“Do oito ao oitenta”, leia a nova crônica de Valdete Braga

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Por Valdete Braga Publicado em 12/09/2022, 11:30 - Atualizado em 12/09/2022, 11:30
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Valdete Braga / Arquivo pessoal. Siga no Google News

Houve época em que crianças não tinham voz e pais eram vistos, salvo exceção, como adultos perfeitos e inatingíveis, que aos filhos só cabia obedecer, sem questionar. Evoluímos e crianças passaram a ser respeitadas pelos pais, logicamente estabelecidos os limites e sendo-lhes ensinados educação e respeito também.

Em tempos mais longínquos, na família, só o “chefe da casa” tinha voz, e nem esposa nem filhos podiam questionar ou discordar de nada. Destes tempos, mais distantes do que o primeiro exemplo, evoluímos mais ainda, e de maneira geral, ainda que existam exceções, conseguimos estabelecer uma relação de diálogo e respeito um ao outro, como seres humanos.

Atualmente, quando pensávamos estar neste meio do caminho, muito melhor do que em séculos passados, mas ainda em busca da harmonia, assistimos a um retrocesso pelo caminho oposto.

Crianças que eram oprimidas tornam-se dominadoras, filhos ditadores de pais acuados em uma sociedade onde tudo é permitido e a palavra respeito torna-se a cada dia mais obsoleta. Se no passado pais se viam no direito de espancar os filhos por qualquer deslize deles e isto era visto como normal, atualmente crianças não podem ouvir um simples “não”. Dois extremos perigosos.

A sociedade como um todo vive momentos de estupefação, as pessoas estão perdidas neste pulo do oito para o oitenta. O resultado desta deturpação é sofrimento para todos os envolvidos, crianças crescem sem limite e adultos se tornam frustrados.

Jovens enxergam os pais como simples provedores, e acham que merecem tudo, que podem tudo e que os pais têm para com eles todas as obrigações e nenhum direito. Um pouco mais à frente estes jovens, já adultos, colocam os pais em alguma instituição para idosos sem sentir o menor remorso, porque, acostumados que foram a serem sempre servidos, quando o objeto de sua serventia não puder acudir mais, tornam-se descartáveis.

Triste realidade esta que vivemos. São todos assim? Claro que não, existem exceções e se você que me lê agora for uma delas, vai se identificar como exceção, com certeza, mas se não for, nem vai perceber, porque faz parte de uma geração que simplesmente não enxerga o outro, vive em seu egocentrismo e só vai conseguir enxergar quando chegar a sua vez de ser descartado. O tempo passa muito rápido e a sua vez vai chegar, não há como evitar.

Passamos de um extremo ao outro, e o equilíbrio praticamente não existe. Elogiamos ao vermos uma criança educada, um jovem respeitador ou um adulto carinhoso com os pais, como se isso fosse uma coisa do outro mundo. Não é. Esta deveria ser a atitude de todos, esta deveria ser a regra, e não a exceção.

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