Leia “A vida real não está no Google”, na coluna de Valdete Braga

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Por Valdete Braga Publicado em 01/12/2022, 11:40 - Atualizado em 01/12/2022, 11:40
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Valdete Braga / Arquivo pessoal. Siga no Google News

Ele acordou, pegou o celular na cabeceira da cama, procurou no Google uma mensagem de “bom dia”, e compartilhou para todos os contatos do WhatsApp. Escolheu uma frase bem inspiradora, junto com uma imagem bonita, e, para ficar bem caprichado, ainda adicionou um “emoji” de coração, junto ao desejo de um bom dia a todos os “amigos”.

Levantou-se, lavou o rosto e escovou os dentes e dirigiu-se à cozinha para o café da manhã. Passou direto pelos pais que já estavam acordados, sem uma palavra, serviu-se do café, pegou a mochila no sofá e saiu, sem despedir-se.

Dirigiu-se até o ponto de ônibus, passou por algumas pessoas sem vê-las, entrou no ônibus, passou pela roleta e pagou a passagem sem olhar o rosto do motorista. Sentou-se na única poltrona vazia e pegou novamente o celular.

No próximo ponto, entrou uma moça, sentou-se ao lado dele e eles também não se olharam. O ônibus seguiu, a cada ponto mais pessoas entravam, até que a lotação ficou completa, com todas as poltronas ocupadas e algumas pessoas de pé.

Bem ao lado dele, um senhor com visível dificuldade se escorava na poltrona, agarrando-se para se equilibrar. Sentado, não lhe passou pela cabeça oferecer o lugar ao homem mais velho, ou mesmo carregar a sacola que ele segurava em uma mão, enquanto se segurava na poltrona com a outra.

Chegou ao trabalho, atravessou a sala onde alguns colegas já se encontravam em suas mesas, sem cumprimentar ninguém, e chegando ao seu lugar, verificou o celular, antes de iniciar seus trabalhos.

Feliz, constatou que vários contatos já haviam respondido ao seu “bom dia”, cada um com uma mensagem mais bonita do que a outra. Os que não haviam respondido ainda, com certeza o fariam mais tarde, afinal, são todos tão educados!

Terminado o horário de expediente, fez o percurso inverso para casa, passando pelas pessoas da mesma forma como o fez na ida para o trabalho.

No mundo digital em que vivemos, esta é a realidade de muitas pessoas. Muitos se esquecem de quem está à sua volta para se dedicarem ao virtual. De um simples “bom dia” no WhatsApp a vídeos longos nos “stories”, o aparelho celular é mais merecedor de atenção e tratamento educado do que familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho.

Nada contra as mensagens virtuais, muito pelo contrário. Receber mensagens pode ser muito positivo, quantas vezes uma mensagem recebida, principalmente de amigos que vão além do virtual, nos dá aquela sensação de paz, de acolhimento, ou nos arranca risadas, nos divertindo? Isso é ótimo.

O que não deveria acontecer, e infelizmente acontece muito, é a substituição do real pelo virtual, uma incoerência a cada dia mais comum. Seria tão melhor se trouxéssemos para a nossa vida concreta o sentido das mensagens! Para a vida real, não precisamos procurar no Google.

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