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Na Coluna Falando Francamente: Presídio ou Câmara dos Deputados? Por Antonio Marcelo Jackson

Antonio Marcelo Jackson Doutor em Ciência Política. Professor da Universidade Federal de Ouro Preto Para quem acompanha ainda que minimamente…
Data de publicação: 02/09/2013 09:33
Última atualização: 03/02/2014 22:28


Antonio Marcelo Jackson
Doutor em Ciência Política. Professor da Universidade Federal de Ouro Preto

Para quem acompanha ainda que minimamente o noticiário político, o lamentável espetáculo que a Câmara dos Deputados em Brasília nos brindou na última quarta-feira, dia 28 de agosto de 2013, quando o deputado Natan Donadon (sem partido-RO) não teve seu mandato cassado por singelos 24 votos, nos remete a inevitável reflexão sobre qual o sentido da existência dos senhores deputados, principalmente após todas as manifestações ocorridas no país em junho. Para o Ministro do STF Luís Roberto Barroso, por exemplo, a retirada do grosso dos manifestantes das ruas foi o suficiente para a Câmara esquecer de que deve representar minimamente a sociedade. Para outros, a certeza de que parte significativa dos senhores deputados não entendeu o recado que as duas últimas eleições forneceram à classe política, a saber, de uma média histórica de 20% entre brancos, nulos e abstenções, os índices saltaram para 30% e em alguns casos acima disso nas eleições gerais de 2010 e nas eleições municipais de 2012, ou seja, o afastamento cada vez maior da sociedade em relação àqueles que deveriam representá-la.

Qualquer estudioso das relações políticas sabe que a ideia de representação é uma fórmula elitista (e por conseqüência não democrática) criada a contar de fins do século XVIII para se evitar a maior participação das pessoas (notadamente da plebe) nas decisões do poder, visto que, no afã de serem convocadas a lutar contra o absolutismo reinante, almejavam maiores nacos de participação. Para tanto, as elites criaram o modelo de representação, ou seja, um grupo diminuto de “homens bons”, “devidamente qualificados” (tudo isso entre aspas, á claro), falaria em nome dos demais como forma de se agilizar o funcionamento dos Estados; esse pequeno grupo teria a “capacidade” de capturar os anseios sociais, as necessidades cotidianas e transformá-las em leis ou atos de governo, e essa capacidade seria possível em virtude de serem esses “representantes” atores profissionais da política: não teriam seu tempo ocupado por outro afazer que não fosse o pensar a razão de Estado e a lógica de governo. Porém, por mais mesquinha que tal fórmula fosse, havia um fundamento em todo o processo: que, em última instância, de fato aqueles sujeitos buscariam, senão representar diretamente cada um dos eleitores, ao menos representariam princípios comuns ou interesses públicos – e não é o caso que vimos no último dia 28 de agosto.

Ao contrário do que a própria teoria elitista elaborou, os senhores deputados federais em Brasília se “autorrepresentaram”, ou seja, defenderam interesses corporativos (interesses do próprio corpo – no caso, corpo de deputados) e isto porque um número significativo de membros do parlamento brasileiro também possui processos na Justiça! Para quem não se lembra o senhor Natan Donadon está cumprindo pena no Complexo penitenciário da Papuda (Distrito Federal), tornando-se – quer acreditar o autor dessas mal traçadas linhas – o primeiro deputado-prisioneiro da história da humanidade! E o que um significativo número de colegas seus desejam é que o mesmo ocorra com eles: podem até ser presos; porém, continuariam detentores de seus mandatos e das benesses financeiras que os mesmos carregam! Não deixa de ser interessante – e humilhante – imaginar uma sessão da Câmara dos Deputados onde parte estaria no Congresso Nacional e outra parte em diversos presídios brasileiros. Triste cena.

A que conclusão podemos chegar? Em tese, a conclusão vincula-se a resposta apresentada nos próximos lances desse jogo de absurdos. Caso a Câmara dos Deputados mantenha a decisão, ou bem os senhores “representantes” fornecerão um estímulo sem precedentes a novas manifestações ou bem estimulam um índice bem maior de votos brancos, nulos e abstenções nas eleições do ano que vem, correndo-se o risco de fazer com que os eleitos percam completamente a legitimidade. De outro lado, se por ventura a Câmara mudar a postura e entender que deve, ainda que minimamente, representar os interesses sociais, quem sabe faça com que a política brasileira conquiste um pouco mais de fôlego: ou seja, que pelo menos funcione de acordo com os fundamentos elitistas – coisa que nem mesmo conseguem fazer os nossos deputados! Mais uma vez, façamos nossas apostas e aproveita-se para perguntar: como andam o comportamento dos representantes na Prefeitura da Cidade e na Câmara de Vereadores?


Antonio Marcelo Jackson
Doutor em Ciência Política. Professor da Universidade Federal de Ouro Preto

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