Por Valdete Braga Uma amiga é aposentada por invalidez e sua aposentadoria é de um salário mínimo. Seu tratamento inclui 7 (é isso mesmo, sete) tipos de medicamentos. Destes sete, a UPA disponibiliza três, e os outros quatro ela precisa comprar. Com o devido tratamento e a dieta prescrita pelo médico, ela tem uma vida normal, com algumas restrições, mas nada que a impossibilite de seguir em frente como qualquer um de nós. Nesta semana, quando foi buscar os medicamentos disponibilizados pela UPA, foi informada de que não tinha mais direito aos mesmos, por possuir plano de saúde. Quando veio me contar, eu já sabia, mas deixei que ela desabafasse, pois era o que precisava naquele momento. Situação complicada. Pela condição dela, o plano de saúde é imprescindível, e ela paga com muito sacrifício, o que não significa, de maneira nenhuma, que ela tenha condições de pagar pelos sete remédios. Quando ela me perguntou “como eu vou fazer agora?” obviamente fiquei sem resposta. O ideal, todo mundo sabe, é que o SUS disponibilizasse todos os remédios realmente necessários a quem realmente necessita, pois este “u” não está na sigla à toa. Não se trata de Sistema Único de Saúde? Mas todos sabemos também que o nosso sistema de saúde está longe de ser o ideal. Não vou aqui questionar o decreto municipal, porque não o conheço, não li, não sei os motivos que levaram a ele e não tenho conhecimento técnico para isto. Não posso falar, a favor ou contra, do que não entendo. Não entendo as razões políticas ou técnicas. Mas de gente eu entendo. Ah, como entendo! Estamos tão preocupados com o caos que vivemos a nível nacional, que nos esquecemos de olhar para o que acontece ao nosso lado. Não foi assistindo televisão que ouvi alguém perguntar “como eu vou fazer agora?”. Foi na minha sala, ao meu lado, assentada no meu sofá. Não foi em nenhum cartaz de manifestações “Fora Temer” que esta frase estava escrita. Veio da boca de uma amiga, ouropretana, conhecida, com quem convivo e a quem vejo todos os dias. Quantos ouropretanos estarão também ouvindo isto de amigos? E quantos outros estarão vivendo isto na pele? Bem aqui, pertinho de nós. Correndo o risco de tornar-me repetitiva, vou insistir que não falo da questão política. Não é esta a intenção do texto. Peço a você, que está lendo estas linhas, que por um segundo, só por um segundo, esqueça política, partido, esqueça em quem você votou, se conseguiu emprego para você ou algum familiar, se deve favor, seja o que for, só por um segundo. Não pense nada disto e coloque-se no lugar desta minha amiga e de tantos ouropretanos que estão passando pela mesma situação. Esqueça de que “lado” você está, se é situação, oposição ou nenhum dos dois e imagine-se chegando na UPA para pegar aquele medicamento controlado que você não pode ficar sem e sendo punido por ter um plano de saúde. Imagine você voltando para casa sem o remédio, vendo o último comprimido na cartela e sem ter como comprá-lo no dia seguinte. Coloque-se, independente de sua ideologia política, no lugar desta pessoa que necessita (ela não quer, ela necessita) do medicamento. Só por um segundo. Depois você volta para a sua posição a favor ou contra A ou B, mas antes disso pare e pense. Neste segundo em que você “foi” esta pessoa necessitada, você achou correto? É justo? Deixe a sua consciência responder. Não como político, apoiador ou oposição. Pergunte-se como ser humano: isto está certo? Eu acho que não. E quando minha amiga me perguntou “como eu vou fazer agora?” e eu não soube responder, senti que, junto com a minha falta de resposta, foi-se muito das minhas ilusões e esperança para com a nossa querida Ouro Preto.
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