Filosofia Atleticana de Buteco: ‘Massa Contra o Vento’, por Rômulo Giacomin Soares

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Por João Paulo Silva Publicado em 08/08/2018, 13:30 - Atualizado em 08/08/2018, 13:30
Rômulo Giacomin Soares é estudante de Jornalismo na UFOP e escreve no blog ‘Filosofia Atleticana de Buteco’ Hoje o texto está recheado, tenho muitas coisas a pontuar. Fui à partida de ontem entre Atlético e Internacional e aconteceu tanta coisa que não sei nem por onde começar. Muito todo mundo sabe, viu pelos portais na internet ou televisão, entretanto queria trazer a sensação de quem estava presente no estádio e também dizer coisas que nem todo mundo viu. A primeira parte do meu texto vai para problematizar, e muito, a torcida, pelo o menos a que fui junto até ao estádio, porém sei também que não é a minoria. Foi muito triste, desagradável, me revirou o estômago ver atleticanos homens bebendo e assediando verbalmente as mulheres nas ruas até a Arena Independência. Eu não conhecia os babacas que foram junto comigo, paguei e fui de excursão, eram pessoas tão desagradáveis que me fez descer do veículo no meio do caminho e completar o resto do percurso a pé. Com essa “masculinidade” é tosca, estão empregando a expressão criada por Ronaldinho de forma errônea, “Aqui é Galo” porque aqui tem raça, aqui tem amor incondicional, um sentimento sincero com o alvinegro, não é porque “somos machos”, inclusive, os mesmos são uma vergonha para a Massa. Contudo, ainda faço algumas considerações, a torcida do Atlético não é a única, o futebol inteiro é machista, todas as torcidas, em sua grande maioria são. Tem cantos hostilizando a outra torcida que “não pega mulher”, tenta diminuir o adversário atribuindo a nomes pejorativos no feminino. Então não é exclusividade da torcida atleticana, não que isso diminua a culpa e a responsabilidades dos atos nojentos que homens tem nas arquibancadas e fora delas. E, só para fechar esse enorme parágrafo, sei que não é meu lugar de fala escrachar os homens, pois também sou um, mas o mínimo de função social que tenho é de intervir e protestar sobre esses atos. Na hora, qualquer ação minha foi inútil em meio a tantos imbecis, então achei que expor no meu texto seria uma boa ideia. Enfim, indo até o estádio tomei minha cerveja e entrei. Estava lindo, lotado, torcida do Galo estava em peso. Mais de 22 mil pessoas fizeram festa desde a entrada dos jogadores até o intervalo, cantando, incentivando, mostrando porque é a torcida mais apaixonada do Brasil. No campo, Galdezani e Elias jogando, e percebi uma coisa diferente em específico nessa partida do camisa 7. Ele era o armador, praticamente. Não tinha grande presença na linha do meio para trás, e toda jogada de ataque atleticana passava pelo armador improvisado, e olha, friamente notando não foi uma excelente partida do jogador que está devendo, mas não foi ruim também, não é a função original dele, desempenhou um bom papel. Ainda no primeiro tempo houve um pisão de Potker na orelha de Leonardo Silva. Repito, na orelha. O zagueiro alvinegro voltou de touca, mas indo de cabeça em todas bolas altas sem medo. Entretanto, Leo estava pilhado com o jogador do Inter, guardou rancor e devolveu no segundo tempo com uma entrada bem forte. Na volta do segundo tempo o equilíbrio continua, Atlético ataca, Inter ataca, até que… Começou a chover. Mas não era uma simples chuva não, aumentava muito, os pingos começaram a ficar muito grossos, vinha uma tempestade. O que ninguém esperava era que começasse cair granizo, pedras e pedras preenchiam o campo e as arquibancadas. Quando olhei para o lado, fiquei extremamente impactado, a chuva era enorme, o vento frio, tudo encharcava todo mundo e com isso, a Massa ficou insana. O jogo parou e a torcida começou a cantar mais forte do que nunca, eu via todo mundo pulando e cantando alto, tirando a camisa, erguendo as bandeiras, uma festa linda. Ali vi, na prática, o Atleticano torcendo contra o vento. Era uma festa indescritível, apenas vendo, foi lindo demais. A paixão do torcedor foi a flor da pele, ali se via a torcida do Galo, com ingresso a $10, a seleção do povo estava com a mais apaixonada torcida. Meus olhos marejaram. E quando pensa que não, acaba a luz no estádio, todas as luzes. A torcida tratou te fazer mais festa colocando luzes de seus celulares pelo estádio inteiro e a voz ecoando mais alto. Bandeiras ao vento e nós contra tudo. Que coisa bonita esse sentimento, jamais comparável ou algo que se possa imitar, aí sim “Aqui é Galo” de verdade. Mas, realmente o time do Altético dessa temporada não merece a torcida que tem. Ao contrário do que a torcida gritou (“Kaliu!”), o apagão não nos beneficiou, o Atlético voltou perdido, não sabia mais trocar passes e atacar. E para variar, se defendia mal. Acabamos sofrendo gol após uma falta cobrada rapidamente pelo time gaúcho, jogada tão inacreditável que parecia de pelada, e o Victor foi a loucura com sua decepção, ficou com raiva demais, assim como toda torcida alteticana. Estávamos molhados e realmente, um balde de água fria após a chuva. Mais um erro infantil da defesa, o Atlético perdeu em casa o jogo e a terceira colocação do campeonato. Insatisfação e impaciência justificáveis de um torcedor que numa segunda feira a noite tomou uma chuva, pedra de gelo na cabeça e viu o time errar mais uma vez de maneira juvenil. Fica difícil, viu. Mas o engraçado, torcida do Galo tem jeito mesmo não, próximo jogo contra o Santos no Independência, domingo, e 8 mil ingressos já foram vendidos. Torcida não abandona, é apaixonada, e podem dizer do ingresso barato, mas não é bem assim, talvez para o sócio torcedor, mas para o povão, os dez, vinte, quarenta, sessenta reais do bolso dele faz diferença, fora alimentação e transporte, então tem que respeitar. Meu texto fica com o torcedor como protagonista, tanto negativamente quanto positivamente. Que melhoremos nossos preconceitos e permanecemos nossa paixão.

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