Sucesso nas décadas de 1980 e 1990, os dois movimentos ganham uma reedição neste sábado de pré-carnaval, dia 26 de fevereiro
Bailes à fantasia nos clubes, crianças atrás do Zé Pereira e dos catitões, escolas de samba em desfile na Praça Tiradentes. Assim era o carnaval de Ouro Preto até 1982, quando a cidade conheceu a Janela Elétrica, ideia do fotógrafo Eduardo Tropia que praticamente inaugurou a folia nas ruas do centro. Para dar início às comemorações de 30 anos do movimento, neste sábado, 26 de fevereiro, a cidade relembra com festa como tudo começou. O evento segue a linha de resgate da memória proposta pela Prefeitura Municipal para 2011.
Era um domingo de carnaval quando o fotógrafo estava na janela de casa, na rua São José. Um casal de amigos vindos da Bahia que passava por ali naquele momento se disse decepcionado por não haver música animada nas ruas. “Não pensei duas vezes: peguei meu som e meus discos e coloquei na varanda. Aos poucos, as pessoas foram se aglomerando: em um dia cinquenta, no outro duzentas, e por aí foi”, conta Tropia. No mesmo ano ele batizou o feito. “Minha janela fazia o mesmo papel que os trios em Salvador. Daí o nome Janela Elétrica. Mas foi algo totalmente espontâneo, sem intenção comercial, só para divertir as famílias da cidade”, explica.
Por causa do sucesso, no ano seguinte, a prefeitura passou a colaborar com a sonorização. Eduardo relata que já eram mais de duas mil pessoas dançando as músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee e de novidades do rock nacional que começavam a despontar. O jeito foi profissionalizar o negócio e, em 1984, a Janela Elétrica se tornou um bar. As portas fecharam em meados de 1985, mas foram reabertas no carnaval de 1986 em um novo local: 200m² de ruínas de uma loja que tinha sido destruída pelo fogo na mesma rua São José.
Além da decoração original, Tropia ressalta que a Janela Elétrica também era uma espécie de galeria de arte. Quadros de Sussuca, Vandico, Anamélia e outros artistas de Ouro Preto ficavam expostos ali e, segundo o fotógrafo, tinham venda certa. Outras histórias curiosas são sempre relembradas por quem frequentou o lugar, como o carnaval de 1984, quando os foliões da Janela desligaram o som à meia noite e leram um manifesto de apoio à campanha Diretas Já. Em seguida, a festa continuou ao som de Vai Passar, de Chico Buarque.
Ou ainda quando, em uma tarde, um ouro-pretano que ia a caminho da padaria passou na porta do bar. Foi logo recrutado para acompanhar a bebedeira dos que já estavam lá, retornando para casa apenas no dia seguinte e sem o pão, que, àquela altura, acabou incorporado ao tira-gosto. Resultado: os frequentadores da Janela Elétrica redigiram uma carta de desculpas a esposa do amigo.
Por motivos diversos, a Janela Elétrica terminou de vez, depois de um único retorno em 1992. Mas grande parte das histórias está registrada em um livro de depoimentos que, assim como um breve filme que registra passagens do carnaval dessa época, será exibido no sábado, a partir das 16h, na rua Gabriel Santos, 16, Largo do Rosário.
Os mistérios da Janela Erótica
Se a Janela Elétrica foi o ícone do carnaval de Ouro Preto nos anos 1980, na década seguinte só se falava na Janela Erótica. Há exatos 20 anos, três jovens ouro-pretanos resolveram inovar com uma ideia bastante ousada. Em frente a um bar inaugurado por eles na mesma época, criaram uma tela branca com um refletor que projetava a sombra de mulheres e homens nus. A graça estava no mistério: quem eram aquelas pessoas? Estavam elas realmente nuas?
O mistério da brincadeira atraia os olhares de quem passava pela rua São José e a Janela Erótica acabou se tornando um sucesso. Este ano, a tela está de volta na mesma rua. Júlio de Paula, um dos fundadores do projeto, conta que a retomada da atração faz parte da ideia de homenagear os antigos carnavais de Ouro Preto. “Este ano a nossa dançarina será ouro-pretana, um diferencial interessante”, relata.
O lançamento da Janela Erótica será no sábado, 26 de fevereiro, na Tribus Choperia, a partir das 22h.
Deixar Um Comentário