Quando entrei no ônibus, o papo já estava super animado entre duas meninas. Falando alto e gesticulando muito, uma delas, naquela euforia normal em adolescentes quando estão excitados com alguma coisa, falava em uma altura que, mesmo elas estando bem na frente, da roleta dava para ouvir. Paguei a passagem, entrei e me assentei em um local não muito próximo, mas também não no final do ônibus. Entrei no segundo ponto, quando o veículo ainda estava relativamente vazio. Durante o trajeto, pessoas foram subindo e ocupando todos os assentos, ficando algumas, inclusive, de pé, e quanto mais falava, mais nervosa a garota ficava e mais elevava o tom de voz. Do Veloso à Bauxita, todos os passageiros ficaram sabendo de sua raiva e do porque dela. Briga de namorados. Até aí, nada de tão anormal. Nos meus mais de 30 anos fazendo diariamente este trajeto, não foram uma nem duas as vezes que presenciei uma conversa monopolizar o ônibus inteiro e, mesmo sem querer, ser alvo de conhecimento coletivo, pelo tom usado entre os interlocutores. Neste caso específico, o que chamou-me a atenção, como a de todos que estavam no ônibus, não foi a altura em que a adolescente falava, foi o número de palavrões ditos por ela.. Em cada dez palavras, onze eram “aquela piranha”, “vagabunda”, “vaca”, entre outras, impublicáveis. Isto aos gritos, em um ônibus lotado. A naturalidade com que palavrões e palavras de baixo calão saíam da boca daquela menina chamava atenção, e isto ficava claro na expressão dos demais passageiros. A colega apoiava e usava igualmente termos chulos, mas a primeira chamava mais atenção, até porque, em sua indignação juvenil, ela praticamente fazia um monólogo, não dando muito espaço para a outra responder. Achei muito triste. Duas meninas aparentemente educadas, bonitas, evidentemente estudantes, pelas mochilas que carregavam, e com bocas tão sujas! Fiquei imaginando se elas conversam assim em casa ou na escola, e se nenhum adulto nunca as aconselhou. Será que falam assim com os pais? Com professores, em sala de aula? O mais impressionante é que elas usavam palavras chulas com total naturalidade, sem se importarem com todos que ouviam. Elas não se importavam porque para elas isto é normal, e infelizmente é normal para boa parcela da juventude. Nossos adolescentes, salvo exceções, não estão recebendo valores básicos e óbvios, como aprenderem, através de ensinamento e exemplo dos adultos, que falar palavrão não é natural. É muito feio.
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