Ex-coveiro vira atleta de vôlei sentado, mas não esquece dos sustos na antiga profissão: ‘Era sinistro’

Acidente de moto em 2008 foi divisor de águas para a transição para o esporte.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 23/10/2024, 14:43 - Atualizado em 23/10/2024, 14:43
Foto — Reprodução. Crédito — Edson Sousa. Siga no Google News

As mãos que hoje entregam pontos na quadra um dia atenderam a uma demanda completamente diferente, que nada tem a ver com esporte. Craque do time de vôlei sentado de São José dos Campos que competiu na quarta etapa dos Jogos Paralímpicos do Estado de SP (Paresp), Israel Souza, 46, tem muita história para contar dos tempos em que trabalhou como coveiro.

Foram dois anos na função, de 2006 a 2008. Israel cuidava principalmente da limpeza dos túmulos, mas fazia de tudo um pouco no cemitério. Certo dia, voltando para casa de moto após o expediente, sofreu um grave acidente que culminou com a amputação da perna direita.

Sem forças para voltar ao mercado de trabalho, Israel passou a viver de forma errante. “Depois do acidente, morei na rua por seis meses. Estava perdido, sem rumo”, diz ele.

Até que surge o esporte como bote salva-vidas. Um amigo convidou Israel para um treino de vôlei sentado. Só não foi paixão à primeira vista porque a natação dividiu as atenções durante um curto período. Em 2015, Israel fez a migração definitiva ao assinar com o Instituto Athlon de São José dos Campos.

“Eu fui resgatado pelo vôlei. O esporte é tudo para mim, o melhor remédio para qualquer problema”, destaca o paratleta, que tem no currículo um título paulista e um vice brasileiro.

Israel começou no vôlei como líbero, mas com o tempo foi avançando em quadra. Hoje, é atacante, posição em que se sente cômodo. “Gosto de pontuar. Sei que preciso decidir jogos, mas aguento essa responsabilidade”, diz ele, que foi quarto colocado no Paresp e em novembro disputa o Brasileiro de Vôlei Sentado por São José dos Campos.

Experiências sobrenaturais

Os dois anos em que Israel trabalhou como coveiro no cemitério Jardim da Paz, no Parque Santo Antônio, em Jacareí, foram intensos. Limpar túmulos e auxiliar em outros afazeres não era a parte mais desgastante do dia.

“Tinha uma área do cemitério com algumas placas de aço super resistentes, que não eram feitas para balançar, mas pela manhã, quando eu chegava, sempre ouvia o barulho de uma balançando. Era sinistro. Isso sem falar dos vultos que eu via caminhar entre os túmulos, dos gritos. Trabalhar em cemitério não é para qualquer um”, lembra.

No dia em que sofreu o acidente, Israel teve uma espécie de ‘presságio’. Ele fazia um enterro quando quase caiu dentro da cova. “Um amigo brincava que a pessoa dentro da cova estava me puxando”, conta, entre gargalhadas.

Paresp

Em sua segunda edição, o Paresp é fragmentado em quatro etapas, todas disputadas no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro. A competição é voltada exclusivamente a atletas com deficiência com idade a partir dos 15 anos. São três modalidades em disputa – atletismo, natação e vôlei sentado – e uma Finalíssima, marcada para os dias 1, 2 e 3 de novembro, define os campeões estaduais de atletismo e natação. Mais de 1.100 paratletas de todo o estado participaram das quatro primeiras etapas.

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