Prosa na Janela com Roberto dos Santos, leia “Os encantos de Josephine”

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Por Roberto dos Santos Publicado em 09/04/2021, 16:14 - Atualizado em 09/04/2021, 16:14
Foto – O colunista Roberto dos Santos. Crédito – Arquivo pessoal. Siga no Google News

Eu sabia o trajeto que Josephine fazia para ir ao trabalho, passava pela Praça Barão do Rio Branco, a Praça da Prefeitura Municipal de Ouro Preto. Quando por lá passava, eu já esperava por ela, não me cansava de admira-la. Ela não morava longe da pracinha, seu trabalho também não era longe, por isso ia para o trabalho caminhando e obrigatoriamente tinha que passar por lá.

Sua simplicidade encantava, seu caminhar tinha a leveza de uma pluma, em alguns momentos o intercalar de um passo e outro parecia o planar de um beija-flor. A rua se transformava numa passarela e ela naturalmente e inconscientemente desfilava enfeitando todo o perímetro.

Josephine era uma novidade quando aparecia nas manhãs ouro-pretanas passando pela pracinha. Todas às vezes eu descobria um novo encanto nela.

Num desses dias de passagem pela praça, Josephine me flagrou no momento exato em que a olhava. Não durou mais que 30 segundos, tempo suficiente para mais uma descoberta indescritível.

O olhar era o mais lindo do mundo, podia compara-lo a um lago de águas cristalinas, dele emanavam raios invisíveis que me fizeram tremer. Como se eu estivesse hipnotizado, mergulhei nas profundezas daquele olhar infindo e me perdi num emaranhado de sensações e frenesis.

Meu cérebro me bombardeava incessantemente, pareciam choques elétricos a me tomar por inteiro. Estava fora de controle, dominado por um olhar envolvente e cortante. Foram os segundos mais mágicos já vividos.

O olhar de Josephine parecia ter mãos, eu nunca havia visto e nem sentido algo assim, eu não sabia explicar o que havia naquele olhar.

Penso que o fato de estar de máscara, medida preventiva para minimizar o risco de contágio pela covi-19, doença pandêmica que assola o mundo, tenha sido um fator que direcionou todas as atenções para o olhar. Afinal a máscara de pano escondia seu sorriso e parte do seu rosto. 

Muitas e muitas vezes eu me dirigi até a pracinha para vê-la passar, era um esforço que valia a pena. Em algumas vezes passava com os cabelos presos e o rosto parcialmente coberto pela máscara que insistia em esconder seu sorriso. Claro que a máscara era necessário, isso não se discute, mas também tinha uma vontade enorme de descobrir o sorriso de Josephine. Em outros momentos o cabelo vinha solto e balançava na cadência de seus passos e na perfeita harmonia com seu corpo meigo. O que já era lindo ficava mais lindo ainda.

E nessa constância de observações um fato novo aconteceu. Josephine apareceu na pracinha caminhando lentamente e com as mãos protegendo a boca. Segurava em cada uma das mãos mechas de seu cabelo ligeiramente alongado. Eles substituíam a máscara que ela esquecera em casa.

Parou num canto da praça fez uma ligação do seu celular e permaneceu quieta, ao realizar esse movimento de pegar o aparelho telefônico e realizar a chamada, fui premiado com uma belíssima visão, vi por completo aquele rosto bonito que a máscara escondia.

Ainda faltava o sorriso de Josephine, mas foi até bom que eu não o encontrara estampado naquele rosto bonito, não sei se suportaria. O sorriso, o olhar, aquele rosto deslumbrante, a somatória de todas essas coisas poderia ser demais para mim.

Já transcorridos alguns minutos de seu telefonema, uma jovem chegou e lhe entregou uma máscara. Após esse encontro, ela foi embora em direção a Praça Cesário Alvim conhecida pelos ouro-pretanos como praça da estação.

Depois desse dia desenvolvi uma sensibilidade capaz de dar formas ao sorriso dela, mesmo estando de máscara. Bastava lembrar-me do seu olhar, do seu jeito, mesmo sem nunca tê-la visto sorrir.

Mas tudo tem seu tempo, aguardo ansiosamente por mais essa novidade, a fartura dos seus sorrisos. Enquanto isso sigo refém da graciosidade do seu existir e de tudo que tenho da belíssima Josephine.

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