Forum das Letras acontece entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro, em Ouro Preto

Essa é a 17ª edição do evento promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e terá como tema 'Mulheridades'

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 22/11/2022, 10:55 - Atualizado em 22/11/2022, 10:55
Foto – Fórum Das Letras, 2017. Crédito – Reprodução / Divulgação. Siga no Google News

Guiomar de Grammont acaba de voltar de uma turnê exaustiva pela Alemanha, onde lançou a edição alemã (Die Schatten von Araguaia) de seu romance Palavras Cruzadas (Rocco). Além de três eventos na Feira de Frankfurt, a escritora fez lançamentos em Karlshue, Darmstadt, Berlim, Mainz, Heidelberg, Leipzig e voltou a Frankfurt para participar de eventos no Hauptwache Cafe, na livraria TFM e na emblemática Paulskirsche, a Igreja que foi totalmente destruída na Segunda Guerra Munial e se tornou um dos mais importantes centros de convenções da Alemanha.

No dia 21 de novembro, Guiomar participa do vernissage da exposição La maison de Clarice, na Aliança Francesa de Brasilia, da qual foi organizadora e curadora, juntamente com Vincent Zonca, Léo le Berre e Roberto Pedretti e, agora, lança a programação da XVII edição tradicional Forum das Letras, evento literário da Universidade Federal de Ouro Preto, de forma híbrida, presencial e on line, de 29 de novembro a 02 de dezembro, com o tema ‘Mulheridades’.

Realizado praticamente sem recursos, o evento continua, porém, denso e elegante como sempre, sob a coordenação das professoras Guiomar de Grammont, idealizadora do evento, e Mônica Gama, do curso de Letras da UFOP, que assinam também a curadoria, juntamente com a professora Marta Maia, do Curso de Jornalismo, Tatiana Ribeiro de Souza, do Curso de Direito e Alessandra Vannucci, professora da UFRJ, curadora da homenagem ao Centenário do cineasta e poeta Pier Paolo Pasolini no Forum das Letras. Homenagem que ocorrerá com debates on line com grandes especialistas da Itália e do Brasil. Participam da organização também Claudineia Guimarães, o escritor e performer Julliano Mendes e os alunos da UFOP, Gabriela Moura e Lucas de Assis Sena Santos.

Refletindo sobre o tema, a coordenadora geral do evento, Guiomar de Grammont, observa que «a ampliação das políticas sociais, incrementando as condições de vida da população em geral, fomentou a melhoria de alguns indicadores sociais das mulheres e grupos LGBts na área de saúde e educação. No entanto, essa melhoria ainda não é suficiente para colocá-los em situação de igualdade de condições em outras esferas, como o mercado de trabalho e os espaços de tomada de decisão ». Guiomar, acrescenta que «a expressão desse movimento se deu sobretudo através de obras literárias e ensaísticas.

Foto - Fórum Das Letras, 2017. Crédito - Reprodução / Divulgação.

O Forum das Letras 2022 colocará em cena essas vozes que, por muito tempo foram silenciadas e que, hoje, dominam a produção literária da contemporaneidade». A professora Mônica Gama acrescenta que a luta pela garantia dos direitos das mulheres fez nascer o feminismo, movimento social e político que pretende conquistar o acesso a direitos em condições de equidade entre os gêneros, luta que repercute também nos direitos dos grupos LGBTs.

O evento, que recebeu Laerte em 2015, neste ano terá em sua abertura a participação da deputada estadual trans, Duda Salabert. Professora de literatura, ambientalista, e ativista filiada ao Partido Democrático Trabalhista, Duda Salabert se notabilizou em 2018, por ser a primeira pessoa transgênero a se candidatar ao cargo de Senadora da República. Agora, como deputada federal mais votada da história de Minas Gerais, tem muito a dizer sobre o futuro da Universidade e a inclusão dos grupos sociais marginalizados que se espera do Governo Lula, depois de anos de obscurantismo e desmonte das políticas públicas no país.

O Canal Futura trouxe um importante apoio para o Forum das Letras, com a exibição de filmes relacionados com o tema do evento, comentados por professores da universidade: Libertem Angela Davis, documentário que retrata a vida de Angela Davis, uma professora conhecida por seu profundo engajamento em defesa dos direitos humanos, símbolo da luta pelo direito das mulheres, dos negros e dos oprimidos. O outro filme é A Academia das Musas, filme em que um professor de filologia promove um seminário sobre o papel das mulheres como inspiração e musas da literatura.

A relação entre o cinema e a literatura será um dos focos mais importantes do evento, com o lançamento da obra Edição, livros e leitura no cinema, pesquisadores comentam filmes que têm a edição como eixo norteador da narrativa, oferecendo ao público em geral relevantes discussões sobre o livro (e o seu futuro), os diferentes suportes e circulações, as práticas sociais da leitura, abordados também na palestra de Sergio França, editor que participa do Forum das Letras com uma conversa sobre como publicar um livro ou um artigo. Em seu estudo sobre a atuação pioneira do editor Francisco de Paula Brito (1809-1861), Bruno Martins participa do evento mostrando que o cinema no Brasil é mais antigo do que se imagina: na segunda metade do século XIX, a imprensa ilustrada dava os seus primeiros passos, aproximando de uma forma inédita as figuras do leitor e do espectador.

Foto - Fórum Das Letras, 2017. Crédito - Reprodução / Divulgação.

Uma viagem fascinante pelo passado, nesse evento de profundidade acadêmica é a conversa entre os helenistas Jacyntho Lins Brandão e Alexandre Agnolon, sobre a transposição para o português, realizada por Jacyntho, de outro poema babilônico, Epopeia da criação, conhecido também como Enuma Eliš, como a elogiada tradução comentada que realizou antes da Epopeia de Gilgamesh. o Enuma Elis foi composto há pouco mais de três mil anos, na língua do ramo semítico identificada em meados do século XIX e chamada “acádio” pelos estudiosos que a decifraram, em referência à cidade de Akkad, capital do império de Sargão, no século 24 a.C.

O texto foi localizado em 1849 nas ruínas da biblioteca do rei Assurbanípal, em Nínive (próximo da atual Mossul, no Iraque). Enuma Eliš descreve a teogonia e a cosmologia dos babilônios: a criação do mundo, a luta entre os deuses pela supremacia, a criação da humanidade para servir a divindade. Diversas passagens de alto valor poético contêm episódios que foram aproveitadas em literaturas posteriores, como as mitologias assírias e os escritos bíblicos do Gênesis.

A poesia contemporânea é o mais lido dos gêneros literários, apesar de raramente encontrar lugar nas grandes editoras. Da poesia tradicional, às bricolagens poético-musicais e experimentações video-poéticas, passando pelo universo da chamada « Poesia marginal » como um caminho de transgressão de convenções literárias, ela terá, como sempre, um papel fundamental no Forum das Letras. Estarão no Forum os poetas Kiko Ferreira, que celebra 40 anos de poesia com o lançamento do livro Tempo Diverso, Alicia Duarte Penna, Mario Alex Rosa, Emilia Mendes, Carlos Melo, Rômulo Ferreira, Isaías Gabriel Franco, Ana Lidia, Nino Stutz, jornalista e autor premiado de literatura infanto-juvenil.

Foto - Fórum Das Letras, 2017. Crédito - Reprodução / Divulgação.

Contudo, a mulher estará no centro das discussões, como nas obras densas e instigantes de pensadoras dos domínios da literatura, da filosofia e da arte, mulheres comprometidas com seu tempo, como Leca Kangussu, Junia Carvalho, Celina Lage Ângela Xavier e a brasileira radicada em Berlim, Carla Bessa, que ganhou o Jabuti com o livro de contos Urubus. Da mesma forma, o coletivo Mulherio das Letras do Brasil e de Portugal conduzirá um Sarau na Livraria Ourtras Palavras no dia 2 de dezembro pela manhã, juntamente com todos os poetas participantes do evento.

O coração das atividades do Forum das Letras será, porém, o Anexo do Museu da Inconfidência, onde acontecerão todas atividades nos dias 30 de novembro e primeiro de dezembro, a partir das 10 da manhã, tendo a Outras Palavras como a livraria oficial. No dia primeiro de dezembro, o dramaturgo, diretor e ator Julliano Mendes encerrará as atividades no pátio do Anexo realizando, junto com Henrique Rocha, a performance intitulada LITERATURApraDANÇAR, uma reverência a cordelistas, repentistas e rappers, que trabalham na intersecçao entre narrativa e som, palavra, música, projeção de vídeo, beats, política e poesia.

Intitulada « PASOLINI PASSOU POR AQUI », a jornada internacional em homenagem ao poeta, ensaísta e diretor de cinema Pier Paolo Pasolini (1922-2022) acontecerá no dia 7 de dezembro, com duas mesas on line: às 11 horas da manhã, Rino Caputo, da Università Tor Vergata, Maura Locantore, da Université de Poitier e Juri Brunello, da Universidade Federal do Cearà / Università di Genova falarão sobre « Pasolini e a literatura », sob a mediação e tradução do professor Alex Calheiros de Moura, diretor do Museu da Inconfidência. Às 15 horas, Ivana Bentes, da ECo-UFRJ, Pro-Reitora de Extensão, Luisa Stagi, da Università di Genova e Alessandra Vannucci, da ECo-UFRJ e Università di Genova, irão conversar sobre « Pasolini e a sociedade » sob a mediação de Guiomar de Grammont, da UFOP, Coordenadora do Forum das Letras.

Nesses 16 anos de Forum das Letras, o evento recebeu alguns dos mais importantes escritores da atualidade, como Milton Hatoum, Adelia Prado, Ferreira Gullar, Moacyr Scliar, Affonso Romano de Sant’Ana, Marina Colasanti, João Ubaldo Ribeiro, Marcio Souza, os portugueses José Luiz Peixoto, Valter Hugo Mãe, Isabel Lucas, o moçambicano Mia Couto e o angolano Luandino Vieira, entre tantos outros. Passaram pelo Ciclo de Jornalismo nomes como João Moreira Sales, Lira Neto, Eliane Brum, Humberto Werneck, Mário Magalhães, Fabiana Moraes, Daniela Arbex, Audálio Dantas, entre outros grandes nomes do jornalismo brasileiro.

Foto - Fórum Das Letras, 2017. Crédito - Reprodução / Divulgação.

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