Com peça inspirada em Pink Floyd, estudantes do Cabanas abrem Festival de Teatro Comunitário em Mariana-MG

Em sua terceira edição, o Festeco já é considerado uma das maiores expressões da voz periférica na cidade histórica de Minas Gerais.

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Por João Paulo Silva Publicado em 11/09/2019, 12:29 - Atualizado em 11/09/2019, 14:59
Foto-abertura oficial do III Festeco. Crédito-João Paulo Teluca Silva/Jornal Voz Ativa. Siga no Google News

Mariana é cultural. E o Festival de Teatro Comunitário – Festeco, que chega este ano à sua terceira edição com o mote “Ubuntu: Eu sou porque somos” é mais uma prova disso. Já considerado uma das maiores expressões da voz periférica na cidade histórica de Minas, o evento abriu a programação da Fase Estudantil, que acontece de 10 a 15 de setembro, nesta terça-feira, no CineTeatro.

A abertura oficial do III Festeco trouxe como carro chefe a apresentação da peça de drama “The Wall”. Interpretada pelos estudantes do terceiro ano da Escola Estadual João Ramos Filho, sem sede própria, mas situada no Bairro Cabanas, e inspirada no décimo primeiro álbum da banda de rock progressivo Pink Floyd, o espetáculo falou de intolerância, preconceito, criticou o fascismo e os regimes totalitários.

Elementos conceituais da ópera rock The Wall, todos centrados no personagem fictício Pink (baseado no vocalista da banda, Waters) como o abuso de professores, uma mãe superprotetora, a perda do pai durante a Segunda Guerra Mundial e o fracasso das relações amorosas, não ficaram de fora.

Daniele Nascimento, estudante da Escola Estadual João Ramos Filho, foi uma das atrizes que integram o elenco da peça. A jovem de 17 anos falou dos elementos conceituais trazidos do álbum da banda britânica para o espetáculo apresentado após um ano de ensaios.

“A peça quer levar as pessoas a refletir sobre os muros que muitas vezes, por medo do diferente e pela intolerância, construímos em volta de nós mesmos. Quem assistiu à peça com um olhar crítico foi capaz de identificar essa forte crítica social”.

Estudante da mesma escola, Jéferson Braga, de 18 anos, falou da importância do teatro enquanto manifestação artística. “É o meio de mostramos para a sociedade o que estamos vivendo hoje, além de ser uma forma de nos expressarmos por meio do teatro. Sem falar no vínculo que criamos com o público. Isso é muito importante, no sentido de darmos vasão aos nossos sentimentos e interagirmos com a sociedade, levá-las à reflexão”.

A voz da periferia

De acordo com os organizadores do evento a terceira edição do Festeco – Festival de Teatro Comunitário de Mariana, é mais do que nunca uma ferramenta da voz periférica de Mariana. Voz que não se encaixa na nova política de ódio e do fim da cultura. “Trazemos a palavra comunitário como elo primordial com que realmente faz o festival acontecer. Fazer teatro em meio a tanta impossibilidade construída no cenário político atual é uma atitude política”.

Vale ressaltar que nessa edição o festival tem como patrocinador o Governo do Estado de Minas Gerais e acaba de entrar na Rede Minas de Teatro.

Gabriel Cafuzo, mestre em artes cênicas e um dos fundadores do festival explica que o evento tem a sua essência totalmente ligada às escolas públicas de Mariana. A iniciativa, de acordo com Cafuzo, só é possível por meio de pessoas como Juliana Conti, outra idealizadora do projeto, demais grupos de teatro da região e inúmeros jovens que fazem a coisa toda acontecer.

Sobre a expectativa do evento, Gabriel Cafuzo comentou: “A tendência é só melhorar, tem muita gente de fora a caminho para a Fase Nacional, que acontece de 16 a 22 de setembro. Teatro é resistência, a nossa ferramenta, a nossa arte. As perdas para a cultura no atual momento são inúmeras e violentas, mas isso nos dá forças para agir em coletivo e no âmbito comunitário, buscando autonomia artística e a manutenção do amor que a arte carrega”.

Com a fala, as juradas

Além de uma das juradas do III Festeco, Lili Silva é professora de História e atua com projetos sociais que levam teatro às escolas municipais em São Paulo. A educadora comentou a peça de estreia no Festeco.

“Sinceridade, eu ainda estou sem fôlego. Nós estávamos comentando o trabalho magnífico que esses meninos e meninas compartilharam conosco nessa noite. Uma peça bem ensaiada, munida de crítica social. Um verdadeiro retrato do que estamos presenciando hoje no país”.

Também parte integrante do júri, Luciene dos Reis, educadora social, atriz e moradora de Juiz de Fora (MG), comentou o espetáculo apresentado pelos adolescentes da Escola Estadual João Ramos Filho.

“O teatro é a voz capaz de ressoar e calar a voz da desigualdade. Além de ser uma forma eficiente de conscientizar a população, agora mais do que nunca, levando em consideração o nosso atual contexto político e social”.

Fases estudantil e nacional

A fase estudantil do Festeco – Festival de Teatro Comunitário de Mariana 2019 acontece entre os dias 10 e 15 de setembro. Já a fase nacional, acontece de 16 a 22 do mesmo mês. Cerca de 40 grupos de teatro de todo o país devem passar por Mariana nesse período. A terceira edição do Festeco presta homenagens a Carlos Alberta da Cunha, o Carlinhos, com o Troféu Técnico e a Tânia Arantes, com o Troféu Artístico. O reconhecimento se deve ao fato de os dois sempre terem prestado incansáveis contribuições à difusão da arte e da cultura na região.

Clique nas imagens abaixo para ampliá-las e veja mais detalhes da estreia do Festeco 2019, em Mariana. Todas as fotografias são de autoria do repórter João Paulo Teluca Silva/Jornal Voz Ativa, sendo proibida o uso indevido ou reprodução sem autorização prévia.

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