22ª Reunião da Câmara de Ouro Preto
Clique play e assista

Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo comemora 155 anos de fundação no próximo domingo (08/09)

A Banda de Baixo, como também é conhecida a agremiação musical do distrito de Ouro Preto, recebe homenagem da Bandalheira Folclórica Ouro-Pretana.

Home » Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo comemora 155 anos de fundação no próximo domingo (08/09)
Por João Paulo Silva Publicado em 03/09/2019, 16:18 - Atualizado em 04/09/2019, 19:03
Foto-Fundada em 1864, a Sociedade Musical União Social comemora 155 anos neste fim de semana. Siga no Google News

"Todo mineiro tem um trem de ferro apitando nas veias, uma montanha brilhando nos olhos e uma banda tocando nos ouvidos." A frase acima, autoria do jornalista belo-horizontino Jorge Fernando dos Santos, consegue condensar em poucas palavras muito da tradição em Minas Gerais.

Mas como o interesse dessa matéria é a música, vamos falar de agremiações musicais, ou bandas de música. Para deixar de “comer pelas beiradas”, expressão que todo mineiro conhece bem o significado, vamos ser mais diretos e falar de uma das mais importantes agremiações musicais de Ouro Preto.

Celebração

A Sociedade Musical União Social, de Cachoeira do Campo, completa no dia 08 de setembro 155 anos de existência com uma super homenagem da Bandalheira Folclórica Ouro-Pretana. A festa com a tradicional agremiação carnavalesca da cidade histórica acontece a partir das 14h.

E se engana quem pensa que a comemoração termina com a ilustre homenagem. A Sociedade Musical União Social também convida toda a comunidade a participar do Encontro de Bandas na Praça da Matriz, no dia 15 de setembro, a partir das 10h. Haverá também Alvorada a partir das cinco horas da manhã, passando pelas principais ruas do distrito.

Em razão dessa data tão especial para a cultura ouro-pretana, a equipe de redação do Jornal Voz Ativa, bateu um papo descontraído com Silvino da Costa Pimenta. É por meio dele que vamos conhecer um pouco mais sobre essa rica e tradicional expressão cultural que completa mais de um século e meio de vida no mesmo dia em que se comemora a padroeira Nossa Senhora de Nazaré.

Foto-Cachoeira do Campo já se prepara para comemorar os 155 anos da Banda de Baixo. Crédito-Divulgação.

Além de presidente da Sociedade Musical União Social (a Banda de Baixo, como também é conhecida a agremiação), Silvino é o músico mais antigo ainda em atividade no distrito. O ex-integrante da Banda “Os Boys”, do Colégio Dom Bosco que chegou a emocionar os jogadores do Cruzeiro do Sul Esporte Clube ao tocar um trompete não mais usado há bastante tempo nos anos 70, relata:

“Do alto dos meus 56 anos, quatro décadas foram dedicadas à música. É claro, existem músicos mais velhos, mas eu sou o mais antigo, pois nunca abandonei a atividade”.

A paixão pela música é tão grande em Silvino que a formação na área de Metalurgia, Mecânica e Geografia, além de uma pós-graduação em Gestão Ambiental, não impediram que ele conciliasse a carreira com o amor pela “Banda de Baixo”, como também carinhosamente é conhecida a Sociedade Musical União Social. O seu primeiro mandato como presidente durou 12 anos e agora ele está prestes a completar mais seis.

Foto-Silvino da Costa Pimenta, presidente da Sociedade Musical União Social. Crédito-Divulgação.

Por sua dedicação incondicional à banda e pelos vários anos de trabalho, Silvino foi homenageado com uma música que leva seu nome. A canção foi composta pelo Maestro, Capitão Reformado Pedro Simeão Guilherme, que também foi maestro por 15 anos da Banda do Palácio.

A Banda de Baixo

Mas afinal, por que a Sociedade Musical União Social que tem sonoridade até no nome também é chamada de Banda de Baixo?

“A Sociedade Musical União Social é conhecida popularmente como “Banda de Baixo”, por possuir sua sede na parte baixa de Cachoeira do Campo. A instituição mantém-se através das gerações com o mesmo espirito de liberdade, preconizado pelos seus fundadores, sob clima de companheirismo na dedicação à Cultura Musical”, explica o músico.

Uma história de disputa

Um coreto, uma pracinha, choros, marchas, valsas e dobrados. Essa combinação está presente em muitas cidades mineiras. Aliás, existe algo mais mineiro do que uma banda de música tocando na pracinha nos arredores da Igreja Matriz? Talvez poucas pessoas conheçam a verdadeira história da Banda de Baixo.  O relato de Silvino traz um pouco dessa interessante trajetória.

O professor explica que em 1864, surgiu em Cachoeira do Campo por forças de divergências políticas, dentro de uma banda pré-existente, a Sociedade Musical “União Social”.

“Isto porque, o então regente da banda pré-existente, renunciou ao cargo e, por coincidência, os dois candidatos que se colocaram na disputa, eram adversários políticos, militares dos dois partidos em vigor no segundo império, o Conservador e o Liberal”.

O fundador da banda pré-existente era um dos próceres do partido conservador local, sua influência foi exercida no sentido da escolha do correligionário Francisco Carlos de Assis Ferreira, o “Mestre Chico”.

“Percebida a manobra política, os músicos da ata liberal se rebelaram, desligando-se em seguida da banda pré-existente para fundar a que foi denominada “Sociedade Musical União Social” sob a liderança e regência do mestre preterido, João Gonçalves de Magalhães”.

Responsabilidade Social

Muitos anos se passaram, as rixas e disputas políticas ficaram de lado, mas a Banda de Baixo continuou e segue cumprindo, entre outras, uma importante função, a educação musical.

Ao longo de todos esses anos, sempre ligada à arte, a Sociedade Musical União Social, consolida sua responsabilidade social na preservação e educação artística de muitas gerações.

A Escola de Música ”Randolpho José de Lemos” é destinada a praticar e difundir a arte musical gratuitamente, visando a cultura, o folclore da região, a disciplina, a recreação e a formação do cidadão.

“Sem fins lucrativos, apoio do poder público ou fonte de renda, a banda é mantida por projetos estaduais que raramente acontecem e também pelos “amigos da banda”, destaca Silvino.

Ano passado, a agremiação musical recebeu da Secretaria da Cultura do Estado, seis novos instrumentos musicais, o que é raro acontecer, visto que qualquer doação só pode ser realizada por meio de projetos. Em 2016, a banda também foi presenteada por uma empresa de transporte público com a doação de camisas para compor o seu uniforme.

Outra preocupação da Sociedade Musical União Social, além de encontrar meios de se auto financiar, é a inclusão, a quebra de paradigmas e o andar de braço dado com um mundo que já não é mais o mesmo de 1864.

Foto-Bandalheira Folclórica Ouro-Pretana prestará homenagem à Banda de Baixo no próximo domingo (08/09). Crédito-Divulgação.

“Com um efetivo de 40 musicistas, há alguns anos, a banda era constituída exclusivamente de homens. Hoje, meninos e meninas, rapazes e moças integram as fileiras da agremiação musical. O ensino musical e a preparação de novos instrumentistas estão confiados ao Maestro e Capitão Reformado Pedro Simeão Guilherme”.

Com seus uniformes impecáveis, sapatos engraxados, os tradicionais quepes na cabeça, muita música nas veias e no coração os músicos da Sociedade Musical União Social continuam exercendo o seu ofício (que é também paixão pela arte) e se provam essenciais na vida social e na difusão da cultura de Ouro Preto. Que venham mais 155 anos de amor, incentivo e paixão pela arte das musas.

Deixar Um Comentário