“Falando Francamente” com Antônio Marcelo Jackson e “O IDH de Ouro Preto: análise preliminar”

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Por Tino Ansaloni Publicado em 31/07/2013, 19:15 - Atualizado em 03/02/2014, 22:29
Prof.-Dr. Antonio Marcelo Jackson é Colunista Semanal do www.jornalvozativa.com O IDH de Ouro Preto: análise preliminar Criado há alguns anos pelos economistas Amartya Sem e Mahbud ul Haq, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aparece no cenário mundial como forma de se buscar um equilíbrio entre elementos puramente econômicos e itens claramente sociais na hora de se verificar se uma determinada região, de fato, consegue obter crescimento significativo, isto porque, até 1990 (ano em que o índice surgiu), os dados vinculavam-se somente às informações econômicas. Nesse sentido, esse índice reúne informações sobre a expectativa de vida (tratando, portanto, da saúde), da educação e PIB per capita (Produto Interno Bruto por habitante), e no dia 29 de julho foi divulgado o resultado para o ano de 2013. Observando os dados apresentados e verificando a condição do município de Ouro Preto-MG, nos é possível retirar deles algumas considerações. Vejamos. A primeira delas diz respeito a um paradoxo no item EDUCAÇÃO. Quando analisado com parcimônia, nota-se que 67,66% das crianças entre seis e quatorze anos de idade frequentam o ensino fundamental na idade correta e 32,34% com um ou mais anos de atraso, o que, apesar de não se encontrar na faixa ideal, indica resultados razoáveis. Entretanto, quando passamos para o ensino médio e a faixa etária seguinte (de 15 a 17 anos), o índice cai para 30,99% na idade correta, 68,77% com um ou mais anos de atraso e irrisórios 0,24% já frequentando o curso universitário. No último registro (acima de 18 anos), apenas 11,82% conseguem completar o ensino superior. Em outras palavras, observa-se que o jovem de Ouro Preto-MG ou não atinge de forma satisfatória o nível do 3º grau, ou, se atinge, não permanece no município. Tal paradoxo torna-se mais relevante quando observamos o RENDIMENTO MÉDIO dos moradores da cidade, a saber, 15,38% (até um salário mínimo), 72,62% (até dois salários mínimos) e 8% acima de dois salários mínimos. Com essa segunda informação, pode-se concluir com pouca margem de erro que a mão-de-obra qualificada gerada no município pela Universidade Federal de Ouro Preto não atua no lugar e, como consequência, não gera impacto relevante no desenvolvimento da cidade. Isso se revela de maneira mais perversa quando passamos os olhos nos dados da DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, onde os 20% mais ricos detém 55,55% de toda a riqueza municipal – uma considerável concentração de renda. Aliás, para se ter uma ideia mais clara, a renda per capita de Ouro Preto-MG é de R$710,55, o que posiciona a cidade num valor abaixo do estadual (Minas Gerais possui R$733,24 de renda per capita). A essas observações iniciais podemos elaborar algumas comparações para efeito de reflexão. Quando colocamos Ouro Preto-MG ao lado dos 44 melhores municípios do Brasil (melhores IDH), notamos que 14 deles têm como sustentáculo da economia o setor industrial, em 11 o ponto forte é o comércio e serviços, sete cidades são capitais de estado ou a Capital Federal (Brasília), o que favorece a renda, em 6 cidades o destaque é o turismo, em 5 municípios, a agroindústria e em uma única cidade, a mineração (no caso, Nova Lima-MG). Das cidades que têm a indústria como motor econômico, em todos os casos ou são municípios tradicionalmente fabris (caso clássico de São Caetano do Sul, Santo André, São José dos Campos, São Bernardo do Campo) ou têm suas indústrias vinculadas a um desenvolvimento regional, como nos casos de Jaraguá do Sul e Rio do Sul, ambas em Santa Catarina. Em outras palavras, lançar mão das fábricas para se pensar em um desenvolvimento humano e econômico em Ouro Preto-MG talvez não seja tão simples quanto supõe a vã filosofia. Concomitantemente, nota-se que das seis cidades que tem o turismo como sustentação, quatro delas possuem população ou semelhante a Ouro Preto-MG ou pouco maiores – mas ainda na faixa etária geral. Ao mesmo tempo, é pouco provável que o desenvolvimento no caso ouro-pretano vincule-se a serviços (não há população nem na cidade, nem na região que sustente esse modelo), agroindústria (o solo não sustentaria, em princípio, tal fórmula) ou mineração (estatisticamente demonstrado). Desnecessário pensar a cidade novamente como capital do estado. Com isso, talvez duas conclusões possam ser retiradas nessa análise preliminar. A primeira delas, que é mais do que urgente o maior vínculo entre a Universidade e a cidade: essa distância entre elas contribui de certa forma para o baixo desenvolvimento humano e econômico de Ouro Preto. A segunda, que talvez seja no turismo que as apostas devam mirar. Quem sabe seja nesse setor que a cidade, moradores, comerciantes e prestadores de serviço pouco cuidam que esteja o futuro de Ouro Preto. Prof.-Dr. Antonio Marcelo Jackson F. da Silva

Um Comentário

  1. Reflexão 31/07/2013 em 23:35- Responder

    Muito boa essa análise. Se considerarmos o IDH da cidade juntamente com o PIB per capto do município vemos que a conta não fecha. A cidade tem o terceiro PIB per capto do estado mas o dinheiro que o município arrecada não é revertido para a população! Será por que isso acontece? Se não mudarmos a cultura pessoal (perspectiva + educação no sentido amplo), sinceramente acho muito pouco provável que estaremos melhores no final dessa década!
    Sendo mais frio na análise, se compararmos a arrecadação do municícipio juntamente com o tamanho da população, associado aos fatores históricos e artísticos da cidade que possui uma universidade e uma escola técnica públicas, poderíamos ter IDH comparado a cidades da Europa! Porém, na prática, quando vemos o salário e a educação mais avançada, nos deparamos com a situação dos piores lugares do mundo…

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