“Sobreviventes”, leia na coluna de Valdete Braga

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Por Valdete Braga Publicado em 06/04/2022, 17:41 - Atualizado em 06/04/2022, 17:41
A escritora Valdete Braga
Foto – A escritora Valdete Braga. Crédito – Reprodução. Siga no Google News

Aos poucos e com todos os cuidados, estamos voltando ao mais próximo que conseguirmos da realidade pré-pandemia. Não tem como nos iludirmos que a vida será como antes, porque isto é impossível, mas vamos nos adaptando à nova realidade imposta. Que reviravolta deu o mundo!

Somos todos sobreviventes. O vírus ainda está presente e ainda demanda cuidados, mas vacinados e cuidadosos, sempre atentos e na medida do possível, estamos retornando, o que nos torna remanescentes de um tempo histórico, que será lembrado pelas gerações futuras como um dos mais tristes do mundo.

Tantos foram vitimados nestes tempos, tantas famílias choram por seus entes queridos e nós estamos aqui, com nossas marcas também (quem não as tem?), mas vivos para contar nossa história.

Quando falo em sobreviventes, refiro-me, obviamente, às pessoas conscientes e responsáveis no processo, que deram o seu melhor, fizeram a sua parte, e agora retornam ao cotidiano.

Não me refiro a outros que se negaram ao óbvio, que saíram, em sua visão rasa, “ilesos”, aqueles que ajudaram o vírus a circular, conscientes disso e “não pegaram nada”, alegando a sua superioridade insana de que “comigo não acontece”. Com muitos destes realmente “não aconteceu”, continuam exatamente a vida que viveram durante a pandemia, em festas, viagens, bebedeiras, “sem terem nada”.

Estes arvoram-se mais do que nunca de sua superioridade, ignorando mais de 650 mil óbitos ocorridos no que “para eles” não teve consequência. Pobre mentalidade essa! Mal sabem esses pobres seres que a consequência para eles há de ser mais triste do que o visível aos olhos, uma consequência da qual ninguém escapa, independentemente do tempo ou espaço.

Quantos que hoje comemoram “não tivemos nada” levaram a morte a outros? Quantos se aglomeraram sem necessidade, por teimosia ou orgulho, e hoje se sentem “vitoriosos” pela “sua” saúde e podem ter assassinado outros? Quantos, assintomáticos, podem ter buscado o vírus, disseminado em família, no trabalho, entre amigos, e hoje comemoram a sua vitória sobre a tragédia de outros? Nós nunca saberemos, mas eles uma hora saberão, e quando entenderem, coitados deles!

Enquanto isto os verdadeiros sobreviventes agradecem, sem se preocupar em comemorar, porque foi muita dor para se usar esta palavra. Seguem agradecidos e conscientes de terem feito o que podiam. Estes, mesmo com a dor por terem perdido alguém, sabem que jamais carregarão culpa, e a dor sem culpa é muito atenuada.

Sigamos, gratos e cuidadosos, para um novo mundo do qual ainda não sabemos o que esperar, mas levando esperança e certeza de sermos merecedores.

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