“Feliz Ano Novo a todos! E também a Brás Cubas! Com uma receitinha de Drummond” na Coluna Viagens Literárias

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Por Tino Ansaloni Publicado em 14/01/2015, 22:02 - Atualizado em 14/01/2015, 22:02
 Priscilla Porto - Divulgação - Crédito - Bruna Santos O Ano de 2015 se configura e se apresenta como Novo. Páginas em branco para sabermos, ou não, rascunhar ou marcar. Marcas em “um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras”. Devemos gravar, neste extenso pano em branco, de quilômetros de minutos que nos esperam, “sementinhas do vir-a-ser”, a começar pelo nosso interior: alinhavar dias a fatos construtivos e, se possível, bem melhores. O ano de 2014, no qual você viveu grandes emoções, ou frustações, ou deixou boa parte dos dias em uma bacia inóspita de molho “mal vivido talvez ou sem sentido”, já foi lacrado. E ganhou titulação e etiqueta com escrita irreversível: “ano passado”. Verdade é que, nesta “epocazinha” de passagem de ano, de Natal, família reunida, contagem regressiva e janeiro adentrando a passos um pouco lentos, como um mês de espreguiçar e tomar coragem, cairia muito bem o emplastro anti-hipocondríaco de Brás Cubas, pretensiosamente destinado a aliviar a melancolia humana: medicamento sublime de “genuína e direta inspiração do céu”. Ai, ai... Quem dera houvesse mesmo algo capaz e, principalmente, de efeito instantâneo de curar sentimento tão avassalador e humano: a melancolia. E quer período melhor do que essa “epocazinha” de passagem de ano para analisarmos se estamos mais vivos ou mais mortos? É necessário sim, o “desejo de agitar-me em alguma coisa, com alguma coisa e por alguma coisa”. E então, já assinou seu “decreto de esperança”? Neste preciosíssimo documento, assinado por nós mesmos, teremos o “direito augusto de viver”. E muito pouco importará o WhatsApp, afinal “planta recebe mensagens? passa telegramas?” E aí, já assinou seu “decreto de esperança”? Decreto que tem que ser assinado antes de sermos autor-defunto ou defunto-autor. O decreto pode estar “até no coração das coisas menos percebidas”. Decreto de linhas tortas ou de entrelinhas. O importante é degustar os dias, perceber e não deixar de ser. Não somos coisas! E ainda que autor-defunto ou defunto-autor, pela ideia revolucionária que poderia nos proporcionar um Ano Novo de reais esperanças: Feliz Ano Novo para todos e também para você, personagem machadiano de Memórias, Brás Cubas! E aí, já assinou seu “decreto de esperança”? Carlos Drummond de Andrade decretou no poema “Receita de Ano Novo”: “Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” E aí, já assinou seu “decreto de esperança”? Quer período melhor para ter tanta expectativa do que no vislumbre de um Feliz Ano Novo? Neste presente de mais de três centenas de dias que, em um primeiro momento, a todos nós são afiançadas? Bom, quem assina nosso decreto de esperança ou fabrica nosso emplastro anti-hipocondríaco, não será Drummond, nem Machado de Assis, nem Brás Cubas, ou qualquer outra pessoa que passe esses milhares de minutos a seu lado. Quem será, então, o responsável por nossos dias e por nossa Receita de Ano Novo, na verdade crua e nua, somos mesmo: nós. Priscilla Porto Autora dos livros “As verdades que as mulheres não contam” e “Para alguém que amo – Mensagens para uma pessoa especial”.

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