Por Dalília Caetano
A Charanga de Lata, que por muito tempo alegrou o carnaval de Ouro Preto está de volta. Repleta de energia e irreverência os seus fundadores decidiram arregaçar as mangas e recriar os instrumentos com as antigas latas, que eram tocados durante os desfiles das agremiações no carnaval de Ouro Preto, na década de 1960. A agremiação estará nas ruas, este ano, novamente, com seu som inconfundível das latarias.
Antigamente conhecida pelo mesmo nome do Bairro conhecido como Conjunto Brito Filho, na região da Terceira (Antônio Dias), a Charanga, criada por ex- funcionários da antiga fábrica Alumínio Minas Gerais, atual Hindalco, surgiu nos momentos de folga do almoço, quando os empregados pegavam as latas vazias que armazenavam o carbureto, usado na produção soldas acetilênicas e começavam a tocar para distrair. Animados com o agito do batuque que a cada dia adquiria proporções maiores, o grupo decidiu sair para brincar durante o Carnaval de Ouro Preto.
No intuito de assemelhar o som das latas ao som dos instrumentos das agremiações, como Zé Pereira dos Lacaios, Charanga do Carlota e Bandalheira que disputavam o carnaval da cidade, o grupo resolve forrar as latas com uma camada de couro para melhorar o som, no entanto, esse trabalho não foi possível de ser realizado antes do carnaval daquele ano. Os componentes decidem sair nas ruas tocando as latas sem o couro, o que deu certo e se tornou a marca da Charanga. Até hoje a regra é que se ouça somente sons vindo do metal. Com o som peculiar e a surpresa das latas, o Grupo se tornou campeão de vários carnavais na cidade.
O Conjunto, que era formado por moradores da ladeira Santa Efigênia, Bairro Padre Faria e Terceira, que saiam vestidos com ternos pretos, camisas brancas e sapatos sociais, caiu no gosto popular e se manteve desfilando no carnaval por 12 anos.
A iniciativa de resgatar a Charanga quatro décadas depois foi do carnavalesco e percussionista Geraldo Roque Fernandes, o Itatiaia, que junto de outros veteranos que fizeram parte do grupo original estão contribuindo para o renascimento dos velhos carnavais da cidade.
“Desfilei na Charanga de Lata somente por duas vezes quando jovem, mas sempre guardei um carinho especial por esse grupo. Em 2009 decidi procurar por latas usadas na antiga fábrica para refazer os instrumentos com aquele som especifico. O objetivo é de resgatar a história da Charanga na sua essência, para que as novas gerações tenham conhecimento e entendam o ressurgimento da Charanga. Este ano com o apoio de companheiros como o Danilo Cambeba, Ricardo Fubá e muitos outros, iremos sair com cerca de 40 instrumentos nas ruas. O apoio dos ex-membros da escola de Samba Sinhá Olímpia que, além de ceder o espaço do galpão para guardarmos os instrumentos, nos ajuda a reformá-los é fundamental para reativar a Charanga,” destaca Itatiaia.
A Charanga de Lata desfilará na sábado e na segunda-feira de carnaval a partir das 16h, com concentração em frente à Escola Dom Pedro II, Centro de Ouro Preto.
Os componentes convidam a população que não conheceu a Charanga, que venha curtir esse resgate de umas das tradições do Carnaval de Ouro Preto. Os que viram a Charanga desfilar entre as décadas de 1960 e 1970, poderão relembrar esses momentos. Turistas poderão, com a volta da Charanga, se aprofundar na história do carnaval da cidade.
Por Dalília Caetano
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