Valdete Braga É prática entre os americanos se tratarem pelo sobrenome. Nos Estados Unidos, bem como em outros países, os de sobrenome Smith, por exemplo, são todos chamados Mr. Smith, tenham eles como primeiro nome John, Peter, Michael, etc. Não importam também naturalidade, profissão ou classe social. O John Smith empresário da Wall Street ou o Peter Smith morador de rua, são igualmente tratados por Sr. Smith. Da mesma forma Mary Jones, milionária, envolvida em causas sociais no centro de Nova Iorque e Hanna Jones, prostituta do Brooklin, são chamadas indistintamente de Sra Jones. Somente familiares ou pessoas muito íntimas chamam o cidadão pelo primeiro nome. Tem brasileiros por aí precisando pensar nisso. Em pleno século XXI, ainda há os que querem sobreviver do sobrenome. Fulana, bisneta de família quatrocentona paulista, sicrano, parente do ex-brigadeiro de não sei o quê... não são poucos os que ainda estão na fase do “sabe com quem está falando?” Alguns não entenderam ainda que nós fazemos o nosso nome e não o contrário. Um sobrenome pomposo ou quatrocentão não significa nada, se quem o carrega não fizer jus a ele. A intenção da metáfora é mostrar que o sobrenome não faz o homem, e sim o homem faz seu sobrenome. Silva, Souza, Ferreira, Soares, Oliveira... são apenas palavras, se quem a usar não torná-la importante. O meu tatatataravô pode ter sido o rei da Espanha, mas se eu, em 2014, for uma inútil, carregar o sobrenome dele não significará nada. Da mesma forma, se ele tiver sido inútil e eu honrar o nome que carrego, eu o transformarei. Assim funciona para todos nós. Não adianta o indivíduo ser de família quatrocentona paulista e sair anunciando isso aos quatro ventos, se ele mesmo não fez o seu nome. O sobrenome pode ter quatrocentos anos, mas o que ele, com seu primeiro nome, é? O que fez? Representa o John que se firmou na Wall Street ou o Peter, que mora na rua? É Mary ou Hanna? Aquele que honra o primeiro nome que carrega não precisa de sobrenome para viver, e honrar o nome não significa ter status, dinheiro, fama. Também é fato que quem consegue, com seu esforço, com trabalho e dignidade, algum destes atributos ou todos eles, está de parabéns, pois também não é certo passar do 8 ao 80. Não é certo alegar, demagogicamente, que todo mundo que tem dinheiro é ruim, que todo rico é ladrão e outros lugares comuns, que generalizam uma classe pela opção de alguns. Assim como em todas as profissões, em todas as classes sociais também, existem os bons e os maus. Ideal são os casos dos que nascem em berço de ouro, herdam, e transformam o que lhes chegou de graça em bem para si e para os outros. Geram empregos, ajudam quem precisa, aumentam os negócios da família e assim ajudam o social e pessoas individualmente, de formas diversas. Esses têm nome e sobrenome, merecem respeito, valorizam o que têm e o que são. Já outros... longe do ideal, se tornam parasitas, vivendo do que o avô foi, do sobrenome do bisavô, etc, esquecendo do seu próprio. Esquecem seu primeiro nome em função do sobrenome de quatrocentos anos. Vivem no passado, e não pensam que quatrocentos anos de São Paulo, Rio, Minas, Brasil, Grécia, Egito, seja onde for, não põe comida na mesa. O mundo mudou, a vida é dinâmica, nem os descendentes dos Orleans e Bragança podem viver só disso (e acredito eu, eles nem devem querer). Não tem graça. O bom da vida é nos fazermos, nos construirmos, seja no campo profissional, emocional ou social. Viver em função do que outro foi ou fez é comodismo, mesmo que o outro seja nosso parente. A vida de cada um, cada um deve fazer. Com seu primeiro nome.
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