Na Coluna “Falando Francamente” com Antonio Marcelo Jackson: “Moby Dick e a Política Brasileira Atual”

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Por Tino Ansaloni Publicado em 16/07/2013, 16:18 - Atualizado em 03/02/2014, 22:29
Foto - Professor Antonio Marcelo Jackson nos estúdios da Rádio UFOP Educativa Foto-Eliseu Damasceno Falando Francamente Com Antonio Marcelo Jackson Historiador e Cientista Político Mesmo que não tenha lido em algum momento da vida a conhecida obra de Herman Melville, é pouco provável que o leitor dessas mal traçadas linhas desconheça a história de Moby Dick. Temida por todos os marinheiros do Atlântico Norte, a baleia branca era o maior dos objetivos do capitão Ahab, visto que, o animal seria o responsável pelo aleijão que o comandante trazia: perdera uma das pernas em tentativa de caça anterior e o ódio que carregava era o alimento que sustentava sua sina nos mares. Em dado momento, o capitão enfrenta a baleia e, no derradeiro duelo, com o navio destruído e a maior parte da tripulação morta, Ahab vê-se enroscado na corda que prendia o arpão que, por sua vez, dava voltas em Moby Dick. A cena final era o capitão eternamente preso ao corpo do animal que tanto desejará abater mergulhando infinitamente entre as ondas. Alguém pode perguntar: qual o moral da história? A interpretação corrente sinaliza a ideia de que, um objetivo quando se transforma em obsessão, não há como distinguir o sujeito que deseja lutar por algo e a meta que se quer alcançar (como na imagem final onde o capitão e a baleia formam um só corpo pelo amarrar da corda). Reunidos em uma só coisa, perde-se o sentido original e, com isso, a espinha dorsal que sustenta toda a ação desmancha como um castelo de areia. Se olharmos com alguma cautela e singela dose de imaginação, a política brasileira na atualidade não difere muito da história de Moby Dick. Um grupo de pessoas conquista a direção de sindicatos, funda um partido político e, com o passar dos anos, consegue a vitória em parte das prefeituras, alguns estados e em três pleitos seguidos para a Presidência da República. O problema é que essa conquista ocorre sem que se perceba a distância e diferença entre o papel dos sindicatos e associações e o comando dos Poderes Executivos Municipais, Estaduais e Federal: de um lado, um diálogo direto com várias classes sociais e, de outro, a separação abissal entre o poder e a sociedade que deveria estar representada no primeiro. Não fosse isso o suficiente, essas vitórias (e, notadamente, a vitória nas eleições presidenciais) não foram acompanhadas do fim do controle e/ou influência de sindicatos e associações; ao contrário, ocorreu o acúmulo de “poderes”. Em outras palavras, o mesmo grupo que dirigia parte dos sindicatos, passou a também dirigir diversas cidades, certos estados e o país. Sem perceberem a diferença entre as duas formas de representação política, a metáfora de Moby Dick se materializou no cotidiano brasileiro, visto que, o grupo em questão passou a gerir os Poderes Executivos e, mais até, a Presidência, como se fossem sindicatos e os sindicatos como se fossem repartições dos Executivos Municipais, Estaduais e Federal; e o resultado foi visível nas manifestações que se alastram pelo Brasil desde o início de junho de 2013: em 20 de junho 1,5 milhão de pessoas (números oficiais e questionáveis) foi às ruas demonstrar a indignação com a classe política, e articulada somente pela Internet; em 11 de julho, liderados pelas Centrais Sindicais, 300 mil pessoas (número também oficial e também questionável) toma diversas cidades do país em protestos. Independentemente das mazelas das contas oficiais, é inegável que o movimento espontâneo arregimentou muito mais do que o movimento com liderança, ou seja, a liderança política não mais lidera (vale a redundância). No livro, o capitão e a baleia ao formarem um só corpo anulam o sentido da ação; no cotidiano de nosso país, quando sindicatos e os poderes passaram a ser regidos por um só mote, anularam a frágil capacidade de representação política. No livro, essa é a cena final. No Brasil, qual será o nosso próximo ou derradeiro ato?

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