
A inteligência artificial cresce a olhos vistos, e alcança a cada dia novos setores da sociedade. Embora com inegáveis vantagens, esta ferramenta, como tudo na vida, se usada para fins não positivos, pode causar também sérios danos, e infelizmente estes também estão crescendo muito.
Uma área muito atingida negativamente tem sido a área de comunicação. Hoje, com o recurso da inteligência artificial, criou-se uma nova forma de produzir textos. O que antes era uma característica humana, a capacidade de redigir, de narrar, de argumentar, agora é também uma habilidade de algoritmos, e eles fazem isto com uma velocidade e uma escala que a mente humana não consegue alcançar. O problema não está na ferramenta, mas no uso que se faz dela.
Quando a inteligência artificial é usada para gerar notícias, artigos, resumos, ou qualquer tipo de textos, a linha entre realidade e ficção se torna cada vez mais tênue. Afinal, quem está por trás daquele texto? Um jornalista, um escritor, um pesquisador, ou um conjunto de dados e um algoritmo? Qual a responsabilidade da máquina por aquilo que ela “diz”? Nenhuma. Ela não tem consciência, não tem ética, não tem senso de responsabilidade. Ela apenas reproduz padrões.
Nesta corrente tecnológica, somos nós, leitores, os mais afetados, pois fomos educados a acreditar que o que está escrito tem fundamento. A inteligência artificial produz textos de estrutura impecável, podendo até citar fontes, mas quem garante que estas fontes são reais, ou que a interpretação delas está correta? Nossa tendência é aceitarmos a informação como verdadeira, até porque ela vem muito bem embasada, o que nos torna preguiçosos para verificar se é real ou não.
Isto gera a crise de credibilidade da era digital. Não se trata apenas de fake news, o que já é um problema seríssimo em nossos dias, mas de uma nova categoria de desinformação: a que é criada por sistemas ditos inteligentes. Reproduzir informações através de um banco de dados é uma atividade fria, sem sentimentos ou vivências, e comunicação é muito mais do que isto.
O cenário está aí, então qual o nosso papel nele? Não podemos simplesmente banir a tecnologia, mas também não podemos confiar cegamente no que ela produz. Precisamos questionar, verificar, buscar a fonte original, comparar diferentes versões. A informação pode ser automática, mas nós não somos automatizados. Nós pensamos, e precisamos continuar pensando. Caso contrário, seremos apenas espectadores de um mundo onde a verdade é apenas uma questão de algoritmo.
A questão crucial para sobrevivermos nesta era automática sem nos automatizarmos é justamente usarmos o que temos de diferente das máquinas, a capacidade de pensar. A inteligência delas é artificial, a nossa é humana. Nós é que devemos usá-la e não o contrário. E que este uso seja para nosso crescimento e não embrutecimento, como infelizmente vem acontecendo em muitos casos.












