“Dois Carnavais”: Leia a nova crônica de Valdete Braga

Home » “Dois Carnavais”: Leia a nova crônica de Valdete Braga
Por Valdete Braga Publicado em 29/01/2021, 16:09 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28

O carnaval presencial oficial está cancelado, em Ouro Preto, pelos motivos óbvios que todos conhecemos muitíssimo bem: estamos na onda vermelha, não existe ainda vacina para todos, o vírus continua circulando, etc, etc, etc. A decisão, portanto, não surpreende e nem poderia ser diferente.

Fica, no entanto, uma questão séria a ser resolvida, com urgência. Se o feriado persistir, o que ainda não foi definido, e não forem tomadas outras medidas além do necessário cancelamento, isto não será o bastante, infelizmente.

A verdade é que temos dois carnavais, um oficial e outro feito pelos foliões. Sempre foi assim e em época normal não há nenhum mal nisso, mas vivemos um momento totalmente atípico, e é necessário que ambos não aconteçam.

Com um recesso de quatro dias (todos sabemos que um número enorme de pessoas “emendam” a segunda feira) não é preciso ser nenhum gênio para saber que serão ônibus e mais ônibus lotando os estacionamentos e enchendo a cidade de pessoas. Depois que a Rodovia dos Inconfidentes estiver repleta de ônibus estacionados, hotéis lotados e pessoas “acampadas” pela cidade, quem vai retirá-las? Depois da Praça Tiradentes com pessoas de todo canto do país circulando sem máscaras, quem vai impedi-las?

Visitantes são muito bem vindos, é claro. Ouro Preto é uma cidade super acolhedora, que valoriza demais o turismo e os turistas, até porque somos uma cidade turística e nos orgulhamos disso. Apenas não é hora, nem em Ouro Preto nem em lugar nenhum do mundo. Inclusive, se isto tivesse sido respeitado no ano passado, possivelmente não estaríamos nesta situação até hoje e nossos turistas estariam sendo recebidos com o carinho com que sempre foram. Por isto é necessário que não venham agora, para poderem receber este carinho no ano que vem.

Não só turistas, obviamente. Não é hora de ninguém se aglomerar, nem visitantes nem moradores. Por isto, ou medidas são tomadas agora, imediatamente, já, ou teremos carnaval, sim. Teremos o carnaval não oficial, sem fantasias, sem bandas, sem blocos e sem escolas de samba, mas com aglomerações e vírus por toda parte. Não é difícil deduzir isto. Confiar que o cancelamento do carnaval presencial oficial é o suficiente é o mesmo que confiar que fechar o parque de Cachoeira das Andorinhas seria o suficiente, e todos vimos o que aconteceu na semana passada.

Não foi culpa das autoridades. Foi do povo mesmo, do negacionismo, da falta de empatia, do desrespeito, inclusive, às leis. Não foi culpa das autoridades as pessoas entrarem no parque e agirem como agiram no final de semana. Mas, em se tratando do carnaval, ele ainda não aconteceu. Ainda dá tempo. O cancelamento oficial foi um passo importantíssimo, mas agora é preciso que se criem medidas para impedir o não oficial, também.

O vírus não sabe se quem está ali se aglomerando está em um evento oficial, clandestino ou particular. Ele chega onde a porta está aberta, independente de quem a abriu. Uma porta foi fechada hoje, que bom! Torçamos para que todas as outras também sejam, pelo bem de quem viria e de quem aqui já está.

Deixar Um Comentário