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“Tempo de margaridões e as canções do Robertão”, leia a nova crônica do professor Hércules Tolêdo Corrêa

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Por João Paulo Silva Publicado em 10/05/2019, 18:06 - Atualizado em 04/07/2019, 23:18

Hércules Tolêdo Corrêa é professor da UFOP e apaixonado por literatura, cinema, música e mais um monte de coisas. Atenção, puristas: esse texto pode conter expressões populares e ironias!

Além dos livros e do cinema, tenho uma outra grande paixão: as plantas e, principalmente, as flores. É possível que esta seja uma herança da minha mãe. Desde a mais tenra idade, lembro de minha mãe cultivando saudades roxas (que nome mais poético), da época das palmas (de Santa Rita, outra referência bem interessante), das rosas (incluindo uma incrível rosa amarela e a mais exótica delas, a Príncipe Negro, de um vermelho tão intenso que beirava ao preto), e de tantas outras espécies que ela plantava em nosso pequeno jardim: petúnias, dálias, cravos-de-defunto, gérberas, papoulas, perpétuas, margaridas brancas…

Mas não me lembro, na minha infância, de ver essas exuberantes flores amarelas que hoje abundam na beira das estradas das Minas Gerais, em diferentes regiões do estado. A primeira vez que observei essas plantas foi na beira da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Depois, comecei a observá-las na beira das estradas. O Google me contou que elas têm propriedades medicinais (indicadas para diabetes e tratamento de dependentes químicos abstêmios), que ainda estão sendo testadas, e que também são chamadas de “mão-de-deus”, “titônia”, “margaridão-amarelo”, “girassol-mexicano” e “flor-do-Amazonas). Hoje, essas imensas plantas amarelas, meio girassóis e meio margaridas, grassam por todos os lados, principalmente no mês de maio, como o fazem as maias (nome óbvio), giestas e toucheiras em Portugal, no mesmo mês.  Em 2007, quando passei um semestre letivo na região do Minho, encantei-me pelas flores amarelas lá no Norte português. Encanto-me demais com os margaridões mexicanos e fico esperando, com ou sem paciência, a chegada deste mês, para apreciá-las. Mas agora minha apreciação tem fundo musical.

Tenho feito, neste semestre, semanalmente, o trajeto de Amarantina a Mariana, para dar aulas, sempre por volta de uma hora da tarde. Tenho também o costume de ouvir rádio enquanto dirijo, sempre, porque outra paixão da minha vida é a música. Aí descobri um programa de rádio, de apenas meia hora, que só toca Roberto Carlos. Até bem pouco tempo, morria de preguiça de Robertão. Cresci e envelheci achando que ele sempre foi muito menos do que a mídia falou dele. Que rei que nada, apenas um produto midiático. Na voz de Maria Bethânia eu gostava de ouvir as músicas dele. Mas ele mesmo, não! Há alguns anos, vi um especial na televisão em que várias mulheres cantavam Roberto. Emocionei-me. Dormi extasiado pelo especial e na manhã seguinte enviei um e-mail a alguns amigos e amigas especiais. Meu gosto havia mudado. De alguns desses amigos, recebi retorno positivo. De outros, o costumeiro silêncio: por preguiça, por discordância, por falta de tempo, por desleixo.

O que importa é que, neste momento tão difícil para nós, brasileiros pobres e remediados, e para nós, que vivemos da e para a universidade pública, tão açoitada por um governo tacanho, odioso, ressentido e elitista, encontrar formas alternativas de ser feliz, independente das notícias, fatos ou fakes, que circulam na mídia oficial e nas redes sociais digitais, é a nossa salvação. Ouvir canções que nos tocam e apreciar a beleza das flores é uma alternativa. Parodiando o poeta: “Os cavalões comendo e nós, os cavalinhos, correndo…” Os cavalões estão fazendo a festa, estão por cima da carne seca, e nós vamos ouvindo Robertão – do mesmo jeito que ocorreu na época da jovem guarda, quando os militares estavam (e hoje de novo estão!) no poder – e apreciando os margaridões, não nas curvas da estrada de Santos, mas nas curvas entre os morros das Minas Gerais, meio dizimados pelas mineradoras gananciosas que exploram nossa terra e nosso povo! #prontofalei

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