Saiba mais sobre a São Clemente, escola de samba que homenageará Ouro Preto no Carnaval 2020

Ainda estamos na metade do ano, mas boa parte das escolas cariocas do Grupo Especial já definiu os enredos que levarão para a Marquês de Sapucaí no Carnaval 2020. Uma das escolas que saiu à frente nos preparativos para o “maior show da Terra” foi a São Clemente.

Na noite lançamento de lançamento do Festival de Turismo em Ouro Preto (MG), no dia 13 de junho, Milton Cunha, comentarista de Carnaval da Rede Globo e Renato Almeida Gomes, presidente da São Clemente apresentaram a sinopse de “O conto do vigário”, enredo da escola para o carnaval do ano que vem.

É oficial! Ouro Preto-MG será tema da Escola de Samba São Clemente no Carnaval 2020

O tema, que traz Ouro Preto como personagem principal, será desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Silveira, em seu terceiro ano consecutivo na Preta e Amarela. Em entrevista ao portal “Carnavalesco”, Silveira explicou o enredo.

“Vamos trabalhar com a origem do termo. Nas Minas Gerais do século XVII, em Ouro Preto, houve uma disputa de paróquias pela imagem de um santo. Um dos padres propôs então que a santa fosse amarrada no lombo de um burro”, detalhou.

“Para onde a imagem fosse segundo o vigário seria a paróquia vencedora. O burro escolheu naturalmente o caminho de uma delas. O que ninguém sabia é que o burro era de um dos padres. Abrimos o nosso carnaval mostrando que somos enrolados por um bom papo desde sempre”, detalhou o carnavalesco”, completou o carnavalesco.

Conheça um pouco da história da São Clemente

O Grêmio Recreativo Escola de Samba São Clemente, ou simplesmente, São Clemente foi idealizada e fundada por Ivo da Rocha Gomes, Aílton Teixeira e João Marinho no começo da década de 60. Com o enredo “E o Samba Sambo”, que criticava a mercantilização do carnaval, teve sua melhor colocação no Grupo Especial em 1990, conquistando o 6º lugar.

Após 29 anos, a São Clemente reeditou o enredo no carnaval 2019. Seu desfile trouxe artistas como Marilyn Monroe, Madonna e Michael Jackson para dizer que Sapucaí virou Hollywood. Dirigentes, cambistas e imprensa também foram criticados. A comissão de frente da escola chegou a criticar escolas de samba que “compram e vendem sambistas”.

Como tudo começou

Como pode um jogo criado na Inglaterra se tornar tão popular no Brasil? Nenhum esporte mobiliza tanto os brasileiros quanto o futebol. A explicação está na facilidade de se praticar, até com laranjas a população jogava e se divertia. Foi dessa forma que o esporte se popularizou, criando a convicção de que o Brasil joga “o melhor futebol do mundo”, graças à ginga, e a valorização do drible, o que o diferencia dos demais países.

Acompanhando o interesse pelo esporte, no ano de 1951, jovens do bairro de Botafogo, participavam de uma equipe nas cores azul e branca chamada São Clemente Futebol Clube, em homenagem a rua que moravam.

Frequentemente faziam excursões para jogar em outras comunidades. Numa dessas excursões, com destino à Bananal – RJ, o grupo se reuniu em frente à Vila Gauí existente até hoje na Rua São Clemente nº 176 no bairro de Botafogo, Cidade do Rio de Janeiro e, enquanto aguardava o início da viagem Ivo da Rocha Gomes avistou na porta de uma quitanda, duas barricas vazias de uva, que de imediato transformou em instrumentos de percussão para uma animada batucada.

À empolgação foi tanta, que Ivo resolveu criar a partir daquele momento um “bloco de sujo” que passou a desfilar no Carnaval pelo bairro de Botafogo com a cor azul e branca.

Os primeiros ensaios foram realizados no estacionamento da autopeça Cia Iansã na Rua São Clemente, sob o efêmero brilho de simples gambiarras, pequenos grupos se organizavam ao redor de uma bandeira, ao som de alguns poucos instrumentos cantando e sambando.

No carnaval de 1952 o bloco desfilou pela primeira vez nas cores azul e branco e o samba foi da autoria de Nelson Escurinho com a seguinte letra:

Vamos cantar à melodia
Trazida do meu coração
Vamos esquecer a tristeza cruel da desilusão
Da melodia fiz um poema
Que canto nas noites de solidão
Eu era tão feliz

Vivia na maior desilusão
Hoje não me resta mais nada
Só existe no meu coração
E neste samba que é um poema
Que canto nas noites de solidão

(Texto reproduzido do site oficial da São Clemente)

Veja outras escolas cariocas que já estão com o enredo confirmado para o Carnaval 2020:

Viradouro – Viradouro de alma lavada;

Salgueiro – O Rei Negro do Picadeiro (homenagem a Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil);

Mocidade – Elza Deusa Soares (homenagem à cantora Elza Soares, que, por sinal, é baluarte da escola);

Paraíso do Tuiuti – O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião (o encontro de Dom Sebastião, rei de Portugal, e de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro e da própria escola);

Grande Rio – Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias (homenagem ao pai de santo Joãozinho da Gomeia);

Beija-Flor – “Se essa rua fosse minha…” (sobre as estradas da vida, ruas sem fim que contam histórias);

Estácio de Sá – Pela rodovia do Vale Carajás, Parauapebas a Riqueza que brota do chão (sobre as riquezas do minério do Pará, principalmente a cidade de Parauapebas);

A magia ouro-pretana

Como pode-se perceber a São Clemente sempre optou por desfiles bem-humorados e críticas ácidas à sociedade. Criticada pelos especialistas por conta da simplicidade de seu último desfile, talvez a escola tenha escolhido Ouro Preto não só pela sua extrema riqueza cultural, mas também pela suntuosidade do barroco e certamente encherá a avenida com muito ouro e magia.