Num país que adora futebol, é comum que amigos de trabalho, academia ou mesmo de bairro se reúnam para a prática do esporte. Muitas vezes a intenção é deixar as obrigações e problemas um pouco de lado. Em Ouro Preto (MG) existe um jogo de futebol no bairro São Cristóvão chamado “Casados x Solteiros”, tipicamente realizado nos finais de ano, atualmente, no Campo da Água Limpa.
Cleiton Natalino, idealizador da tradicional partida, explica que o evento não é exclusivo do São Cristóvão e que eles também aceitam que amigos e convidados participem do evento esportivo. Os jogos, explica Cleiton, aconteciam no início de tudo, na Travessa São Cristóvão, no local conhecido como “Campinho”, onde só era possível chegar a pé, todo os sábados. As partidas se estendiam até a noite, “quando não era mais possível ver a bola”.
Os irmãos Pedro e Mauro Tomaz, conhecido como Periquito, são apenas um dos nomes dos fundadores do torneio do Campinho que também conta com a participação do veterano atleta ouro-pretano Romualdo Galdino.
Natalino conta que a ex-prefeita da cidade, Marisa Xavier foi uma das incentivadoras do torneio, junto ao Bartola, ex-vereador já falecido. “Como o local era de difícil acesso e com muitos barrancos, os dois políticos melhoraram o acesso ao Campinho”.
Na época, ainda de acordo com Natalino, a ex-prefeita perguntou se queriam que fosse construído um banheiro no Campinho. “Nós recusamos porque achávamos que não seria viável a instalação de um banheiro no local de difícil acesso. A princípio, as nossas preocupações eram outras, como cobrir o terreno de areia, colocar as traves, etc”.
Não que tenha sido fácil, mas Natalino, visto como um líder, pela sua aptidão em juntar pessoas e realizar eventos como Festas Juninas, Natal, Dias das Crianças, entre outras, conseguiu agregar valor ao Campinho. “Mas foi a comunidade que se apegou a mim para dar direcionamento ao local. Ela entendeu que quem devia ser o responsável era eu”.
Natalino não soube dizer precisamente quando aconteceu o primeiro “Casados x Solteiros” no Campinho, mas acredita que foi por volta de 1999. Com o tempo o local ficou pequeno para tanta gente e tiveram que partir para o lugar conhecido como Campo da Febem. Nesse período, Natalino conta que precisou se afastar, pois seu horário de trabalho não era compatível com o horário dos jogos.
Em um dos seus aniversários, comemorado em 23 de dezembro [por isso o nome Natalino], ele estava reunido com amigos e entre conversas e bebidas decidiram voltar com o “Casados x Solteiros”. Após uma pequena pausa, em 2000, eles foram vencidos pela saudade de jogar novamente no Campinho. “O complicado foi querer fazer um “Casados x Solteiros” somente com membros do Morro em uma comunidade enorme como o São Cristóvão”.
Nessa época, a decisão foi que os jogos não se estenderiam para toda a comunidade, mas apenas para os amigos do Morro. “Mas aconteceu que a procura foi muito grande e não tivemos como dizer não”. Apesar do grande interesse, ainda hoje se mantem a tradição de participantes serem convidados a jogar. “Eu queria fazer com o bairro todo, mas tínhamos que tentar enxugar o número de participantes”.
Outro motivo de não abrir os jogos para todo mundo era a preocupação de manter as partidas como algo familiar e não público. “Isso fez com que várias pessoas abraçassem a causa e hoje, inclusive, algumas são mais ativas do que eu”.
No futebol, apesar de todos almejarem ganhar e levar o título para casa, é quase que sinônimo de união. União que se encontra também nas comunidades, como é o caso do bairro São Cristóvão. Festas lindas são realizadas ali como a Paixão de Cristo, na Semana Santa ou do desfile da Escola de Samba no Carnaval. Para alguns religião e futebol não se discute, ainda mais samba, então vamos falar de diálogo.
Natalino acredita que se houvesse um maior empenho das entidades que existem no bairro (associação de bairro, escola de samba, grupo de jovens e grupos religiosos), poderiam fazer muito por meio do “Casados x Solteiros”. “É preciso sentar, reunir, debater e lutar pelas necessidades da comunidade. A comunidade não necessita de um jogo do “Casados x Solteiros” no fim de semana, ou de uma verba para asfaltar uma rua. O que a comunidade precisa é de união. Mais do que nunca, é preciso diálogo, as crianças estão chegando e o mundo já não é mais o mesmo que foi no passado. Se a gente tentar puxar uma sardinha para cada lata, não iremos chegar a lugar nenhum”.
Por fim, Natalino acredita que o “Casados x Solteiros” pode se unir em prol da melhoria de vida da comunidade, “pois existe um lado [o qual eu não vou citar] que está ganhando da gente”. Para ele, apesar da associação do bairro fazer muito, com a união de todos é possível se fazer ainda mais, com várias cabeças, de vários setores, todos pensando juntos.
No próximo dia 12 de novembro acontece a esperada partida “Casados x Solteiros” e o que Natalino espera dela? “Espero que muitas pessoas vão assistir ao jogo. Vai ser um domingo de lazer para todos. Muito obrigado a todos que acreditam no nosso projeto”, respondeu.
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