Leia ‘Ou eu ou o Brasil’, nova crônica de Valdete Braga

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Por João Paulo Silva Publicado em 01/04/2019, 13:28 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28

Eu confesso. Assisti ao primeiro programa “Big Brother Brasil”. Em minha defesa, alego ter sido uma novidade, na época, um formato novo de programa e eu ser dezenove anos mais jovem.

Ao segundo, assisti “picado”, de vez em quando, e do terceiro em diante não quis ter mais notícias. Nada contra quem assiste, não mesmo, não me dou o direito de definir o que é bom ou ruim na televisão. Cada um que assista ao que goste e pronto. Programas de TV são como música. Cada um com o seu gosto. Quem sou eu para julgar?

Acontece que, tanto nas músicas como nos programas de TV, não precisamos ouvir ou assistir para termos noção do que acontece. Uma propaganda aqui, uma inserção ali, em algum outro programa que você esteja assistindo, na televisão ou internet, e alguma coisa a gente sempre fica sabendo. Quando o título me interessa eu paro para ler ou assistir, se não, sigo em frente.

Foi assim que estava assistindo a um filme, quando durante o intervalo, aparece o apresentador do atual Big Brother, já número 19, e anuncia que no paredão não sei de quem (eu nem sabia que era dia de paredão) “atingimos o recorde mundial de votos: 202 milhões de votos neste paredão”.

Pensei ter entendido mal e corri para confirmar, na internet. Não é que entendi certo? Bom, se é verdade ou mentira, aí já é com a Rede Globo de Televisão, não tenho nada com isto. Mas não creio que eles arriscariam a credibilidade da emissora, do programa e da empresa que audita os votos, colocando uma mentira sobre a votação.

O que me deixou pasma – e estou até agora – foram os números. O Brasil tem aproximadamente 208 milhões de habitantes. É óbvio que neste tipo de programa, quem tem interesse em votar deve fazê-lo muitas vezes. Mas, mesmo assim, é de assustar. Para o programa é uma maravilha, claro, e Thiago Leifert agradeceu “ao Brasil”. Meu Deus!

Eu gosto do Thiago Leifert. Ainda não o vi no Big Brother, o que assisti ainda era do tempo do Pedro Bial, mas gostava muito dele no “The Voice”. Simpático, agradável, interage bem com o público. Mas… 202 milhões de votos? Em um país onde está acontecendo de tudo e mais um pouco, será que tem tanta gente tão sem o que fazer para ficar votando para um desconhecido receber um milhão e meio de reais, até chegar ao número 202 milhões? 202 milhões de votos em um país com 208 milhões de habitantes?

Está difícil assimilar. 202 milhões de votos não significam 202 milhões de pessoas, já que se vota quantas vezes quiser. Mas ainda assim é muito. È demais. É muita gente com tempo para virar noite clicando na foto de alguém que nem conhece.

Como eu disse acima, cada um que faça o que quiser da vida. Quer votar, vote. Quer dar audiência, dê. Mas eu, como você que está lendo esta crônica ou como qualquer pessoa, tenho o direito de achar um absurdo. Ou não, para quem achar normal. Eu não acho. Não faz sentido, a conta não bate. Todos sabemos o momento que o país está vivendo. Todos sabemos o quanto tem pessoas perdendo tanto, o quanto precisamos repensar atitudes e tomar atitudes também. 208 milhões de pessoas vivem neste país que apresenta 202 milhões de votos em um programa dito de entretenimento.

Não dá para acreditar. Ou eu enlouqueci ou o Brasil enlouqueceu.

 

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