22ª Reunião da Câmara de Ouro Preto
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No ar a primeira edição da Coluna Falando Francamente, com o Professor Antonio Marcelo Jackson

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Por Tino Ansaloni Publicado em 10/07/2013, 12:14 - Atualizado em 03/02/2014, 22:29
Foto-Manifestação chega à Praça Tiradentes, em Ouro Preto-MG, no dia 19 de junho de 2013. Crédito-Tino Ansaloni Nessa primeira edição , o Historiador e Cientista Político, Professor Antônio Marcelo Jackson traz: Brasil, junho de 2013: Os Consumidores de Política Na Coluna Falando Francamente Desde que os movimentos populares começaram há algumas semanas atrás, em meio a algumas certezas, uma dúvida enorme povoa corações e mentes dos governantes: quem lidera tudo isso? Impossível, segundo dizem, que tamanha articulação tenha partido de um punhado de pessoas que, até dia desses, pouco ou nada se importavam com o cenário político e, quando muito, utilizavam parte maior de suas horas digitando ou publicando coisas nas assim chamadas redes sociais. Impossível, bradam os referidos governantes agora somados à imprensa, que um bando de alienados, sem liderança qualquer, consiga produzir tamanho estrago e colocar contra a parede conjuntamente a Presidência da República, o Congresso Nacional, Governadores de Estado, Prefeitos e, em escala um pouco menor, o STF. Pois é...a vida tem dessas coisas! E a surpresa, talvez, resida naquilo que mais se assemelhe ao óbvio. Vejamos. Sem dúvida que, se existe algo detentor de enorme capacidade de movimentar a sociedade brasileira nesses últimos anos, esse “algo” denomina-se consumo. Como uma represa que, cheia, estourasse no Governo Lula, o consumo pautou o crescimento econômico brasileiro e ofereceu contornos a uma enorme massa que ingressou na classe média. Conjuntamente a isso, outros fatores se somaram: ampliação da rede de Internet, consolidação dos juizados especiais, maior robustez nos direitos do consumidor, ampliação da disponibilidade de bens de consumo etc.. De uma hora para outra, um percentual expressivo da sociedade passou a ter acesso e, mais do que isso, passou a ingressar na “sociedade de consumo”, moldando um novo tipo de comportamento e consumindo todo tipo de produto: de carros a direitos; de casas a universos virtuais. Quase ao lado desse processo, um fenômeno mundial se arvorou da classe política em todos os lugares, a saber, seu puro e simples descrédito. Verdade seja dita, o modelo de política praticado em boa parte do mundo Ocidental vincula-se a ideia de representação que, por sua, tem origem no momento em que se desejava abolir os Governos Absolutistas, mas sem deixar que o povo conquistasse uma grande participação. Em outras palavras, a figura do representante servia tanto para diluir o rei absoluto, quanto para impedir que o povo participasse diretamente das discussões sobre o poder. Com o passar do tempo, se esse representante não tomasse alguma cautela, verificando de tempos em tempos todas as demandas da sociedade, seu distanciamento passava a ser total, resultando num único contato dele com o eleitor: o momento do voto. E foi isso que aconteceu no Brasil: toda a classe política limitou seu contato com o povo somente na hora de capturar votos nas eleições. Assim, tornava-se apenas uma questão de tempo que essa distância colocasse em xeque a própria legitimidade do poder. Quando somamos as duas coisas – a sociedade de consumo com a ausência de legitimidade do poder político – começamos a nos aproximar do motor que sustenta o conjunto de movimentos populares nos dias atuais em nosso país. Na medida em que a classe política tornou-se legal, mas sem ser legítima (visto que não sabia mais dos interesses do meio social), a sociedade paulatinamente percebeu que poderia consumir os bens duráveis e não duráveis, consumir o universo virtual via Internet, consumir, enfim, inúmeros itens que o mercado pode produzir; apenas não conseguiria consumir política! Sim! Consumir política não é debater ideologias: isso é consciência política! Consumir política é conquistar os atos administrativos de um prefeito, governador ou presidente; é ver a sonhada passarela sobre uma rodovia finalmente construída; é ver seus representantes em condições sociais e econômicas semelhantes a sua, ou seja, se eles têm um carro de passeio, o cidadão também pode ter. É ter, por assim dizer, todos os resultados palpáveis de uma vida minimamente correta daqueles que detém, por representação, o poder. CONSUMIR POLÍTICA É PAGAR UM PREÇO JUSTO PELO TRANSPORTE PÚBLICO COM QUALIDADE E COM AS DEVIDAS JUSTIFICATIVAS APRESENTADAS PELOS RESPONSÁVEIS POR MEIO DE UMA LICITAÇÃO! Foi dessa maneira que aqueles “alienados” de dias atrás se transformaram, num rompante, em grupo que mudou e muda o país: o mesmo desejo compartilhado por aqueles jovens que estiveram acampados à frente da Prefeitura Municipal em Ouro Preto-MG. Por isso que não se trata de uma busca aos líderes, mas sim, compreender os anseios e agir, verdadeiramente, como representantes. Sem esse tipo de ação o movimento não acaba; afinal, as demandas ainda são enormes e a distância entre a classe política e o povo continua gigantesca. E, pelo visto, nosso prestigiado Senado Federal não entendeu o recado na noite do dia 09 de julho de 2013 ao votar contra a mudança dos critérios para a suplência. Mas, isso já é uma outra história.

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