Crônica: “Uma viagem ao País das Maravilhas”, por Valdete Braga

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 20/09/2019, 14:04 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28

Encontrei-me com Polliana e ela convidou-me a ir com ela visitar Alice, no País das Maravilhas. Aceitei o convite e, como o preço das passagens aéreas estão pela hora da morte, ligamos para a fada Sininho e pedimos um punhado de pó de pirlimpimpim; só o bastante para ida e volta de duas pessoas.

Quando chegamos, o chapeleiro maluco nos recebeu e nos levou à casa da Alice, que logo apareceu sorridente e muito feliz, em seu vestido azul e avental branco.

Muito simpática, convidou-nos para um chá. Enquanto lanchávamos, senti um mal estar, possivelmente uma variação de pressão, devido à altitude. (O País das Maravilhas fica nos Alpes). Polliana logo disse que tudo ficaria bem, mas Alice insistiu em chamar o Samu. Achei desnecessário, mas para não contrariar a anfitriã, acabei aceitando.

Ela telefonou e dez minutos depois o carro do Samu estava na porta, fomos até a Upa, onde fui imediatamente atendida, o médico disse que não era nada grave, exatamente o que pensamos, mas fez um check up completo e só me liberou quando teve certeza de que minha saúde estava cem por cento. Pediu que eu passasse na farmácia da Upa e pegasse gratuitamente um remédio para pressão, apenas por precaução.

Outro carro do Samu nos levou de volta até a porta de casa, e ficamos papeando eu, Polliana e Alice. A certo momento, Alice perguntou se nós nos importávamos que ela ligasse a televisão.

- Eu não quero ser indelicada – disse ela – mas hoje é um dia muito especial aqui no País das Maravilhas. O nosso Presidente vai fazer um pronunciamento, e isto é tão raro que quando acontece, o país pára. Vocês se importam?

- Claro que não – respondeu Polliana, feliz da vida.

Eu fiquei curiosa para saber o que o Presidente ia dizer e Alice acrescentou:

- Tenho certeza de que vai ser rápido, o nosso Presidente aparece pouquíssimo na mídia e quando vem a público é muito objetivo e conciso com as palavras.

- Ele não gosta de aparecer na mídia? Eu perguntei.

- Dizem que ele detesta – respondeu Alice. É muito discreto e trabalha demais, o tempo dele é muito escasso até para dar declarações.

- Mas e os assessores? Não falam por ele?

- São muito unidos e têm o discurso bem afinado, mas também quase não aparecem. Todos seguem a mesma linha, para não confundir a população e assim passam credibilidade a todos.

Poucos minutos após a televisão ser ligada, surgiu o anúncio de que entraria em rede nacional para a fala do Presidente.

Ele estava em um salão enorme, repleto de convidados, e se apresentou  junto com todo o seu ministério, formado por dez ministros, cinco homens e cinco mulheres. Era um homem muito bonito, que eu, particularmente, achei muito jovem. Usava um terno de corte impecável e tinha uma postura elegante, assim como os demais assessores.

Falava em um tom baixo e educado, que transmitia uma certa humildade, mas sem perder a autoridade, ao mesmo tempo. Não entendi as questões técnicas colocadas, referentes a um país desconhecido, mas senti a atenção e respeito de todos os que ouviam.

Ao final do discurso, o Presidente foi aplaudido de pé por todos os presentes, cumprimentou um por os seus dez ministros e retirou-se. Os aplausos continuaram por algum tempo. Não se ouviu um único grito, ou assovios, apenas o som das mãos batendo umas nas outras, em uma cadência rítmica que ficava agradável de se ouvir.

- Ele usa muito bem as palavras – eu disse, e Alice respondeu:

- Ele é assim mesmo. Desde antes de entrar para a política, já era muito bem visto, sempre engajado em causas sociais, principalmente as dedicadas às minorias. Por isso, mais de 90 por cento da população quis ir às urnas, para elegê-lo. Só não foi mesmo quem não podia por algum motivo muito sério.

- Como assim “quis ir”?  Eu perguntei sem entender. Não votam todos?

- Não – Alice respondeu. Aqui no País das Maravilhas o voto não é obrigatório.

Ela apagou a televisão, conversamos sobre os mais diversos assuntos, e não vimos o tempo passar. Quando nos demos conta, já anoitecia e era hora de voltar para casa. Agradecemos pela gentil acolhida, combinamos de voltar outro dia e nos encaminhamos, eu e Polliana, para a varanda da casa de Alice. Abrimos a caixinha com o pó de pirlimpimpim, e o assopramos. Ato contínuo, eu abri os olhos e estava em meu quarto, deitada na minha cama. O relógio de cabeceira marcava sete da manhã. Claro que foi um sonho. Mas que sonho bom!

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