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Prosa na Janela: ‘Observador anônimo’, por Roberto dos Santos

Leia mais um conto inédito de Roberto dos Santos no JVA.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 03/06/2024, 16:40 - Atualizado em 03/06/2024, 16:40
A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Sofia era observada todos os dias por um homem encantado com seu jeito de andar, seu sorriso, seu olhar, sua simplicidade. Para ele, Sofia era a mulher mais linda do mundo. Ela sequer imaginava que sobre ela pousava um olhar repleto de fascinação, recheado de encantos e desvarios.

Como Ouro Preto é uma cidade razoavelmente pequena, não era difícil encontrá-la, ou melhor, tramar o momento ideal para vê-la. Ele decidiu investigar sua rotina diária, e todos os dias arrumava um jeito de vê-la. Somente durante os fins de semana é que ele não planejava nada, os encontros que aconteciam nesses dias eram meros caprichos do acaso.

Embora o rapaz tivesse essa intensidade, essa força estranha e voraz que o levava sempre ao encontro dela, não havia nada de anormal. O rapaz tomava todo cuidado para não ir além do que ele podia, por isso seu sucesso em vislumbrar a beleza e os encantos de Sofia aconteciam nos limites aceitáveis da convivência humana.

Ele costumava dizer para as pessoas que era um sonhador, o que ninguém entendia, já que era um rapaz tranquilo e sem excentricidades.

Ele dizia que alguns de seus sonhos nasciam pela manhã e se realizavam horas depois, ou até o fim do dia. Na verdade, ele dizia nas entrelinhas, que Sofia era seu sonho diário, e que vê-la era a realização de um sonho que nascia todas as manhãs nas profundezas da sua essência, na sua quase insondável intimidade.

Thales era o nome desse rapaz que no anonimato amava Sofia. Ela nem sonhava que dentro do coração do rapaz tivesse sentimentos tão bonitos. Não tinha a menor ideia de que era para ele, o melhor do seu amanhecer, e a noite a lua do seu céu. Quando a imagem de Sofia preenchia o campo de visão de Thales, ele parecia ter sensores potentes e a escaneava dos pés à cabeça.

A linda mulher vinha num caminhar lento e cadenciado, passos curtos tão suaves que pareciam deslizar como que a leveza de uma pluma, ninguém percebia naquele acontecimento magistral, o fascínio de tão gracioso ato. 

O olhar de Sofia tinha o poder de parar o mundo. Thales mergulhava nas profundezas daquele olhar infindo, e se perdia ante a magia contida nele.  Aquele olhar único era responsável por bagunçar aquele rapaz a ponto de abalá-lo completamente.

O sorriso e a simplicidade de Sofia eram outros encantos observados por Thales. Ela aliava simplicidade e altivez sem demonstrar ar de superioridade ou desejo de sê-lo, tinha uma conduta que demonstrava leveza, um jeito só dela, uma naturalidade encantadora. As palavras encontradas no dicionário que definiam beleza, não foram suficientes para descrever a graciosidade de Sofia, esse inexplicável existente nela, se entranhou em Thales a ponto dela se tornar o seu o sonho diário.

E assim podemos concluir que todos os sonhos valem a pena, aqueles que se realizam no mesmo dia, aqueles que precisam de tempo, ou até mesmo aqueles que nunca se realizarão. 

E Thales não perdia a compostura, tomando cuidado para não ir além de onde achava que devia.

Sofia vivia sua vida normalmente, sabia da existência de Thales, mas sequer imaginava o que estava no ar.

E Thales continuou dia a dia a contemplar a beleza de Sofia, aquela que lhe tirava o juízo.

Um Comentário

  1. Evandro Geraldo Alves Junior 03/06/2024 em 19:32- Responder

    Esse Robertinho conhece demais!! Parabéns!!

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