Roberto dos Santos: “Universidade Federal de Ouro Preto, os enamorados”

Leia mais um conto inédito de Roberto dos Santos no JVA.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 07/10/2024, 09:56 - Atualizado em 07/10/2024, 09:56
A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Hoje vi que o tempo e a distância não têm nada de absoluto. Cinquenta segundos podem durar uma eternidade, dois passos podem significar uma imensidão.

Esse pensamento povoava a cabeça de Enrico ao referir-se a Lara, mulher que caminhava toda noite nas dependências da Universidade Federal de Ouro Preto, localizada na cidade de mesmo nome.

Enrico saia de um posto bancário localizado dentro do campus da Universidade, quando no passeio a sua frente avistou uma linda mulher caminhando lentamente, seus passos estavam sincronizados com o gingado suave de seu corpo bonito. O nome dela era Lara.

A belíssima mulher estava concentrada na música reproduzida no seu fone branco que adornava sua cabeça, prendendo seus cabelos e dando um toque especial.

Enrico de pronto se encantou com Lara e não foi embora, imaginou que em mais alguns minutos ela passaria novamente por ali, afinal o espaço da Universidade Federal de Ouro Preto se assemelhava a uma pista de atletismo, daquelas que circundam um campo de futebol, por exemplo.

Dez minutos depois ela surgiu contornando uma rotatória e convergindo na sua direção. Ele se preparou para vê-la passar, foi o momento mais bonito do seu dia.

Cinquenta segundos foi o tempo de duração, considerando o momento em que imagem de Lara se formou nitidamente na sua retina, até o momento da passagem dela diante dele. Dois passos separavam um do outro, ela passou e continuou seu caminho deixando para trás um rastro de seu perfume inebriante.

O cheiro dela teve em Enrico um efeito avassalador, no bom sentido, e ele decidiu ficar e esperá-la mais uma vez.

Minutos depois ela surge na rotatória e de novo ele se prepara para vê-la passar. Dessa vez ela olhou na direção dele e sorriu, percebendo no seu olhar admiração e leveza. Ela não teve medo, mas também não abriu a guarda. De novo ele resolveu permanecer no local e aguardar a passagem dela. Ele esperou por uma hora e ela não passou. Enrico então fez o trajeto imaginando encontrá-la em algum lugar. Passou em frente aos prédios movimentados da UFOP na esperança de avistá-la entre os alunos no ir e vir de uma aula e outra. Alguns minutos mais tarde ele chegou de volta no ponto de partida, e nada de encontrá-la. Entristeceu-se momentaneamente, até que sua esperança se reavivou ao pensar que no dia seguinte talvez ela pudesse voltar.

E esperou ansioso pelo dia seguinte, retornou a UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) no mesmo horário do dia anterior. Escolheu o mesmo local e ficou a esperar. Por um bom tempo seu olhar ficou fixo na direção da rotatória, mas em vão foi sua espera, Lara não apareceu.

Enrico foi embora triste, com um aperto no peito, dando a perceber expressivos sintomas de amor.

No dia seguinte ele voltou a UFOP para caminhar, pois gostou do lugar. Encantou pela noite na universidade. Gostou de ver as pessoas caminhando, os “quero queros” correndo pela grama, os cães “Frida e Romeu” a descansar na porta do prédio do CEAD, onde funciona os cursos de Direito, Turismo e museologia.

Por cinco dias ininterruptos Enrico foi a UFOP, mesmo triste por não ver a mulher que o encantara, impôs-lhe essa rotina esperando que um dia os ventos soprassem a seu favor.

No sétimo dia indo a UFOP, enquanto caminhava próximo ao campo de futebol da universidade, ele se sentia triste e de olhar baixo, atormentado pela oportunidade desperdiçada de se aproximar de Lara e formar os primeiros laços com ela. Nesse momento, algo o fez parar e prestar atenção.

Um aroma envolveu suas narinas e se espalhou por todo o seu ser, despertando seus sentidos e fazendo surgir a imagem de Lara em sua mente. Enrico, então, virou-se e notou que, na curva em frente ao centro de saúde, uma mulher com as características de Lara estava se afastando. Ela havia passado perto dele, mas a tristeza que o dominava o impediu de perceber a presença da pessoa que tanto desejava encontrar.

Levantou a cabeça com calma, e em um instante teve um pensamento ágil, impulsionado pela fragrância do perfume que acabara de notar, indicando a presença de Lara nas proximidades.

Prosseguiu seguro de que ela daria a volta pelo campus, e, inevitavelmente, acabariam se cruzando em algum ponto adiante.

Quando ele estava em frente ao prédio do Departamento de Mineração conhecido pelos usuários como DEMIN, um pouco antes da entrada principal da Universidade, e antes da curva que, seguindo em frente, levava ao mirante, avistou Lara. Ele não teve dúvidas e atravessou a faixa de tráfego e se colocou na rota de encontro com ela.

Ele tinha certeza de que era Lara. Desta vez, não estaria disposto a esperar que ela desse mais uma volta. O plano era abordá-la, se apresentar e pedir autorização para acompanhá-la. E assim aconteceu, recebendo rapidamente a aprovação de Lara.

Ele caminhou três voltas pela UFOP conversando com ela, mas não conseguiu persuadi-la a ir além de uma amizade. No entanto, ela combinou de se encontrar com ele na noite seguinte. Quando novamente se encontraram, conversaram bastante enquanto caminhavam juntos. Satisfeitos com as conversações daquele dia, decidiram marcar um novo encontro para a noite seguinte.

Chegado o dia do encontro Lara decidiu se declarar para Enrico. Ele ficou surpreso, pois era ele quem tentava conquistar a confiança dela e iniciar um relacionamento. Ela esclareceu que tinha se interessado por ele, mas que ele não percebeu o sorriso que ela lhe lançou na última vez que se encontraram, como se fosse uma senha de amor. Sem receber uma resposta, ela optou por recuar.

Os sucessivos dias de caminhadas juntos, foi uma forma que ela encontrou para saber se ele estava realmente interessado, como ele compareceu pontualmente em todos os compromissos marcados, ela viu que se tratava de algo real. Por isso tomou a frente propondo-lhe um relacionamento mais sério, para além de simples caminhadas.

Enrico a princípio sentiu-se a pior pessoa do mundo entendendo que poderia ter tornado as coisas mais simples.

Daquela hora em diante fizeram um trajeto diferente juntos. Passaram pela portaria principal da UFOP de mãos dadas, e foram rumo ao centro da cidade.

Começava então novos tempos, foram viver, experimentar as maravilhas encontradas fora dos limites da Universidade, afinal Ouro Preto é uma vastidão de sonhos e era chegada a hora de vivê-los de maneira intensa.

Um Comentário

  1. Wanderléia 11/10/2024 em 10:08- Responder

    maravilhoso adorei, Ouro Preto e seus encantos e a magia do amor ❤️

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