Opinião | Leia “Não foi Deus quem quis”, por Valdete Braga

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 27/05/2021, 18:28 - Atualizado em 27/05/2021, 18:28

Parece que vivemos em dois países diferentes, ao mesmo tempo. Um Brasil consciente, assustado e cuidadoso e outro Brasil irresponsável, criminoso e assustador.

 A impressão que se tem é a de existem duas realidades, dois mundos, como nos filmes de ficção científica, em meio a uma crise de saúde sem precedentes.

O site Metrópoles registrou, esta semana, a morte, por covid 19, de uma mulher do Mato Grosso, que se contaminou em uma manifestação, em Brasília.

Esta senhora, segundo o site, saiu de sua cidade, em um ônibus alugado, com mais outras pessoas nas mesmas condições (sem máscaras, sem nenhum cuidado) para se aglomerarem mais ainda, com outros também sem nenhum cuidado, em Brasília. Ainda segundo o site, voltou para a sua cidade e morreu pelo vírus, alguns dias depois.

Na reportagem consta uma foto da senhora, durante a tal manifestação. Saudável, animada, sentindo-se protegida, como se sentem todos os negacionistas de uma doença tão séria e triste. No momento da foto, feliz por estar defendendo o que ela acreditava, aquela senhora, que como todos tinha família e amigos, jamais poderia imaginar que estaria buscando a própria morte, e, que Deus as defenda, de tantas outras pessoas.

Como é possível, em um país com registro de aproximadamente 450 milhões de mortos por uma mesma doença transmissível e cuja vacina ainda não chegou para todos, pessoas se aglomerarem em manifestações? Como é possível ônibus serem fretados para levarem pessoas para a morte, dela e de outros? Assim como esta senhora, quantos mais se contaminaram? Para quantos estes tantos levaram a morte também?

Ainda se tivessem lá milhares de pessoas e “apenas” ela tivesse morrido, não se justifica. Morte desnecessária não é justificada, seja de uma ou milhares. Não foi “Deus quem quis assim”. Não se joga em Deus a responsabilidade pelos nossos atos.

Se esta senhora, um exemplo entre tantos, pudesse imaginar que iria morrer, ela não teria entrado naquele ônibus. Ela teria ficado em casa, ela faria a quarentena, seria chamada de exagerada e coisa até pior pelos amigos que foram, mas teria se preservado e preservado a tantos.

Esta senhora, cujo rosto apareceu em um site de notícias, mas que age como tantos outros que não aparecem, poderia estar ainda entre nós. Tantos que ela pode ter levado com ela e nunca saberemos, também poderiam estar. Ela faz parte do segundo Brasil, vítima da ignorância de uns, irresponsabilidade de outros e crime de outros. Vítima também, infelizmente, de sua escolha equivocada. Rezemos por ela e por todos, e rezemos para que o primeiro Brasil vença esta guerra insana.

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