“Cabeça, tronco, membros e celular” Por Valdete Braga

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Por Tino Ansaloni Publicado em 06/01/2016, 13:41 - Atualizado em 06/01/2016, 13:41
Valdete Braga Quando eu estava no ensino fundamental (na minha época, era chamado “grupo escolar”), aprendi que nosso corpo é formado por três partes: cabeça, tronco e membros. Lembro-me até de uma musiquinha que cantávamos, todos serelepes, junto com a professora: “cabeça, ombro, joelho e pé...” muitos devem se lembrar. Hoje estamos perto de mudar este conceito para quatro partes: cabeça, tronco, membros e celular. O aparelho tornou-se extensão do braço de muita gente. A coisa está tão séria que dia desses, vi, na porta de uma creche, a mãe receber o filho bebê dos braços da cuidadora com a mão esquerda e continuar teclando com a direita. Não resisti e fiquei olhando a cena. A expressão da cuidadora, ou professora, não sei, era de evidente repreensão, quando a mãe (imagino que seja mãe) saiu carregando a criança em uma mão, enquanto, com os olhos fixos no celular, teclava com a outra. Por cima do ombro da mãe, o bebê, de aproximadamente uns dois anos, acenava para a professora, na porta. Se eu não tivesse visto, não acreditaria. Se alguém me contasse, imaginaria que fosse exagero. Mas eu vi. E, confesso, fiquei prestando atenção, para ver até onde poderia chegar tamanha insensatez. A mãe sequer olhou para o rosto do filho. Nenhum beijo, nenhum carinho... toda a atenção estava voltada para a “conversa” no celular. Mochila jogada nas costas, criança igualmente “jogada” no ombro, a jovem seguiu seu caminho, teclando; aí sim, com muita dedicação. Aquela mãe não tinha mais de vinte anos, com certeza. O filho, imagino, deve ter passado o dia inteiro na creche, onde, por mais carinhosas e profissionais que sejam as professoras, não são a família dela. Podem e devem dar carinho, atenção, cuidados e amor, mas não são as mães nem os pais. E quando a mãe, de quem o filho ficou distante o dia todo, vem buscá-lo, não se dá ao trabalho sequer de desligar o celular. Recebe o filho como se pegasse um pacote e continua dando sequencia à conversa virtual. Fiquei imaginando como seria a chegada em casa. Com certeza a conversa continuaria e a criança iria para o berço, ou para o chão, em companhia de algum brinquedo, se tanto. Torço para estar errada, mas os fatos, por si, demonstram que não. Já fui mais radical, hoje entendo a importância do mundo virtual. São inegáveis os avanços que a tecnologia veio acrescentar para o mundo, e viver sem ela tornou-se praticamente impossível. Confesso que resisti o quanto pude, mas negar o óbvio é burrice, e precisamos nos adaptar. Internet já se tornou parte de nossas vidas e, sabendo usar, pode e deve ser muito bom. Seja para trabalho, informação ou laser, o tal aparelhinho está inserido em nossa realidade e não há como fugir disto. O erro está na dependência de alguns, cada vez mais crescentes, como o exemplo desta mãe, que não desviou os olhos do aparelho sequer para pegar o filho no colo. São muitos os exemplos, mas este, especificamente, deixa bem claro esta teoria. Obviamente, “extensão do braço” é um exagero, uma hipérbole para ilustrar uma situação cada vez mais crescente em nossos dias. Mas não estamos longe disto, infelizmente. Precisamos ficar atentos para que a tecnologia continue necessária, sim, positiva, sim, mas sem nos tirar os valores básicos.

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