados na residência estão sendo realizados e serão expostos futuramente”, narra a artista visual, que, neste momento, além de materializar em novas obras toda a carga de conhecimento adquirida no período de 30 dias, está digerindo tudo o que aconteceu em sua existência em setembro de 2024. “Essa residência foi uma das coisas mais importantes que aconteceu na minha vida pessoal e profissional. Atravessar o Atlântico foi um ato de buscar minha ancestralidade. Impossível não me afetar por um movimento como esse. Aprendi e continuo aprendendo após a experiência”, detalha ela, que é ilustradora, muralista e educadora.
Durante a residência, Dri pesquisou e investigou a própria ancestralidade, as histórias que relacionam o Congado mineiro a Angola, assim como as ligações da religiosidade afro-brasileira com o país africano — motes históricos e sociais do povo negro em diáspora. E esse conteúdo experienciado pela artista está sendo desdobrado em estudos, performance, pinturas e retratos, tendo como base símbolos Adinkras. “Os Adinkras são símbolos, e cada um possui um significado e uma mensagem. É uma tradição original do povo Ashanti, da África Ocidental, mas que pode ser encontrada em muitos lugares pelo mundo com o processo de diáspora africana”, explica.
Formada em Artes Visuais e com Mestrado em Educação pela UFMG, Dri vem pesquisando a herança africana em Minas Gerais desde os tempos da graduação. No entanto, como uma certa “coincidência do destino”, a herança afro-mineira sempre esteve presente no seu dia-a-dia. “Tradicionalmente, a minha cidade de origem, Betim, tem em sua história elementos importantes que contam a história do Congado na formação da cidade. Meu bairro de nascimento tem o nome Angola, e a principal rua do bairro é a Rua do Rosário, que se inicia onde há a igreja do Rosário, que historicamente é conhecida como a igreja que as pessoas negras construíram para frequentar. Esses fatos são marcas da presença afro-diaspórica na tradição da cidade”, relata a artista, que, desde 2019, vem realizando pinturas inspiradas no Reinado.
Além dessa infância e parte da juventude no bairro Angola, próximo a Igreja do Rosário, em Betim, Dri reside, atualmente, em Cláudio, município reconhecido pelas Guardas de Congado, um dos objetos de pesquisa da artista durante a residência. “O foco da pesquisa foi as heranças africanas em Minas Gerais. Aqui em Cláudio temos a Festa de Reinado, e por participar de uma dessas guardas, eu me interessei em aprofundar sobre nossa ancestralidade africana em Angola. Eu participo do Terno de Congo de Nossa Senhora do Rosário do Corumbá, conhecida na cidade como Terno do Capitão Zé Côco. Há cerca de quinze guardas de Reinado em Cláudio, que se diferenciam de acordo com os instrumentos, indumentárias e tradições, por exemplo: Moçambique, Congo, Catupé, Vilão e Lavoura”, explica ela.
No seu retorno ao Brasil, Dri coordenou uma roda de conversa apresentando as tradições brasileiras que têm origens africanas e ainda hoje são influenciadas por Angola. “Ao chegar aqui, eu também realizei uma apresentação em Cláudio. Foi uma forma de mostrar como a nossa cultura é importante e tem origens que não podemos perder de vista. Como diz a sabedoria do Adinkra Sankofa: ‘Aprender com o passado para construir o presente e o futuro’.”, finaliza. Atualmente a artista prepara uma exposição individual onde estarão os trabalhos realizados em Angola e demais pesquisas, ainda sem data de abertura.
DRI SANT’ANA. Além da residência, Dri assina diversos trabalhos inspirados no Reinado. Ao lado de Saulo Pico, ela fez alguns murais na cidade de Cláudio. Esses murais homenageiam o Terno Sabarazinho, o Terno de Moçambique do Jacarandá e o Terno da Lavoura. O quarto e último mural tem 20 metros quadrados e é uma homenagem à juventude que participa da tradição do Reinado, na comunidade do Corumbá, distrito de Cláudio.
ANGOLA AIR. Angola Air é um programa de residências artísticas que recebe artistas visuais de diversos países que se interessam em pesquisar e conhecer a arte e cultura de Angola. Acontece em Luanda, capital da Angola, sob a produção do curador Dominick Maia Tanner. O projeto já recebeu artistas brasileiros como Nô Martins, Josafá Neves, Pedro Neves, Larissa de Souza, André Vargas, entre outros.
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