
Precisei comparecer presencialmente em uma instituição bancária, para um atendimento que não poderia ser on-line.
Quando entrei para o atendimento, havia duas pessoas a espera, um senhor idoso e uma jovem, que a princípio pensei o estivesse acompanhando.
Percebi que não era assim quando o número do chamado apareceu no placar eletrônico e o senhor caminhou, sozinho, até a mesa da atendente, enquanto a moça continuava aguardando, ao meu lado.
Não dava para ouvir o que falavam, mas a impaciência da funcionária era evidente, enquanto fazia caras e bocas, que o cliente não percebia, mas que das nossas cadeiras captávamos claramente.
A dificuldade do senhor também era perceptível, e, para quem observasse com atenção, a cena tornou-se muito desagradável, devido à fragilidade daquele senhorzinho diante do péssimo atendimento que recebia.
Após um tempo relativamente longo, ele pareceu entender o que a moça dizia, levantou-se com dificuldade e saiu caminhando em passos lentos.
A próxima a ser atendida foi a moça que estava ao meu lado, e a diferença no tratamento foi gritante. Ágil, pegando a documentação rapidamente, a funcionária chegava a sorrir durante o atendimento.
Enquanto aguardava a minha vez, “viajei” no pensamento e fiquei imaginando como eu seria tratada. Eu estava entre os dois, ainda não cheguei à idade do senhorzinho e já passei da idade da moça. Meus passos não estavam ainda tão lentos (e possivelmente o raciocínio também não), mas da mesma forma já não são, nenhum dos dois, como eram aos vinte anos. Estou naquela fase da maturidade em que ainda não enfrento preconceitos, mas já passei da juventude “valorizada” por gente sem noção que não entende que cada fase tem sua beleza e suas dificuldades.
Já me preparando para reagir contra um possível mau atendimento, fui chamada. Correu tudo bem, o meu caso era simples, rapidamente foi resolvido e a atendente não deixou nada a desejar. Agradeci e vim embora, mas em casa fico pensando no que assisti, impotente diante da situação.
Penso que aquele senhor poderia ser meu pai, ou um tio, ou um conhecido, que fosse. Penso que todos nós caminhamos para esta situação, uns com mais tempo, outros com menos. Eu, a jovem, a própria atendente, se tivermos sorte, chegaremos lá, e pensando nisso, minha indignação só cresce.
Todo tipo de preconceito é nocivo, mas o preconceito contra uma pessoa idosa, em um estabelecimento público, que estava ali tratando de assunto do seu interesse, é revoltante. Não é porque a atendente não o destratou, ou ofendeu com palavras, que foi menos preconceituosa. A expressão dela já era o próprio preconceito.
O mundo digital chegou muito rapidamente e também cresce muito rapidamente. Para uma geração que foi criada em outros padrões não é assim tão fácil adaptar-se, e, se por um lado, devemos todos procurar esta adaptação, por outro, aqueles que já cresceram nela precisam também entender as dificuldades de quem só a conheceu há pouco tempo.
Talvez a moça estivesse cansada, talvez estivesse com acúmulo de trabalho, muitas são as questões possíveis nesta história, mas nada justifica o descaso, a impaciência e as “caras e bocas”, para quem quisesse ver, demonstrando a todos o seu enfado com a situação.
Se ela se colocasse, por um momento que fosse, no lugar daquele senhor idoso, se parasse para pensar que daqui há uns anos poderá estar na mesma situação, com certeza agiria diferente. Envelhecer é uma dádiva que nem a todos é permitido. Tomara que esta pessoa que hoje desdenha das dificuldades causadas pela idade de um semelhante, possa também chegar a esta idade.












