Estava em uma festa e fui à toalete com uma amiga. Enquanto arrumávamos o cabelo, em frente a um espelho grande, duas jovens conversavam ao nosso lado.
Não tive intenção de ouvir a conversa, mas pela proximidade e altura em que falavam, era impossível não escutar, e elas também não faziam a menor questão de manter privacidade no assunto.
Uma havia brigado com o namorado e a outra a consolava. “Não deixe isto estragar a sua festa”, “quem está perdendo é ele”, e outras frases deste tipo eram ditas, além dos detalhes da briga, que aqui não vêem ao caso. Eu e minha amiga nos olhamos e continuamos a nos arrumar, como se não estivéssemos ouvindo. Se elas não se importavam em ser discretas, não seríamos nós a ficarmos constrangidas.
Em determinado momento, uma delas, a que brigou com o acompanhante, disse, literalmente: “já sei. Vamos voltar pro salão lindas e maravilhosas, tirar bastante foto e postar no meu “face”. Vou chamar Lucas e fazer uma self. (Não tenho a menor idéia de quem seja Lucas, mas como também não conhecia nenhuma das duas, deu na mesma).
A outra respondeu, também literalmente. “Isso mesmo, mostre prá ele que você não está nem aí”. Eu e minha amiga terminamos de nos ajeitar, voltamos para a festa e deixamos as duas confabulando sobre fotos, selfs, e afins. Não sei como a história terminou, mas não é difícil imaginar. O perfil delas no facebook deve ter “bombado” de fotos do quanto estavam felizes, e qualquer mágoa, ou tristeza ou aborrecimento ficaram naquele toalete.
Fico impressionada com a necessidade que as pessoas sentem em se exporem. Tudo tem de ser mostrado, postado, compartilhado. No caso, para mostrar ao namorado algo que não estava sentindo (o que ficou claro na conversa que ouvimos) imagino quantos “Lucas” devem ter sido usados em uma rede social.
Não é um caso isolado. Isto vive acontecendo, este apenas nos teve, a mim e minha amiga, como testemunhas. E é tão comum, que a personagem da história nem se preocupou em manter discrição ao combinar com a amiga. Nós é que saímos, elas continuaram falando alto, e se outra pessoa entrasse no toalete continuariam do mesmo jeito.
Privacidade virou material de luxo, em nossos dias. As pessoas, principalmente os mais jovens, se expõe com tamanha naturalidade, que tudo ficou normal. Daí vem este tipo de atitude, uma “resposta” que olho no olho talvez a moça não conseguisse, ela articula e joga na rede. As telas do computador ou do smartphone aceitam tudo. Sorrir para uma foto é muito fácil. E o objetivo é alcançado: o namorado vê, pelas fotos, “lindas e maravilhosas”, como ela está feliz e nem aí prá ele.
Sim, a tela aceita o que se joga nela. Mas o coração não. Sentimentos não são virtuais. São íntimos, pessoais e intransferíveis. Eu me pergunto prá que tudo isto? Que necessidade é esta de mostrar tudo, mesmo que de forma manipulada, na internet? Entendo que ela não quisesse se mostrar triste, como demonstrou na conversa com a amiga. Então, não mostre nada. Nossos sentimentos, tristes ou alegres, são só nossos, nossa intimidade é só nossa. Mostrá-los por prazer ou para dividir com amigos é uma coisa. Pode ser saudável e fazer bem. Correr para “o meu face” e postar uma mentira em resposta a alguém é outra totalmente diferente e que de saudável não tem nada.
Quando presencio este tipo de coisa, agradeço a Deus pela minha geração. Que privilégio é ter conhecido o mundo pré virtual. Como é bom saber, entender e principalmente sentir, que há momentos que são só nossos, tristes ou alegres, de dor ou felicidade, mas que sentimos na alma, sem precisar transferir para os dedos, no teclado de um computador. Isto é vida.
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