A semana passada foi marcada por programas televisivos e portais da internet esmiuçando o triste acontecimento envolvendo a atriz Klara Castanho. O tema foi abordado diuturnamente, devido à maneira como chegou inicialmente a público, exposto de forma errônea, para dizer o mínimo, por supostos jornalistas e youtubers. Foi tão anti-ética e cruel a abordagem, que não foram poucos os profissionais sérios do meio que se levantaram em defesa não apenas da moça, como da ética jornalística.
Mal pararam de falar neste fato, surge outro, desta vez envolvendo um humorista, que fez “piada” sobre a doença de uma criança, em seu stand up. Também no caso do humorista, que tomou conta da mídia neste final de semana, apresentadores e comentaristas vieram a público repudiar a atitude, e, segundo informações, o rapaz foi demitido do canal de televisão onde trabalhava, e que, por incrível que pareça, foi o canal onde apareceu a criança doente, este sim, de forma séria e inserida no contexto do programa em questão.
Nos dois casos citados, tão grave como a atitude dos profissionais envolvidos, foi a reação de um público sem o mínimo de empatia ou solidariedade humana, pessoas sem o menor senso crítico ou de humanidade, que seguiram seus “formadores de opinião” e reagiram de forma incompreensível para o ser humano com o mínimo de sensibilidade.
No caso da atriz, “seguidores” daqueles que divulgaram equivocadamente a história foram nas redes sociais dela xingarem, achincalharem, ofenderem, por uma questão tão pessoal e íntima, a ponto da moça precisar escrever uma carta aberta se explicando por algo que, segundo ela, estava inclusive sob sigilo. O fato extrapolou a “notícia”, que aliás não deveria nem ser notícia, para resvalar para crime, uma vez que não poderia ser “vazado” da forma criminosa como foi, e ainda assim internautas se viram no direito de partirem para agressão, por algo que leram ou assistiram.
Já a questão do humorista, pessoas que estavam na plateia riram da “piada”, como o próprio vídeo mostra. Possivelmente não foram todos que riram, e também possivelmente não foi a maioria, não é possível que uma plateia inteira tenha achado graça em uma “piada” tão bizarra. Não é piada e não tem graça nenhuma, pelo contrário, faz mal a qualquer ser humano com o mínimo de sensibilidade alguém rir e fazer “humor” tendo como pano de fundo uma criança que sofre de hidrocefalia.
Nestes dois casos, acontecidos com tanta proximidade um do outro, o que mais merece atenção é a nossa reação a tantos “profissionais” que surgem a cada dia pela mídia. Independentemente do tempo de exposição ou do tipo de programa que apresentam, ética é fundamental em qualquer profissão, e quando o profissional está na mídia a responsabilidade é ainda maior.
Estuda-se anos a fio para se tornar um profissional de credibilidade. O curso de jornalismo dura quatro anos, anos de dedicação e esforço, e não se estuda tanto para sair por aí procurando “furos” que podem destruir a vida de uma pessoa e, pior ainda, com mentiras. Cabe ao público saber separar o joio do trigo e não dar audiência a pseudo profissionais sem a menor ética.
Existe tanta opção! Há pessoas, profissionais ou não, que optam pelo entretenimento, o que também é válido, principalmente nestes dias tão sombrios em que estamos. Canais de entretenimento são o que não faltam neste mundo virtual, alguns até bem divertidos, com outra proposta, que também são válidas. Temos muitas possibilidades, não precisamos e nem devemos dar audiência a este tipo de “jornalismo” ou “humor”.
Não devemos, jamais, embarcar na canoa destes profissionais, muito menos atacar as pessoas de quem eles falam. Depende muito do público o nível do que se consome. Precisamos evoluir como sociedade, e um passo importante para isto é começarmos a filtrar melhor o que vamos consumir.
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