A primeira santa nascida no Brasil: saiba mais sobre as comemorações ao dia de ‘Santa Dulce dos Pobres’

Conhecida como o "Anjo bom da Bahia", Irmã Dulce levou uma vida simples e de caridade ao próximo.

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Por João Paulo Silva Publicado em 13/08/2020, 15:37 - Atualizado em 13/08/2020, 17:41
Foto – Imagem de Santa Dulce dos Pobres no Santuário do “Anjo Bom da Bahia”. Crédito – Reprodução/Facebook/Obras Sociais Irmã Dulce. Siga no Google News

Nesta quinta-feira, 13 de agosto de 2020, é comemorado o dia litúrgico de Santa Dulce dos Pobres. Para marcar a importante data para os católicos, foi celebrada uma missa à primeira santa genuinamente brasileira, canonizada em outubro de 2019.

Presidida pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, cardeal Dom Sergio da Rocha, a celebração aconteceu às 9h no Santuário do "Anjo Bom da Bahia", localizado no bairro de Roma, em Salvador, com transmissão pelas redes sociais do Santuário.

Foto - Missa celebrada à Santa Dulce dos Pobres nesta quinta-feira (13/08). Crédito - Reprodução - Facebook/Obras Sociais Irmã Dulce.

No cargo há 2 meses, Dom Sergio da Rocha falou sobre o sentimento ao celebrar a sobre 1ª missa à Santa Dulce.

 "É, para mim, uma graça de Deus e uma grande alegria que compartilho não somente com o povo baiano, mas com todo o Brasil. Na verdade, após a canonização, a festa de Santa Dulce pode ser celebrada no mundo inteiro. "Ao chegar em Salvador fui logo visitar o Santuário Santa Dulce dos Pobres para rezar, pedindo a sua intercessão para o meu ministério de Arcebispo, para Salvador e para toda a Bahia. A minha primeira visita foi a ela", revelou Dom Sérgio.

Saiba mais sobre a vida de Santa Dulce dos Pobres

Primeiros passos

Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, ao nascer em 26 de maio de 1914, em Salvador, Irmã Dulce recebeu o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. O bebê veio ao mundo na Rua São José de Baixo, 36, no bairro do Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo. A menina Maria Rita foi uma criança cheia de alegria, adorava brincar de boneca, empinar arraia e tinha especial predileção pelo futebol - era torcedora do Esporte Clube Ypiranga, time formado pela classe trabalhadora e os excluídos sociais.

Aos sete anos, em 1921, perde sua mãe Dulce, que tinha apenas 26 anos. No ano seguinte, junto com seus irmãos Augusto e Dulce (a querida Dulcinha), faz a primeira comunhão na Igreja de Santo Antônio Além do Carmo.

A vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha. Aos 13 anos, graças a seu destemor e senso de justiça, traços marcantes revelados quando ainda era muito novinha, Irmã Dulce passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a residência da família – na Rua da Independência, 61, no bairro de Nazaré, num centro de atendimento. A casa ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, tal o número de carentes que se aglomeravam a sua porta. Também é nessa época que ela manifesta pela primeira vez, após visitar com uma tia áreas onde habitavam pessoas pobres, o desejo de se dedicar à vida religiosa.

Em 08 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entra então para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Em 13 de agosto de 1933, recebe o hábito de freira das Irmãs Missionárias e adota, em homenagem a sua mãe, o nome de Irmã Dulce.

A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação, no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas, o seu pensamento estava voltado mesmo para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começa a atender também os operários que eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia. Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Amor e serviço aos pobres e doentes

Em 1939, Irmã Dulce invade cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Expulsa do lugar, ela peregrina durante uma década, levando os seus doentes por vários locais da cidade. Por fim, em 1949, Irmã Dulce ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes. A iniciativa deu origem à tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a freira construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro. Já em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e no ano seguinte é inaugurado o Albergue Santo Antônio.

Exemplo de caridade, Dulce teve uma vida simples na Bahia. Crédito - Reprodução - Facebook/Obras Sociais Irmã Dulce.

O incentivo para construir a sua obra, Irmã Dulce teve do povo baiano, de brasileiros de diversos estados e de personalidades internacionais. Em 1988, ela foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouvia do Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.

Irmã Dulce e o Papa João Paulo II voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar a religiosa baiana, cuja saúde já se encontrava bastante debilitada em função de problemas respiratórios. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do Anjo Bom do Brasil.

Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, pouco tempo antes de completar 78 anos. No velório, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, políticos, empresários, artistas, se misturavam a dor de milhares de pessoas simples e anônimas. A fragilidade com que viveu os últimos 30 anos da sua vida – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida - não impediu que ela construísse e mantivesse uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, uma verdadeira obra de amor aos pobres e doentes.

Canonização

A causa da Canonização de Irmã Dulce foi iniciada em janeiro de 2000. Com o início do processo, seus restos mortais, que desde 1992 (ano de seu falecimento) estavam na Igreja da Conceição da Praia, foram então transferidos para a Capela do Convento Santo Antônio, na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), também em Salvador. A validação jurídica do virtual milagre presente no processo foi emitida pela Santa Sé em junho de 2003. Já em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heroicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente a concessão do título de Venerável à freira baiana. O título foi o reconhecimento de que Irmã Dulce viveu, em grau heroico, as virtudes cristãs da Fé, Esperança e Caridade.

O voto favorável e unânime da Congregação para a Causa dos Santos, que levou ao título de Venerável, havia sido concedido em 2008 e anunciado em janeiro de 2009 pelo colégio de cardeais, bispos e teólogos após a análise da Positio – documento canônico misto de relato biográfico e das virtudes e resumo dos testemunhos do processo. Os teólogos que estudaram a vida e as obras de Irmã Dulce a definiram como a “Madre Teresa do Brasil”, pelas semelhanças do seu testemunho cristão com a Beata de Calcutá, sendo “um conforto para os pobres e um exame de consciência para os ricos”.

No dia 9 de junho de 2010 é realizada a exumação e transferência das relíquias (termo utilizado para designar o corpo ou parte do corpo dos beatos ou santos) da Venerável Dulce para sua capela definitiva, localizada na Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, situada ao lado da sede da OSID. A Capela das Relíquias foi construída na própria Igreja da Imaculada Conceição, erguida no local do antigo Cine Roma e do Círculo Operário da Bahia, construídos pela freira na década de 40.

(O texto acima foi retirado do site Obras Sociais Irmã Dulce)

Festividades em honra à Santa Dulce dos Pobres

Aguardada com expectativa por fiéis e demais admiradores da vida e obra de Irmã Dulce, a primeira edição da Festa em Honra a Santa Dulce dos Pobres chega no mês de agosto trazendo uma agenda de eventos totalmente voltada ao ambiente online.

Atento aos cuidados com a saúde em tempos de pandemia do novo Coronavírus, o calendário festivo será transmitido exclusivamente pelas redes sociais e contará com Missas; Novena; exibição de programas sobre o legado de amor e serviço do Anjo Bom do Brasil; lançamento de documentário e um curta-metragem; concurso virtual de melhor altar; sarau com a participação de artistas; entre outras novidades.

Algumas festividades já aconteceram, mas por meio dos canais oficiais ainda dá tempo de acompanhar a programação festiva.

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Neste 13 de agosto de 2020, fieis celebram a memória de Irmã Dulce. Crédito - Facebook/Obras Sociais Irmã Dulce.

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