“Preconceito X Prudência” por Valdete Braga

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Por Tino Ansaloni Publicado em 11/02/2017, 10:54 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28
Por Valdete Braga Saía da padaria, quando avistei um casal de amigos que esperava, a uma certa distância, pelo ensaio da Escola de Samba. Caminhei até eles, que estavam acompanhados de duas senhoras, e, após as apresentações, me disseram que preferiam assistir mais afastados. Como eu também não me sinto bem no meio de muita gente, fiquei ali com eles, conversando. As senhoras eram muito simpáticas e, aliadas ao casal de amigos, a conversa fluiu super agradável. Nem vimos o tempo passar. Mais pessoas foram chegando, o ensaio começou, e ficamos ali, jogando conversa fora e cumprimentando um ou outro que passava para chegar mais perto da bateria. Em determinado momento percebemos um movimento estranho. Quatro rapazes vieram se aproximando de onde estávamos, em uma atitude, para não dizer suspeita, no mínimo esquisita. Chegavam olhando para os lados, um deles com as mãos no bolso, e percebemos que estavam se posicionando de forma a nos colocar no centro deles. O marido da minha amiga colocou o braço no ombro dela e nos olhou, e entendemos de imediato aquele olhar. As senhoras saíram primeiro, passando entre dois dos rapazes e se misturando às pessoas que assistiam o ensaio, eu saí pelo outro lado, seguindo na mesma direção do que elas e o casal veio atrás de mim. Agimos super rápido, de forma que não deu tempo de ficarmos “cercados” pelos quatro rapazes, que seguiram não sei para onde. Já em casa, trocamos telefonemas e ficamos avaliando a situação. Vivemos em um mundo tão louco que tudo nos assusta. Aqueles quatro rapazes poderiam simplesmente estar de passagem e o posicionamento deles ser uma coincidência, por que não? Mas eu gostaria de saber, com as coisas que vemos acontecer todos os dias, quem não se precaveria, como nós. Vimos muitos textos contra o preconceito, e estão certíssimos. Eu mesma já escrevi sobre. Preconceito é uma das atitudes mais abomináveis que o ser humano pode ter. Seja ele racial, homofóbico, xenofóbico, não importa. O ser humano preconceituoso é sempre alguém que não aceita a si mesmo e culpa o outro por isto. Naquele momento, nem eu nem meus amigos nos preocupamos se os rapazes eram negros ou brancos, magros ou gordos, altos ou baixos. Sentimos uma possibilidade de perigo e nos precavemos. Quem agiria diferente? Torço muito para que tenha sido uma precaução exagerada, mas no mundo em que vivemos, onde pessoas são mortas por um celular ou um tênis, onde a certeza da impunidade aumenta a cada dia o número de assaltantes, quem se arriscaria a ficar em um local isolado com um grupo se aproximando nestas condições? Para os politicamente corretos, nossa atitude com certeza seria vista como preconceito para com os rapazes bonzinhos que só estavam passando pelo local, “coincidentemente” fazendo um círculo em que ficaríamos dentro. Não nego a possibilidade. Mas também não a afirmo. E, sem poder afirmar, melhor não arriscar. Saí e aconselharia qualquer pessoa a fazer o mesmo. Preconceito é uma coisa. Cuidado e precaução, são outras. O mundo está violento demais. São lindos os discursos contra o preconceito pela internet ou em conversas de grupos “defensores dos oprimidos”, até uma destas pessoas se ver em situação de perigo. O nosso perigo era suposto até os rapazes chegarem perto. Só então saberíamos se continuaria sendo “suposto” ou se era real. O que devíamos fazer? Esperar? Para provar que não somos preconceituosos deveríamos correr o risco? Claro que não. Jamais teremos certeza se o perigo era real, por mais que as evidências levassem a isto. Obviamente, eu preferia que não, mas em caso de dúvida, e, neste caso específico uma dúvida bem pequena, melhor não arriscar. Precaução não é preconceito. E, como diziam os antigos, “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

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