Leia “Nossa casa não é uma prisão”, pela cronista Valdete Braga

Em tempos de coronavírus, a escritora ouro-pretana fala sobre o isolamento social.

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Por Valdete Braga Publicado em 30/03/2020, 12:01 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28
Foto – A escritora Valdete Braga. Crédito – Reprodução. Siga no Google News

A nossa casa é o nosso porto seguro. O lugar que nos abriga e protege, onde nos alimentamos durante o dia e descansamos à noite, onde criamos nossos filhos, o local para onde vamos depois de um dia de trabalho ou do lazer do final de semana, para onde voltamos após as férias e onde depositamos as nossas expectativas de vida.

Nossa casa é nosso templo. Grande ou pequena, rica ou pobre, própria ou alugada, localizada na periferia ou no Morumbi, é nela que encontramos o nosso caminho. Onde está o nosso lar, está o nosso coração.

Nestes dias difíceis que atravessamos, assusta-me ver pessoas se lamuriando pelo que denominam como “ter de ficar preso dentro de casa”. Não, não estamos presos. Nossa casa não nos aprisiona. Estamos, pelo menos aqueles conscientes de sua responsabilidade, em um isolamento social que todos esperamos não demore muito, mas que, mesmo que demore, é necessário. Ao ficarmos em casa, nesta fase, não estamos nos prendendo e sim lutando pela libertação, nossa e de outrem.

Confesso que fico triste quando vejo jovens pais que “não aguentam mais” os filhos dentro de casa, ou adultos que insistem em sair para  cervejinha, na casa dos amigos, já que os bares estão fechados. Sim, por incrível que pareça, há quem faça isto. Não estão levando a sério uma situação cuja preocupação é mundial.

Obviamente, não me refiro àqueles que, pela natureza de seu trabalho, ou por outro motivo relevante, são obrigados a saírem, correndo um risco que é real, não porque eu ou alguém ache isto, mas pelas estatísticas. O momento não é para achismo, a situação é séria e precisa ser tratada com seriedade. Sem alarmismo, mas com realidade. E, estes que insistem em sair de casa, por teimosia e não necessidade, precisam entender que mesmo que se achem fora de risco, podem ser risco para os outros. Ao nos isolarmos, estamos protegendo também aqueles que não podem fazê-lo.

Muitos gostariam de se proteger e não podem. Outros podem e insistem na leviandade de “não agüentar ficar preso dentro de casa”. É hora das ruas terem o mínimo de pessoas possíveis. Não só as ruas, como o comércio e todas as áreas. Festas, nem pensar. Festa pode esperar. Não se trata de alarmismo, e sim de precaução.

O filho é seu, não da escola, é você quem tem de criá-lo, e se no momento as escolas estão fechadas, é sua obrigação cuidar dele, material e emocionalmente, também no horário escolar. O mesmo acontece com a sua cerveja. Quer tomá-la? Faça-o em casa, sozinho ou com quem esteja com você, não seja irresponsável de se arriscar a levar doença a quem está fazendo a sua parte, por algo tão sem necessidade. Muitos são obrigados a sair, por nós. Nada mais justo do que não sairmos, por eles.

Procuro fazer a minha parte. Sair de casa, somente para o estritamente necessário, e com todas as medidas de precaução tomadas. Não me sinto presa. Quem fica preso em casa é bandido, em prisão domiciliar e com tornozeleira. Nós estamos em casa para combatermos um inimigo comum, que pode estar em qualquer esquina. O isolamento é uma arma contra este inimigo, não vamos menosprezá-lo, lutemos com as armas que temos. Bom não é, reconheço, causa estresse, e a vontade de sair às vezes é grande, mas aí entra a palavra chave da situação: responsabilidade. Pense. Reflita. O seu estresse com o filho que não pára quieto ou a sua cerveja valem o risco para vidas humanas?

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