Leia “A Pedra, José, Drummond e Nós, na 1ª Edição de Viagens Literárias, com Priscilla Porto

A escritora inaugura sua coluna que terá publicações quinzenais às terças-feiras

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Por Tino Ansaloni Publicado em 25/11/2014, 20:33 - Atualizado em 18/12/2014, 10:31
Por Priscilla Porto A Pedra, José, Drummond e Nós “Nunca me esquecerei que no meio do caminho/tinha uma pedra”, enunciou o poeta maior Carlos Drummond de Andrade, no poema “No meio do caminho”. “E agora, José”? Todos já conhecem “a Pedra no meio do caminho”? E se não conhecem, em algum momento da vida, irão conhecer? A do poema-escândalo, síntese do espírito polêmico do modernismo até hoje causa espanto, assim como nossas pedras. O que José - personagem drummondiano, que perpassou sua poesia e imaginação, e se tornou tão próximo de nós - faria diante da Pedra? E diante da festa que acabou? Não poucas festas se acabam, e ao final delas, lá está A Pedra... bem no meio do caminho. Devemos viver de festas ou de pedras? Ou nós mesmos proporcionamos a nós nossas “festas” e recebemos, sem saber de onde, as “Pedras”? Ou, ainda, será que plantamos pedras, em muitas atitudes e ações, e “inocentemente” ansiamos por colher festas? “Havia uma Pedra no meio do caminho” – frase muito lida, muito proclamada, de universalidade sutil ou manifesta? Frase e poema “à flor da pele”? Todos têm pedras, todos seguem um caminho. E José, “com a chave na mão/ quer abrir a porta, não existe porta”. Mas a Pedra está lá. Existe. Está no meio do caminho. Inspirada em Drummond, também escrevi um poema-pedra. E quantos poetas não escreveram? Bom, eis abaixo, o poema-pedra de minha autoria:
METAMORFOSE A pedra caiu no chão. O chão não esperava a queda. A queda só nasceu por causa da pedra. O chão era só chão. A queda não era queda, a pedra era A pedra. Em repentino supetão, o chão não era só chão, o chão era chão e pedra. Pedra jogada por uma mão, mão e pedra viraram queda. Mão que virou pedra, pedra que virou queda, queda que virou chão. Queda e chão mão e pedra.
Poemas pedras insignificantes que exprimem o peso de nossos mundos? “Queda e chão/ mão e pedra.” Ou mundos insignificantes que exprimem o real peso das pedras e a necessidade de que as festas não se acabem? Melancolia de pedra obstáculo e melancolia de fim de festa. Melancolia que petrifica. “Sozinho no escuro/qual bicho-do-mato (...) sem parede nua/ para se encostar”. Mas, a passagem não pode se mostrar impossível! E nem o cansaço pode parecer maior que o próprio obstáculo. José! É você mesmo e também somos nós, os responsáveis pela ultrapassagem ou remoção de nossas pedras. “Nunca me esquecerei desse acontecimento”. Priscilla Porto Autora dos livros "As verdades que as mulheres não contam" e "Para alguém que amo - Mensagens para uma pessoa especial".

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