Prosa na Janela: Leia “Por detrás do seu olhar”, por Roberto dos Santos

Por Roberto dos Santos Publicado em 16/11/2022, 11:27 - Atualizado em 16/11/2022, 11:27

Foto – Roberto dos Santos. Crédito – Arquivo pessoal.

Um olhar desarmado, despretensioso, puro, foi o responsável por bagunçar – no bom sentido – a vida de Caleb que se rendeu aos encantos de uma belíssima mulher. Ele que passava pela Praça Tiradentes em meio às luzes de Natal prestes a acender.

Dominique caminhava sozinha pela Praça Tiradentes procurando o melhor ângulo para registrar o momento exato do acendimento das luzes. Ela era linda. Seus cabelos descansavam em seus lindos ombros. Um brinco discreto parecia abraçar suas orelhas. Seu nariz era como a cereja de um bolo. Seu andar era suave, seus passos tinham a leveza e o cuidado para não escorregar nas pedras centenárias da Praça Tiradentes em Ouro Preto. Essas coisas davam a ela um charme especial a ponto de fazê-la mais linda. Um lindo colar envolvia seu pescoço deixando sob o seu peito um pingente que aumentava a sua beleza. Sua boca tinha contornos suaves de um batom avermelhado. Era a mulher mais linda que estava na Praça Tiradentes.

Mas o melhor estava por vir. Ela já havia encontrado um bom lugar para observar e fotografar as luzes. Estava ao lado do monumento a Tiradentes, bem no centro da praça. Do seu lado passava os carros que seguiam em direção a Escola de Minas que suntuosa estava a suas costas. Estava a poucos metros da descida da Rua Claudio Manoel ou Rua do Ouvidor como queiram, a esquerda de onde ela estava.

De repente passou um carro bem devagar para não atropelar as pessoas e teve que parar ao lado dela. O ocupante do carro se chamava Caleb. Ela na mais completa inocência num ato de pura observação do espaço, olhou na direção do carro parado

perto dela. Seu olhar encontrou o de Caleb e tremeu nas bases. Mas suavemente se virou e direcionou seu olhar no rumo das luzes.

Um minuto depois ela olhou de novo e Caleb parecia paralisado dentro do carro. Uma fila de carros passava do lado dele que estático não tirava os olhos de Dominique.

Ela com seu jeitinho tímido virou de novo em direção a gigantesca árvore de Natal que não demoraria a ser iluminada.

Mas em pouco mais de um minuto olhou de novo, mas Caleb já não estava mais lá. Teve ir embora porque estava atrapalhando o trânsito que corria lento.

Ela entristeceu, e logo imaginou que aquele rapaz que conduzia o carro nunca mais seria visto. Algo de mágico havia acontecido e ela realmente se encantara com Caleb. Depois disso não tirou os olhos da árvore de Natal que majestosa era uma atração na Praça. As luzes não tardariam em acender.

Quando a Praça Tiradentes se iluminou, e os celulares filmando e fotografando a belíssima cena, ela captou em sua lente bem ao seu lado Caleb que também estava com o celular na direção dela. Os olhares de novo se cruzaram e dessa vez ficaram estáticos um filmando o outro. E as luzes de Ouro Preto ficaram em segundo. Caleb também era tímido e embora uma força o impulsionasse na direção dela, a força da timidez o fazia hesitar.

O sorriso nos lábios de Dominique não se desfazia, tinha nele a satisfação e algo que poderia ser amor.

Com o coração ardendo, de vontade de falar com a Dominique e um sentimento que dava a ele êxtase, que também poderia ser amor, Caleb caminhou rápido na direção dela, talvez a rapidez se explicasse pelo medo de desistir no trajeto até onde ela estava que embora curto, se agigantava devido à incômoda timidez.

Diante dela ele não disse nada, ela que alternava olhares para as luzes e Caleb, se virou definitivamente na direção dele.

O que seguiu foi um abraço interminável e um beijo que parecia ter o sabor de uma deliciosa e suculenta fruta.

As luzes de Ouro Preto seguiam reluzentes, Caleb e Dominique acabaram de descobrir que neles acendera uma luz muito especial.

Caleb então pronunciou as primeiras palavras dirigidas a Dominique:

—  O que há por detrás do seu olhar? Não consegui resisti a ele, tive que voltar.

E Dominique respondeu:

— Mas, eu também não resisti ao te ver.

E Caleb então disse:

—  Ouro Preto é uma cidade mágica. Acho acabamos ser envolvidos por essa força estranha aqui existente, e tive a alegria de ser agraciado com a beleza em forma de mulher... você.

Ficaram se olhando e contemplando as luzes e cores, depois foram tomar um café juntos, ato que certamente estaria na eternidade dos dois.

O que há por detrás do seu olhar?