Nesse Carnaval o Sanatório Geral comemora 13 anos de alegria e tradição nas ruas de Ouro Preto (MG). Criado em 2004 pelo ouro-pretano Gilson Albuquerque, o bloco é conhecido por homenagear personalidades tradicionais e excêntricas da cidade. Esse ano, seguindo o costume, rende homenagens a mais uma figura ilustre: o Tião dos Doces.
Você até pode pedir ao doceiro Sebastião da Circuncisão da Silva, de 87 anos, para lhe vender um doce fiado. Provavelmente não alcançará o seu objetivo, mas o seu dia certamente ficará mais doce. “Tião, vende fiado aí? Fiado eu não tenho, só vendo doce”, devolve. Toda essa irreverência, além de 47 anos de doçura e poesia, renderam a Tião dos Doces a homenagem do Bloco Sanatório Geral. “Estou muito feliz. Para mim foi uma surpresa, porque eu não sabia que ia ser homenageado”.
Tião é bastante conhecido e respeitado em Ouro Preto e na cidade vizinha, Mariana. Com 87 anos e aposentado da antiga empresa de minério Alcan, onde era operador de ponte rolante, há 47 anos fabrica e vende seus doces para complementar a renda. Poeta e músico, já tem livro publicado pela Editora UFOP - “Histórias de Ouro Preto em Poemas”. O Cidadão Honorário de Ouro Preto, título recebido pela Câmara Municipal no ano passado, explica que “a arte de fazer doces veio da família, mas com o tempo foi aperfeiçoando cada vez mais”.
Apesar da idade e do corpo parecer pedir descanso das duras ladeiras de Ouro Preto, Tião está sempre bem vestido e alegre. E os doces, sempre no aumentativo - Cocão, cajuzão, brigadeirão – dispostos com cuidado no tabuleiro. “Não é mais tabuleiro, agora é caixa”, corrige Tião. Assim como Ouro Preto, seus doces são tradicionais, históricos. Mas não são apenas os doces que passam a noção de grandeza. Há uma alma enorme naquele corpo também enorme. Basta avistar uma criança, nos intervalos entre uma venda e outra, para soltar a voz grave de alegria. “É só cocada? Você come e se satisfaz. É o Tião quem faz. Atrasei porque acabou o gás. Mas amanhã pode ser que eu não venha, porque acabou a lenha”. É dessa forma peculiar que Tião leva a sua vida, enchendo de doçura a vida dos cidadãos ouro-pretanos.
Sanatório Geral
De acordo com Gilson Albuquerque, o Gilsinho, presidente do Sanatório Geral, o bloco começou com a ideia de resgatar, ou seja, recuperar algo que se perdeu. Ele está se referindo a “trazer de volta os antigos carnavais de Ouro Preto”. Fazendo uma referência clara à música “Vai Passar”, de autoria do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, foi que o bloco nasceu. E também abraçando a causa do Movimento da Luta Antimanicomial no Brasil. Esse movimento se caracteriza pela luta aos direitos das pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, idéia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença.
“Nesse quesito a cidade de Ouro Preto está de parabéns, pois nós sabemos conviver muito bem com a diferença e muitas figuras já foram homenageadas como: Nei Cocada, Chica, Itatiaia, Jair Será Possível, Valdir do Radinho, Ninica, Vandico, Carlota e todas essas personalidades marcantes, que viveram ou vivem na cidade”, lembrou Alburquerque.
No sábado de Carnaval - mais uma vez parafraseando Chico Buarque e sua música que inspirou o bloco - “cada paralelepípedo da velha cidade irá se arrepiar”, o Sanatório Geral desfila às 17h. Saindo do Pilar o trajeto será: Rua da Escadinha, Rua São José, Praça do Cinema, Rua Direita, Praça Tiradentes, Rua das Flores, voltando ao ponto de partida.
“Vamos nos divertir. Venham dar um abraço no Tião dos Doces. Carnaval não se vende, se brinca”, convidou Gilsinho.
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