Paulo Geovane e Silva é professor de Literaturas de Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Belo Horizonte (FACISABH) e do Coleguium Belo Horizonte, mestre e doutorando em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela Universidade de Coimbra (Portugal). Escreve mensalmente no Voz Ativa. Em tempos de muita informação e poucas certezas, uma figura muito singular criou asas e tem voado bastante por aí: o amador. O nome e o objeto nomeado, ambos, não são novos na língua portuguesa, motivo pelo qual vale a pena destacar alguns de seus sentidos. O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa apresenta algumas entradas importantes, das quais destaco as três primeiras, por motivos que logo apresentarei: a·ma·dor | adjetivo e substantivo masculino
- Que ou o que ama; que ou o que gosta muito de algo ou de alguém. = AMANTE, APRECIADOR.
- Que ou aquele que, por gosto e não por profissão, exerce qualquer ofício ou arte.
- Que ou o que revela inexperiência em algum assunto ou atividade.
- O amador toma-se como única referência de verdade e não consegue dialogar com o que lhe é diverso.
- Tomando-se como única referência de verdade, o amador padecerá os dramas de suas próprias razões perfeitamente incipientes.
- O amador não se questiona a respeito de nada e nem sempre essa postura advém de algum desconhecimento, mas vem de uma certeza profundamente enraizada.
- O amador não enxerga que o seu próprio modo de olhar o mundo não é uma verdade, mas sim uma perspectiva viciada. Nada mais.
- O amador gosta de opinar sobre temas que desconhece, e ele sabe disso, mas quer opinar assim mesmo, para não ficar para trás e, assim, parecer um amador.
- O amador pensa que pessoas não amadoras são miseravelmente amadoras, e por isso ele pensa, age e fala como se essas pessoas não percebessem tal inversão.
- O amador costuma confundir direito e desejo.
- Além disso, ele confunde também admiração com inspiração, criando ídolos os quais nunca seguirá.
- O amador, opinando ainda sobre assuntos por ele desconhecidos, costuma alimentar estereótipos e pensamentos completamente ultrapassados, mormente sem se dar conta disso.
- O amador, no trabalho, gosta de ser elogiado em detrimento de um erro alheio, porque assim poderá sair do estatuto de amador e terá uma visibilidade profissional.
- O amador não sabe sobre política, mas, para esconder a própria ignorância, diz que detesta tanto o tema quanto o fenômeno.
- O amador, em seu discurso, usa pouco ou nada a palavra “equilíbrio” e seus derivados nominais e verbais.
- Na vida afetiva, o relacionamento tenderá mais para a possessão do que para a emancipação mútua.
- Numa viagem ao exterior, o amador, sem se dar conta de sua perspectiva de turista, pensa que tudo no país visitado é uma beleza e, em contrapartida, afirma – com muita certeza – que o Brasil é uma merda sim.
- Se você apontar qualquer um dos itens acima a um amador, ele não se reconhecerá.
Ainda bem que Li até o final.
Durante a leitura, fui concordando, filosoficamente, com quase tudo. Tomei a liberdade de, inclusive, ir imaginando como poderia aproveitar o texto e algumas das características dos amadores para escrever sobre o que sei e como vejo as coisas (assim o farei).
Discordo, radicalmente, de : “…não será amador apenas … : iii) não demonstra experiência com determinado assunto ou ramo de atividade…”
Entendi que está “vetado” demonstrar conhecimento, sob a possibilidade de ser taxado do amador.
Ora… Ora… Ora… diria o falecido narrador de futebol, conhecimento é liberdade e disseminação de conhecimento é obrigação para alimentar debates e ajudar na evolução da mente. não demonstrar experiência é coisa do obscurantismo medieval. Fora este pecado mortal, parabéns !!!