“Ser, História, o “outro” e Materialidade”, por Vitor Ferreira

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 18/06/2018, 11:21 - Atualizado em 18/06/2018, 11:21
Vítor sempre teve certo fascínio por eventos do passado, talvez por isso, seja graduando em História na UFOP. Durante a graduação, teve oportunidade de trabalhar com o imortal veículo radiofônico. Tendo aí, contato efetivo com o ofício do jornalista. Apesar de constante “flerte” com o jornalismo, ele mantém seu foco nas práticas de pesquisa historiográficas. Adianto ao leitor, que possa estar desatento, que este será o texto de maior experimentação, com um certo flerte “de ser um rascunho” ou até um delírio momentâneo; não que os outros sejam concretos e rígidos como rochas, mas, certamente, serão mais do que o presente. Mesmo assim, creio ser importante dividir tal delírio com as pessoas que certamente me leem ou que clicam desavisadas. Pensando sobre o que escrever de forma mais específica e fechada, retornei, tanto nos textos anteriores dessa coluna, como das leituras que ando tendo de forma autônoma, mas também em disciplinas a quais curso. E constatei um certo incômodo reflexivo. Cheguei a algo próximo a uma conclusão. De que, talvez,  mais importante do que pensar em outras formas de se enxergar os ricos patrimônios da cidade de Mariana e Ouro Preto, seria pensar na forma como enxergamos, do que, afinal é História; e sua utilidade na vida prática nos tempos de hoje. Levar em consideração e assim, valorizar “o outro” é sim importante, entretanto, realizar tal processo reflexivo, sem ponderar a nossa noção de história, ao meu ver, ocasionaria uma mudança superficial. Podemos ter um exercício de reflexão mais profundo, e que gere, provavelmente, assim, mudanças mais efetivas na nossa curta vida. Parece ser interessante, no ponto de vista de ser um projeto institucionalizado, aqui me refiro ao tipo de educação que temos do nível Básico ao Médio, pensar História, sempre, como algo estático, estagnado´. Sempre o “estudo das grandes civilizações do passado”. Podemos perceber isto, nos próprios livros didáticos que nos acompanham em todas essas fases escolares. Dando o exemplo da temática indígena. Um dia, quando estiver desavisado, pegue o livro didático de História de seu filho, que acaba de chegar da escola. E constate você mesmo, que depois das “Grandes Navegações Europeias”, os indígenas, simplesmente, desaparecem do livro. É como se eles tivessem sido extintos de toda face da Terra. A estrutura do próprio livro, dá uma noção de que eles ficaram ali, parados no tempo, imunes aos processos de dinâmica cultural, que permitiria assim, sua modernização e a adaptação dos seus ritos. Um outro exemplo, além do livro didático, é a questão do que definimos e entendemos de forma institucional, o que é afinal, um Patrimônio. Isto, automaticamente, está ligado a uma concepção europeizada, com destaque sempre, ao traços coloniais, remanescentes da dominação portuguesa na América. Quase nunca, o que é autenticamente (assumindo o risco no emprego do termo) brasileiro. Se entrarmos na página do TripAdivisor, e pesquisarmos pelos pontos turísticos de Mariana, percebemos, pelos comentários dos usuários, sempre uma exaltação do passado. Chegaria a dizer, que até um certo saudosismo e nostalgia. O que pretendo propor ao leitor,  ao apresentar esses dois eixos reflexivos, é: ao meu ver, não é possível uma mudança na visão tradicional dos patrimônios, que coloque em destaque o outro, evidenciando o seu valor cultural, o que, na prática, ocasionaria um mundo mais tolerante e sensível, se entendermos História, sempre, como algo estático. Ligado ao que já passou, ou a um “passado que está morto”. As continuidades acontecem e existem. Torna-se necessário então, expandirmos nossa percepção, através de um exercício diário e prático, como o simples hábito de ir e voltar ao trabalho, que a História e está viva e em movimento. Assim, as culturas tidas como minoritárias (indígenas e a cultura africana, sobretudo), não ficam estáticas e não somente ligadas aos “grandes” monumentos. A intenção também, não é banalizar e menosprezar tais locais ou uma pura crítica ao nosso modelo de História, presente nos níveis de ensino. Mas sim, repito, nos permitimos um “exercício” de ver o outro e reconhecer seu valor cultural. E isso exige tempo. Mas ao ver de um esperançoso autor é possível. Mariana, para não dizer o país todo, precisa disto. Iniciemos aos poucos, então.

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