“Coração aquecido no tempo frio” por Valdete Braga

Home » “Coração aquecido no tempo frio” por Valdete Braga
Por Tino Ansaloni Publicado em 09/08/2016, 11:59 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28
Por Valdete Braga Cheguei em casa debaixo de uma garoa fina, usando dois casacos, cachecol, meias de lã e botas. Mesmo assim, eu sentia um calor gostoso, uma quentura que vinha de dentro do peito e que nem a garoa gelada que caía conseguia esfriar. Gosto do frio e da neblina, acho que combinam com Ouro Preto, e quando a alma está transbordando alegria e paz, o cenário fica mais bonito ainda. Enquanto eu caminhava até o ponto de ônibus, quem cruzava comigo não devia entender nada. Naquele frio todo, sombrinha aberta, o sorriso não se apagava do meu rosto. Não era proposital. Eu só estava tão feliz que não conseguia disfarçar. E, pensando bem, disfarçar prá que? É tão bom estar feliz... Neste mundo louco, onde as pessoas querem vencer no grito, onde educação virou artigo de luxo e grosseria sinônimo de “autenticidade”, não tem como não se sentir nas nuvens quando encontramos pessoas educadas, criadas “à moda antiga”. Gente que respeita o outro, que fala baixo, que pede licença e agradece, que fala sorrindo e sem usar palavrões. Tudo está tão deturpado, os valores tão invertidos, que quando nos deparamos com o que deveria ser normal, ficamos extasiados. É impressionante como algumas palavras, ditas na hora certa e no lugar certo, podem fazer tanto bem. A sensação é quase física, de tão forte. Se as pessoas soubessem como uma palavra, um gesto, uma atitude aparentemente simples, podem fazer tão bem ao outro, o mundo seria bem melhor. Eu ainda acredito no ser humano. Ainda creio que podemos ser bons, se não cedermos às tentações que encontramos durante a nossa jornada por aqui. Para alguns é difícil. Seja pela criação recebida em casa, seja pela necessidade de auto afirmação, quando a pessoa não confia em si mesma, ela acaba transferindo isto para as suas atitudes diante da vida. E se torna alguém amargurado e infeliz, desejando sempre o que não tem, sem conseguir enxergar o que tem. Alimenta o seu lobo interior e despreza o poodle que também está lá, escondidinho. Acha que precisa “mostrar” uma força que não possui, tornando-se cada vez mais fraco na tentativa. Por outro lado, para outros é super fácil, porque estes se aceitam como são e, sem necessidade de auto afirmação, tudo fica natural. Foram pessoas assim que encontrei naquela manhã chuvosa e fria. Foram palavras delas que ouvi. Foi carinho delas que recebi. Gente simples, de peito aberto para a vida, gente feliz em cuja presença é impossível não ser feliz também. Como é bom conviver com gente assim! Prova de que o mundo tem jeito.

Deixar Um Comentário