13 de Maio: De Assinatura da Lei Áurea à Celebração da Sabedoria Ancestral dos Pretos Velhos

Por João Paulo Silva Publicado em 13/05/2025, 14:47 - Atualizado em 13/05/2025, 14:51

Os pretos velhos são considerados sábios ancestrais, que oferecem conselhos, conforto e cura espiritual para aqueles que os procuram. Crédito — Reprodução.

No calendário brasileiro, o 13 de maio carrega o peso histórico da assinatura da Lei Áurea, marco da abolição da escravidão em 1888. Contudo, para muitos praticantes de religiões de matriz africana, a data transcendeu a efeméride oficial e se transformou em um dia de profunda reverência e celebração: o Dia dos Pretos Velhos.

A ressignificação desta data é um movimento que reflete a busca por uma memória histórica mais completa e a valorização da ancestralidade africana. Se a abolição representou um passo importante, para as comunidades negras, ela veio de forma incompleta e sem a devida reparação. Nesse contexto, o 13 de maio passou a ser um momento de homenagear as entidades espirituais conhecidas como Pretos Velhos.

Os Pretos Velhos são espíritos de africanos escravizados que, mesmo após a morte, manifestam-se como figuras sábias, pacientes e acolhedoras. Carregam a experiência da dor e da superação, oferecendo conselhos, cura e conforto para aqueles que os procuram. Sua imagem é frequentemente associada à humildade, à bengala como símbolo de apoio e à sabedoria adquirida através da vivência.

Nas tendas de umbanda e candomblé, o 13 de maio é marcado por rituais especiais em honra aos Pretos Velhos. As celebrações incluem cânticos, oferendas de alimentos simples como café, pão e pipoca, e a manifestação dessas entidades através de seus médiuns. É um dia de agradecimento pela sua guia espiritual e pela transmissão de ensinamentos valiosos sobre resiliência, fé e amor ao próximo.

Para Mãe Maria de Oyá, ialorixá de um terreiro na zona sul da capital paulista, a celebração do Dia dos Pretos Velhos em 13 de maio é um ato de resistência e de afirmação da identidade afro-brasileira. "Não podemos esquecer a história da escravidão, mas também precisamos celebrar a força e a sabedoria dos nossos ancestrais. Os Pretos Velhos representam essa ancestralidade que nos guia e nos protege", explica.

A data também serve como um contraponto à narrativa oficial da abolição, muitas vezes romantizada e que negligencia as décadas de luta e resistência da população negra. Ao celebrar os Pretos Velhos, as comunidades religiosas reafirmam a importância da memória da escravidão e a necessidade de seguir lutando por igualdade e justiça social.

Assim, o 13 de maio se reveste de um novo significado para muitos brasileiros. De um dia que marcou o fim formal da escravidão, transforma-se em uma data de celebração da ancestralidade, da sabedoria e da resiliência do povo negro, personificadas na figura emblemática dos Pretos Velhos. Uma ressignificação que ecoa a busca por uma história mais justa e inclusiva.