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O Maestro e o Mano: Orquestra Ouro Preto e Flávio Renegado lançam “Suíte Massai” em Ouro Preto-MG

“Estou mais rap do que nunca”, afirmou Flávio Renegado em entrevista ao Jornal Voz Ativa

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Por João Paulo Silva Publicado em 22/06/2019, 10:54 - Atualizado em 04/07/2019, 23:43
Flávio Renegado e Orquestra Ouro Preto no show realizado na Praça Tiradentes. Crédito-João Paulo Teluca Silva. Siga no Google News

Há poucos dias do lançamento da música “Faz Gostoso”, funk que está presente no último álbum da cantora Madonna e traz parceria com Anitta, a Orquestra Ouro Preto, também conhecida e aclamada internacionalmente, lançou, na noite desta sexta-feira (21/06), o disco ‘Suíte Massai’, com um show na Praça Tiradentes, um dos ícones arquitetônicos de Ouro Preto (MG).

À princípio pode parecer banal comparar os lançamentos, ainda mais se levarmos em conta o abismo que separa os dois álbuns em matéria de produção, arranjo, proposta e sonoridade.

Talvez um dos grandes desafios para a cultura brasileira nos dias atuais seja o de compreender o espaço cada vez maior que o rap e o funk ocupam no cenário atual. Ainda chamados de “música periférica”, muitas vezes de forma taxativa pelos puristas de plantão, ambos os estilos conquistam cada vez mais espaço e mostram sua capacidade de se renovar.

Há muito tempo a Orquestra Ouro Preto vem rompendo a distância entre gêneros musicais e construindo pontes. Basta conferir a sua discografia para perceber o fabuloso trabalho do Maestro Rodrigo Toffolo, porta voz da Orquestra Ouro Preto, e suas incursões por estilos aparentemente distante da música clássica.

Valencianas apresenta um recorte na biografia musical de Alceu Valença que, pela primeira vez, teve de suas canções adaptadas para a música de concerto, sem descaracterizar a essência de sua obra e seu compromisso permanente com a cultura popular nordestina.

Outro projeto visionário da Orquestra Ouro Preto foi o repertório dos Beatles e a sua proposta de uma vibrante viagem sonora pela biografia musical do quarteto de Liverpool, a partir de uma combinação inusitada: a união, em um mesmo palco, de uma orquestra a uma banda de rock.

Suíte Masai

Agora foi a vez de Suíte Massai. O espetáculo uniu dois universos distintos, quebrando fronteiras e aproximando o mano do rap ao maestro da música de concerto e marca um novo período de sucesso de Flávio Renegado e da Orquestra Ouro Preto. Com arranjos rebuscados assinados pelo maestro Marcelo Ramos, além da força das letras e da voz de Flávio Renegado, bem como dos acordes da Orquestra Ouro Preto, o espetáculo propõe um retrato do cotidiano inspirado nas raízes africanas brasileiras.

O Show

Pedindo paz, elevando as vibrações e com discurso político pelo fim da polarização, Renegado subiu ao palco com a cor de Oxalá. O frio da noite ouro-pretana não desanimou o caloroso público que lotou a Praça Tiradentes para apreciar de perto a “estranha” simbiose, regida por Rodrigo Toffolo, entre o erudito e o popular.

“Sei quem tá comigo”, “Vera”, “Do Oiapoque a Nova York” e “Coisa é séria”, músicas presentes no álbum de estreia de Renegado, lançado em 2008, deram mostra da contemporaneidade do artista e, mesmo após 10 anos, seguem atuais, agora com arranjos impecáveis.

A homenagem a Vander Lee, com “Românticos”, foi uma mostra da admiração de Renegado pela obra do conterrâneo e contou com a participação emocionada do público. Mas o clímax do show foi o clássico atemporal da Música Popular Brasileira “Para Lennon e McCartney” que espelhou o recado da Orquestra Ouro Preto e Flávio Renegado ao público – “Sou do Mundo, sou Minas Gerais”.

Bastidores

Rodrigo Toffolo, com sua austeridade de maestro, questionado sobre o projeto Suíte Massai explicou que o projeto foi um convite de Renegado a ele. “Trata-se de um projeto ousado, que rompe barreiras e a Orquestra Ouro Preto teve a coragem de embarcar nessa ideia”.

Conversei com Flávio Renegado ao final do show. Perguntei a ele se concordava com a declaração de Criolo que disse: “Para cada rap escrito, uma alma que se salva”. Para Renegado, que disse concordar em gênero, número e grau com a afirmação, o rap não só salva, mas também é “a música da verdade”. “Vamos continuar fazendo rap para salvar vidas e transmitir o amor”.

Diante do aparente abismo entre o rap e a música clássica, lancei uma provocação a Renegado. Perguntei a ele se foi preciso fazer algum tipo de concessão para gravar com a Orquestra Ouro Preto. “Meu trabalho sempre buscou essa fusão com diferentes gêneros da música brasileira. “Estou mais rap do que nunca”, devolveu.

 

Flávio Renegado em entrevista ao Jornal Voz Ativa. Crédito-Tino Ansaloni.

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