“Psicopatas virtuais”, na Coluna Valdete Braga

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 09/10/2017, 15:00 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28
Quando pensamos na palavra psicopata, imaginamos aquela pessoa violenta, que sai atirando com arma de alta potência em locais públicos, ou naqueles catatônicos, que tomam uma atitude inesperada, de que jamais o julgaríamos capaz. A psicopatia é uma doença que pode acompanhar a pessoa uma vida inteira sem se manifestar, manifestar-se inesperadamente em uma única atitude, ou ser constante, obrigando o paciente a se tratar, e muitas vezes a ser internado, por representar perigo para os outros e para si próprio. Atualmente, em tempos de modernidade tecnológica, surge um novo tipo de psicopata, tão perigoso quanto, e que, infelizmente, está a cada dia mais crescente. Não existe (ainda) um nome para este tipo, mas eles estão aí, longe e perto de nós. São os psicopatas virtuais, seres que se utilizam da internet para descarregar suas frustrações, mágoas e ódios a um ideal, uma entidade, às vezes a algum inimigo oculto, que não tem coragem de encarar. Gente que fala sozinha, agride, xinga, desfila dezena de palavrões, acusa Deus e o mundo sem nem saber de quê. Pessoas que, se achando protegidas por uma tela de computador, tablete ou smartphone, coloca no teclado seus complexos de Deus, sem medir conseqüências, sem imaginar que o mundo vai muito além do seu próprio umbigo e que a vida não acontece dentro do instagram. Acham que ali podem ofender, caluniar, inventar um mundo seu onde tudo é possível. Os mais visados são os famosos, mas eles estão por todo lado. E, repito, estão crescendo. Não faz muito tempo tivemos o caso do rapaz que ficou obcecado pela apresentadora Ana Rickman, através de seu instagram, e acabou naquela tragédia. A menina Maysa Silva, aos quatorze anos de idade, foi ameaçada de morte, a filha de Bruno Gagliasso sofreu ataques racistas, assim como a apresentadora Maju e a atriz Thaís Araújo, dentre outros casos e mais casos, que, por serem de pessoas conhecidas e famosas, chegam até a mídia e ganham repercussão. Pesquisando sobre o assunto, cheguei a um canal do youtube (atualmente todo mundo tem canal no youtube) onde a pessoa fala coisas tão absurdas, que não consegui passar da metade do vídeo. O que chama atenção é que o tal “youtuber”, que faz inclusive apologia ao nazismo, aparece o vídeo inteiro de máscara e se utiliza daquela tecnologia que coloca uma espécie de eco na voz. Ora essa, se o indivíduo preza tanto a decantada “liberdade de expressão” para gravar um vídeo expondo a “sua verdade”, porque a máscara? Obviamente, a liberdade de expressão é um direito precioso, onde ela não existe, não existe democracia. Mas também obviamente, junto com a liberdade de expressão vem a responsabilidade pelo que se expressa. E quem usa máscara para se expressar, perde toda a credibilidade. Engana-se quem pensa que isto acontece só com artistas e famosos. Está tão comum que pode ter alguém perto de você se utilizando desta estratégia neste momento. A internet, ferramenta tão importante quando bem utilizada, está virando terra sem lei de tal maneira que estão aumentando o número de delegacias especializadas em crimes virtuais. De uma simples (se é que se pode chamar de simples) ofensa por motivo fútil a ameaças de morte e crimes hediondos como pedofilia, homofobia e outros, muitos pensam que na tela tudo é permitido. A falta de noção chegou a tal ponto, que há casos de pessoas que criam o perfil de um personagem, pede amizade a amigos em comum e fica conversando consigo mesma, se auto elogiando ou debatendo suas postagens. Isto acontece mais no facebook. Com a popularização da rede, praticamente todas as pessoas têm acesso, seja pelo seu aparelho, seja pela internet popular ou lan house, o que torna mais fácil “atingir” a quem se quer, por ele. Como exemplo, cito o caso que soube através de uma amiga em comum, de uma pessoa que estava mal com o marido e, para fazer ciúmes nele, criou um perfil falso no facebook, o popular “fake”. Conseguiu, Deus sabe onde, a foto de um rapaz muito bonito, sem camisa, “saradão”, como ela diz, criou o perfil e começou a mandar declarações de amor para si mesma. Em seu perfil real ela sempre respondia que era casada e jamais trairia o marido, mas o “saradão” insistia, sempre com altos elogios, chamando-a de “lindona”, “minha vida”, insistindo para sair, etc. Ela respondia e mostrava ao marido. Não é preciso ser psiquiatra nem estudioso do assunto para entender que atitudes assim não são normais. Dei um exemplo específico porque conheço, mas quantos devem ter por aí? Demonstram insegurança, frustração, e, arrisco-me a dizer, não deixa de ser um tipo de psicopatia. A coisa extrapolou da simples infantilidade e falta de noção para algo maior. Onde já se viu, conversar consigo mesmo, debater, discutir e, claro, no final, o perfil real sempre sai “ganhando”. Meu Deus, tanta coisa boa para se ver nas redes sociais, tanta gente interessante, assuntos gratificantes, movimentos sociais, grupos de ajuda, e muita diversão também, porque não? Dou gargalhadas com algumas postagens, a vida não é só seriedade. Mas essa coisa de uma pessoa querer ser várias ao mesmo tempo não é normal. Pior ainda é aquele que se utiliza da internet para atacar a quem ou ao que quer que seja. Aí cai no mesmo caso do youtuber mascarado e pode virar crime. Muitos não entenderam ainda o quanto isto é sério. Liberdade de expressão sim, sempre. Mas atentos a como usá-la, porque toda atitude tem conseqüência, nos mundos real e virtual.

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